Nada positivo

Para bancários, PL da Terceirização ameaça empregos e direitos

Trabalhadores ouvidos durante paralisação no centro de São Paulo entendem que projeto é um perigo para empregos e direitos como PLR e vales. Terceirizados do Santander não sabem o que é férias

Mauricio Morais/SPBancários

Terceirizados ganham menos e trabalham muito mais. No setor financeiro, eles chegam a ganhar 70% menos

São Paulo – “O que eles querem é restringir os direitos dos trabalhadores para ter custo menor com mão de obra. E o problema não é só no banco. Tenho projeto de fazer concurso público, mas fico me perguntando: se esse projeto passar ainda vai ter concurso público?” Com apenas 22 anos de idade e há dois trabalhando numa agência do Bradesco no centro da capital paulista, o jovem trabalhador está preocupado com seu futuro profissional, diante da ameaça do projeto de lei da terceirização, aprovado pela Câmara dos Deputados e que agora está sendo apreciado pelo Senado.

“Sou totalmente contra! As empresas vão aproveitar para terceirizar tudo. Nossos empregos e nossos direitos estão ameaçados”, diz outra trabalhadora, também do Bradesco, mas já com 27 anos de empresa.

Depoimentos como estes foram colhidos durante o protesto que hoje (29) fechou dezenas de agências nas ruas Boa Vista, 15 de Novembro, São Bento, Líbero Badaró, Barão de Itapetininga, 24 de Maio e 7 de Abril, além dos entornos da Praça da Sé, Praça da República e Vale do Anhangabaú, região conhecida como Centro Velho de São Paulo. Os bancários cruzaram os braços pelo Dia Nacional de Paralisação, que conta com adesão de outras categorias além de movimentos sociais.

“Já fui terceirizada da Caixa há uns dez anos e lembro muito bem como era: ganhava salário mínimo, não tinha tíquete, não tinha horário pra sair, e nem recebia hora extra”, conta uma trabalhadora que conseguiu voltar ao banco como concursada. “Naquela época tinha muito terceirizado no banco, como eu, que exercia a função de caixa. Foi a luta contra a terceirização que reverteu isso. Mas se o projeto passar eles voltam a terceirizar tudo de novo”, opina.

“Entrei na Caixa em 2006 e ainda convivi com alguns terceirizados. Não tenho dúvidas de que esse projeto ameaça os empregos dos bancários”, diz outra empregada do banco público.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, destacou a bancários e à população, em frente a uma agência fechada do Bradesco, que o PL da terceirização é um perigo para toda a sociedade. “Os terceirizados ganham menos e trabalham muito mais. No setor financeiro, eles chegam a ganhar 70% menos que os bancários e alguns chegam a trabalhar 14 horas por dia. Recebem tíquetes de R$ 10, alguns de R$ 4. Além disso, por conta das condições precárias de trabalho, os terceirizados adoecem muito mais.”

Com tudo isso, acrescentou Juvandia, a renda dos trabalhadores cai, cai o consumo das famílias e a arrecadação da Previdência. “Ou seja, é ruim para toda a sociedade. Se esse projeto passar no Senado, vamos fazer uma greve geral”.

Outras bandeiras

Juvandia também falou sobre as demais bandeiras do Dia Nacional de Paralisação. “Precisamos de uma reforma política que acabe com o financiamento de empresas para campanhas. Não essa reforma que o Eduardo Cunha (deputado federal, presidente da Câmara) está querendo passar”, disse, referindo-se à manobra feita pelo parlamentar peemedebista na quarta-feira 27, e que acabou por aprovar a doação de empresas a partidos. “Os deputados têm que representar seus eleitores, o povo, e não as empresas que deram dinheiro pras suas campanhas”, ressaltou.

A dirigente também destacou que os trabalhadores são favoráveis à fórmula 85/95, como alternativa ao fator previdenciário que tanto prejudica as aposentadorias. A fórmula já foi aprovada pelo Senado e agora segue para a sanção da presidenta da República. “Queremos que Dilma sancione o 85/95”, disse.

Durante as manifestações, o sindicato distribuiu Jornal do Cliente esclarecendo sobre as bandeiras do Dia Nacional de Paralisação e divulgando contatos de deputados e senadores para que todos possam protestar por seus direitos.

No Santander, terceirizado não tem férias

O funcionário Hermano (nome fictício) diz não saber o que são férias há três anos. “Sempre tive oportunidades em bancos mas, de uns tempos para cá, a situação ficou muito difícil. Como tenho experiência, comecei a trabalhar por contratos de oito, nove meses. Quando acaba, para não ficar sem nada, começo outro. Nisso já se vão mais de três anos que estou sem férias, ganhando bem menos do que quando tinha emprego fixo, e ainda pulando de um setor para outro do Santander e outras empresas. Se esse projeto da terceirização passar, acho que nunca mais terei emprego decente.”

Hermano é especializado no setor de tecnologia, mas os problemas causados pelos contratos temporários também provocam transtornos e, em muitos casos, revolta entre as pessoas que exercem outras tarefas.

Uma delas é Olívia (nome também fictício) que passou por diversas empresas terceirizadas, mas sempre no setor de apoio do Casa 3. “Eu e meus colegas já estamos na quarta terceirizada. Acaba o contrato, a gente é ‘mandado embora’ e passa para outra empresa. Nessas mudanças tem muito calote. Eu mesma estou sem receber a indenização do último emprego e estou pelejando para que me paguem. Tenho um colega guarda (vigilante) de banco que quase todo o mês a terceirizada atrasa o salário.”

João (nome fictício) trabalha em outro setor do Casa 3, fazendo os mesmos serviços dos bancários, mas diz que seu salário chega a ser a metade em relação aos deles e ainda não tem o vale-alimentação. “As pessoas têm de saber que o terceirizado é muito, mas, muito explorado. Quando pedimos aumento de salário, sempre falam que não podem dar, pois dependem do que recebem do banco”, explica o trabalhador. “Então acho muito justo o que o Sindicato está fazendo para alertar as pessoas. Quero deixar de ser terceiro e ser contratado pelo Santander. Não quero que aconteça o contrário. De os meus colegas bancários ficarem na mesma situação que eu.”

Entre os setores do Casa 3 que contam com grande número de terceirizados estão o de tecnologia, governança e homologação.

Com informações de Andréa Ponte Souza e Jair Rosa, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região

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