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Sob demissões e ameaças, metroviários suspendem greve e prometem retomada na Copa

Nova assembleia será realizada na quarta-feira, véspera da abertura do Mundial. Até lá há esperança de avanço em negociação com governo Alckmin, que ameaçava novas dispensas por justa causa

Apu Gomes/Folhapress

Pela manhã houve repressão pela Tropa de Choque aos trabalhadores que protestaram na zona sul

São Paulo – Os metroviários de São Paulo decidiram hoje (9) suspender a greve iniciada na última quinta-feira sob promessa de retomada no dia 12, data de abertura da Copa do Mundo. Durante assembleia realizada na quadra do Sindicato dos Metroviários, na zona leste da capital, a categoria se dividiu entre três linhas de pensamento: fim da greve, suspensão ou manutenção.

Em uma votação tensa e dividida, marcada por vaias e xingamentos entre os defensores das três correntes, acabou-se optando pela realização de nova assembleia na próxima quarta-feira (11) para definir sobre nova paralisação na quinta-feira. A posição foi defendida por setores ligados à CUT e à CTB, que avaliam que é melhor buscar uma nova negociação com o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) antes de retomar a greve, evitando novas demissões. Líderes de centrais sindicais se encarregaram de buscar uma nova negociação com o Palácio dos Bandeirantes, que tem se mostrado irredutível desde o começo das conversas.

O primeiro dia útil após o julgamento no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região também foi o mais tenso, com repressão policial pela manhã, demissões por justa causa ao longo do dia, mais uma negociação concluída sem acordo e ameaças feitas pelo governador Geraldo Alckmin.

O argumento defendido pelo presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Junior, defendeu que a manutenção da greve após as 42 demissões por justa causa era necessária para dar uma resposta ao governo estadual e sair em defesa dos trabalhadores desligados pela companhia. “Não tem arrego”, gritavam os metroviários, como tem ocorrido nas assembleias.

“Quantos aqui não acataram a decisão do tribunal? Se é verdade que o secretário está demitindo aquelas pessoas que não cumpriram a decisão do TRT, ele teria demitido todos nós. Por que não fez? Porque se fizer uma demissão em massa o metrô não funciona”, disse Altino, durante a assembleia que deliberou pela manutenção da greve, realizada na quadra da entidade, na zona leste da capital.

A greve ocorre em uma semana crucial para a cidade, que sedia na quinta-feira a abertura do Mundial. O jogo, entre Brasil e Croácia, será realizado na Arena Corinthians (Itaquerão), na zona leste, que tem como principais meios de transporte linhas de metrô e de trem.

Ao longo do dia pairou clima de incerteza sobre a continuidade ou não da paralisação. De um lado o governo estadual passou a apostar no discurso de que o movimento se enfraqueceu após 42 demissões por justa causa relacionadas à greve. De outro, os metroviários mantiveram a ideia de que os desligamentos tornavam ainda mais improvável que a paralisação chegasse ao fim.

A segunda-feira foi pautada pela decisão proferida na véspera pelo TRT, ao declarar abusiva a greve, com determinação de aumento de 8,7% para a categoria, índice proposto pela companhia, e imposição de multa de R$ 500 mil ao sindicato no caso de descumprimento. A categoria queria 12,2% de reajuste e o atendimento de outras pautas, como isonomia no pagamento de participação nos resultados e a construção de planos de carreira para agentes de segurança.

“O governo não fará novas demissões para aqueles que voltarem ao trabalho. Na medida em que a greve foi declarada abusiva, na medida que as pessoas não voltarem a trabalhar, o Metrô não pode funcionar e as pessoas precisam ser demitidas e por justa causa. Então, aqueles que voltarem ao trabalho não serão demitidos”, afirmou o governador hoje, durante evento no Palácio dos Bandeirantes.

Ao mesmo tempo em que Alckmin dava as declarações, na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, no centro da capital, era realizada uma reunião para tentar destravar o diálogo e encerrar a greve. O encontro contou com a participação de presidentes de três centrais: Vagner Freitas (CUT), Ricardo Patah (UGT) e Miguel Torres (Força Sindical).

Para Freitas, o objetivo de Alckmin é usar os metroviários como exemplo para intimidar greves de outros servidores estaduais. “O que houve aqui é inominável. O governo aceitou a composição da mesa de negociação e depois reafirmou a decisão da Justiça do Trabalho. O governo quer o quê? Criminalizar os trabalhadores?”, questionou.

Os representantes dos metroviários chegaram ao local afirmando que o mais importante a essa altura era reverter as demissões, o que seria suficiente para dar fim à paralisação.
“Estranhei muito o governo estadual chegar aqui e ser inflexível”, disse o superintendente regional do Trabalho, Luiz Antônio de Medeiros, durante entrevista coletiva após a rodada de negociação, que se arrastou durante toda a tarde.

Medeiros, que convocou a reunião, disse que o presidente do Metrô, Luiz Pacheco, chegou a aceitar a readmissão da maioria dos demitidos nesta manhã. A conversa travou quando foi interrompida para que Pacheco e o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, consultassem o secretário da Casa Civil, Edson Aparecido. “Ficaram dialogando três horas com o Edson Aparecido e, para nossa surpresa, não houve acordo”, contou Medeiros.

Segundo Medeiros, os únicos avanços no processo foram a rediscussão do desconto dos dias parados, que serão descontados ao longo dos próximos meses, e da elaboração de um plano de carreira para os trabalhadores do setor de segurança.

Na saída da reunião, Jurandir Fernandes disse que era inadmissível a volta dos 42 trabalhadores demitidos. A diferença entre o número divulgado na manhã de hoje – de 60 demitidos – e o atual se deve a um contingente de trabalhadores que não teriam realizado atos considerados graves e, por isso, não seriam punidos. Segundo ele, 70% dos trabalhadores já voltaram ao trabalho.

Desde o começo das negociações esta tem sido a postura do governo estadual. Na última sexta-feira, na última audiência de conciliação no TRT, convocada a pedido dos metroviários, o Metrô se recusou a ceder aos apelos do desembargador Rafael Pugliese Ribeiro.

Os representantes do sindicato da categoria aceitaram um reajuste de 9,5%, rejeitado pela empresa estadual, depois também disseram estar de acordo com um aumento de 9,2%, também rechaçado pela outra parte, e por fim se comprometeram a levar para assembleia uma proposta de 9%, novamente negada pela gestão tucana.

Durante a manhã, a Tropa de Choque disparou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes que interditaram a rua Vergueiro, próximo à estação Ana Rosa, na zona sul. Os policiais bloquearam a entrada da estação e detiveram 13 metroviários, que foram encaminhados para o 26º Distrito Policial, no Sacomã, e liberados por volta das 14h.

Na sexta-feira, a direção da Companhia do Metropolitano (Metrô) acionou a Polícia Militar para reprimir pelo menos 100 trabalhadores que organizavam piquete também na estação Ana Rosa. Às 6h30, a Tropa de Choque ocupou o mezanino, reprimindo os grevistas, com o uso de bombas, gás lacrimogêneo e cassetetes. Três policiais do Grupo de Operações Especiais (GOE) prenderam um metroviário.

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