Turbulência

Motoristas de São Paulo: sindicato tem histórico de filiações, desfiliações e conflitos

Relação com administrações municipais sempre foi conturbada, e eleições têm violência como característica

Niels Andreas/Folhapress

Toré durante assembleia que definiu greve em 1995: disputas internas são antigas e violentas

São Paulo – O Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo, que em 2013 completou 80 anos, é atualmente ligado à UGT, mas tem no seu histórico recente filiações à CUT, à Força Sindical e à Nova Central. A vinculação sindical não altera tanto a prática política da entidade, marcada por desavenças internas que, não raro, resultam em paralisações. O grupo que venceu as eleições em 2013, por exemplo, e hoje critica a atuação de dissidentes foi o mesmo que no ano passado, antes do processo eleitoral, paralisou parte dos terminais da cidade.

E não são apenas desavenças internas. Em várias ocasiões, as greves no transporte coletivo configuraram confronto direto com a administração. Ficaram na memória paralisações como a de 1992, que durou nove dias, em maio de 1992. Os motoristas chegaram a cercar, com ônibus, o Palácio das Indústrias, no parque Dom Pedro II, que era sede da prefeitura na gestão de Marta Suplicy (2001-2004), que, por precaução, durante certo período chegou a trabalhar de colete.

Mais de uma vez, sindicalistas chamaram a atenção para o poder que tinham – de fato – de parar a cidade. Um poder que não se restringe ao sindicato, mas está também nas garagens. Prefeitos também enfrentaram dificuldades no trato com representantes de empresários e de trabalhadores, seja em época de municipalização (como durante a gestão de Luiza Erundina, de 1989 a 1992) ou em fase de privatização e desregulamentação (Paulo Maluf, 1993-1996). Acusações de locaute e enriquecimento ilícito ocorreram em mais de uma ocasião. Sempre foram negadas. O sistema de concessão de linhas alimentou disputas.

No plano sindical, cada eleição costuma ser sinônimo de tensão e violência. Há mortes até hoje sob investigação. A disputa do ano passado, por exemplo, foi adiada por causa de tiroteios. Foi realizada dois meses depois da data original, após interferência do Ministério Público. A chapa de oposição, vitoriosa, tinha gente saída da própria direção do sindicato, entre eles o atual presidente, Valdevan Noventa, ex-vereador por Taboão da Serra e ex-candidato a deputado federal pelo PDT, e o tesoureiro, Edivaldo Santiago, ex-petista e líder dos motoristas desde o final dos anos 1980, que mais de uma vez apoiou diretorias e rompeu alianças.

Valdevan e Edivaldo romperam com o então presidente, Isao Hosogi, o Jorginho, que era candidato à reeleição. A chapa da situação, com Jorginho à frente, teve apoio de quatro centrais: CUT, Força Sindical, CTB e Nova Central. Teria uma torcida velada da prefeitura. Mas perdeu para a chapa de Valdevan, que foi apoiada pela UGT. Entre a bancada de vereadores paulistanos eleita em 2012, estava, com 29 mil votos, Vavá do Transporte (Valdemar Silva, do PT), oriundo dos Sindicato dos Motoristas.

Edivaldo já presidiu o sindicato em quatro ocasiões, inicialmente em uma direção da CUT. Em 1994, ele apoiou Luiz Gonçalves, o Luizinho, hoje na direção estadual da Nova Central, mas perdeu para José Alves do Couto Filho, o Toré, então na CUT e hoje também na Nova Central. Em 1997, houve nova divisão: Gregório Poço, atual suplente de vereador pelo PCdoB, venceu – com apoio de Edivaldo e de Luizinho. Três anos depois, Edivaldo voltou ao comando da entidade.

Em 2003, foi a vez de Luizinho vencer a eleição (também com apoio de Edivaldo), numa disputa com três chapas (Força Sindical, CUT e CGT), com a apuração dos votos realizada no quartel da Rota, por motivos de segurança – no ano seguinte, Luizinho foi substituído por Jorginho, que venceria em 2008.