Manifestação

Medidas do governo não são ‘corretivas’, rebatem sindicalistas em protesto

Para centrais, propostas apresentadas pelo governo prejudicam trabalhadores e causam recessão. Dirigentes voltaram a defender taxação de grandes fortunas. Eles têm reunião com ministros no dia 3

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Ato na Paulista: centrais vão apresentar medidas alternativas que não prejudiquem trabalhador

São Paulo – As medidas anunciadas recentemente pelo governo não são “corretivas”, como disse ontem (27) a presidenta Dilma Rousseff na primeira reunião ministerial do ano, mas prejudicam os trabalhadores e podem causar recessão. Em ato unificado, em São Paulo e outras capitais, as centrais sindicais reafirmaram hoje (28) o pedido de revogação das medidas provisórias (MPs) 664 e 665 anunciadas no final do ano, que dificultam o acesso a direitos trabalhistas e previdenciários, como seguro-desemprego, auxílio-doença e abono salarial.

As seis principais centrais – CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, Nova Central –, além de movimentos sociais, levaram cerca de 5 mil trabalhadores para a Avenida Paulista nesta manhã, afirmando que não irão se sensibilizar com a flexibilização de alguns pontos das MPs. E cobram a revogação imediata do que classificam como retirada de conquistas históricas dos trabalhadores.

O secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, afirma que as medidas não são corretivas, mas recessivas. “A mudança no seguro-desemprego mexe com a renda de 9 milhões de trabalhadores. São, por exemplo, os trabalhadores da construção civil, que trabalham em um projeto de um ano e depois vão para outro, nem sempre imediatamente. É da natureza da profissão. Não somos favoráveis a desvios na Previdência, Trabalho, mas é inaceitável que o governo ajuste suas contas às custas dos mais pobres.”

Nobre lembra que a CUT, em concordância com as demais centrais, defendem medidas como taxação das grandes fortunas e do agronegócio e o imposto progressivo. Nobre também defendeu a preservação do setor produtivo. “O que nos blindou da crise econômica de 2008 foi produção interna, não o aumento do juros e endurecimento do crédito.”

Na próxima terça-feira (3), as centrais voltarão a se reunir com os ministros Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Carlos Gabas (Previdência), Manoel Dias (Trabalho e Emprego) e Nelson Barbosa (Planejamento), em mais uma tentativa de discutir alterações nas medidas. Eles já tiveram um primeiro encontro no dia 19, no escritório da Presidência da República em São Paulo.

Para o presidente da Força, Miguel Torres, a reunião terá como pauta unilateral a revogação das MPs, para que então as centrais possam conversar com o governo sobre propostas que impulsionem a economia. “No fim de 2014, após a reeleição da presidenta, nos reunimos com ela depois de três anos sem diálogo, e ela se comprometeu com a agenda do trabalhador: redução da jornada de trabalho e fim do fator previdenciário. E nos garantiu que não mexeria nos direitos trabalhistas. Queremos que ela cumpra com o acordo assumido em campanha.”

A concentração começou às 9h30 no vão livre do Masp. Os manifestantes caminharam pela Avenida Paulista, no sentido Paraíso, rumo ao escritório da Petrobras em São Paulo. Segundo o vice-presidente da CSP-Conlutas, Herbert Claros, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy – elogiado por lideranças do PSDB –, já demonstrou que não cumprirá um calendário que proteja os trabalhadores, e o governo tem tido práticas incoerentes com o discurso. “A realidade do trabalhador não é de um personagem de novela que forja uma morte para fugir da justiça. As pessoas não estão morrendo para pegar pensão. O que precisamos é de uma política que combata a alta rotatividade nos empregos, não que passe uma maquiagem nela.”

Mais otimista, Ricardo Patah,  presidente da UGT – central cujos dirigentes se dividiram em relação às candidaturas presidenciais, a exemplo de CTB e Força –, acredita que após a reunião do dia 3 o governo irá revogar as medidas provisórias, e então a sociedade poderá disputar propostas inovadoras para a recuperação da economia e a manutenção do projeto de distribuição de renda. “Nos Estados Unidos, berço do capitalismo, o presidente Barack Obama já se posicionou a favor da taxação das grandes fortunas. Nós temos de enfrentar a besta e seguir adiante num projeto de desenvolvimento sustentável, com olhar especial para a classe trabalhadora, que sofre demais com arrochos como os que estão sendo postos.”

As centrais pretendiam entregar, na sede do Ministério da Fazenda em São Paulo, uma carta endereçada à presidenta Dilma. Mas o documento ainda está em elaboração e será entregue na reunião da semana que vem.