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Metroviários de São Paulo desistem de greve na abertura da Copa

Governo estadual recusou-se novamente a negociar readmissão de 42 trabalhadores cortados durante greve suspensa na segunda-feira. Sindicato diz que continuará em campanha pela reintegração

SEBASTIÃO MOREIRA/EFE

A greve deste mês, com duração de cinco dias, foi a segunda maior da história do Metrô da capital

São Paulo – Os metroviários de São Paulo decidiram hoje (11) encerrar a greve que havia sido suspensa na última segunda-feira (9), após cinco dias. Em assembleia realizada na quadra do sindicato da categoria, no Tatuapé, zona leste da cidade, os trabalhadores afirmaram que continuarão lutando pela readmissão de 42 funcionários pela Companhia do Metropolitano (Metrô), dispensados após a suspensão do movimento. Com isso, os serviços deverão funcionar normalmente amanhã, no dia de abertura da Copa do Mundo. São Paulo sedia a partida inaugural, entre Brasil e Croácia, às 17h, na Arena Corinthians (Itaquerão), localizada em uma área que tem o metrô como um dos principais meios de transporte.

“Temos orgulho dos cinco dias que fizemos. Mas temos de reconhecer a realidade da categoria”, afirmou o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Junior. Ele anunciou que a entidade continuará lutando pela readmissão dos trabalhadores, que deverão contar também com ajuda financeira – eles foram chamados de “heróis” pelo dirigente. “Aqui não tem vândalo. O único vândalo é o governador Geraldo Alckmin.”

A suspensão da greve e a organização de novos atos, inclusive utilizando coletes com a reivindicação do movimento em mais de uma língua, foi aprovada pela maioria dos 1.500 trabalhadores que compareceram à assembleia.

Os trabalhadores vão organizar esquemas de arrecadação de verbas para ajudar financeiramente os demitidos. “Vamos pedir ajuda às centrais sindicais, aos movimentos sociais e mesmo à população para ajudar os companheiros demitidos”, afirmou Altino.

Amanhã (12), os trabalhadores realizarão ato reivindicando a readmissão, saindo as 10h da sede do sindicato. Altino ressaltou que não pretende causar problemas à abertura do mundial de futebol e não deu detalhes do trajeto.

Outras ações

O superintendente Regional do Trabalho em São Paulo, Luiz Antonio de Medeiros, presente na assembleia dos metroviários, disse que fiscais do Trabalho estão verificando denúncias de ilegalidades trabalhistas no Metrô paulista.

Ele também informou ter autuado o Metrô por prática antissindical, por ter demitido os trabalhadores grevistas. “O Metrô desrespeitou as leis brasileiras e internacionais sobre direito de greve. Os fiscais constataram que as demissões se deram por prática sindical e não por supostos atos violentos”, afirmou. Ainda não há definição sobre o valor das multas.

Para Medeiros, a decisão dos metroviários foi “de bom senso” e ele se prontificou a auxiliar a categoria no que for necessário.

À tarde, representantes da categoria estiveram no Ministério Público do Trabalho (MPT) na tentativa de buscar uma solução jurídica para as demissões. Porém, mais uma vez os representantes do governo estadual não demonstraram disposição em ceder.

Edna Silva Santos, gerente de Recursos Humanos do Metrô, e Evandro dos Santos Rocha, advogado da companhia, deixaram o local sem falar com a imprensa. A procuradora do Trabalho Eliane Lucina avaliou que, neste caso, o MPT não pode ter uma atuação direta para reverter as demissões, trabalhando apenas para tentar mediar uma saída. Ela disse ainda que houve compromisso de levar à empresa uma proposta de que as demissões sejam discutidas caso a caso, com apresentação de provas das faltas graves que, na versão da companhia, motivaram a atitude.

Dos dispensados, 11 são diretores da atual gestão, três são ex-diretores, dois são representantes da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro), incluindo seu presidente, Paulo Pasin, e os outros 26 são delegados sindicais. Em todos os casos foram usados o artigo 482 da CLT, que em um subitem prevê justa causa por “incontinência de conduta ou mau procedimento”, e o artigo 262 do Código Penal, que diz respeito a criar impedimentos para o deslocamento das pessoas.

No último domingo, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região declarou abusiva a greve por considerar que os metroviários descumpriram liminar que obrigava à prestação de 100% do serviço nos horários de pico e de 70% nos demais. Com isso, o TRT determinou o desconto dos dias parados, não garantiu estabilidade aos grevistas e fixou multa de R$ 500 mil por dia de manutenção da paralisação, além de aceitar a aplicação de 8,7% de reajuste, proposta final do Metrô.

Ainda assim, durante assembleia realizada no mesmo dia a categoria decidiu manter a greve, que entrou na segunda-feira sob repressão da Polícia Militar, durante tentativa de piquete próximo à estação Ana Rosa, na Vila Mariana, zona sul, e demissões de trabalhadores envolvidos no movimento. Na tarde daquele dia, o governador Geraldo Alckmin ameaçou com novas demissões caso a greve fosse mantida. “O governo não fará novas demissões para aqueles que voltarem ao trabalho. À medida que a greve foi declarada abusiva, que as pessoas não voltarem a trabalhar, o Metrô não pode funcionar e as pessoas precisam ser demitidas e por justa causa. Então, aqueles que voltarem ao trabalho não serão demitidos.”