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Resolução da greve de motoristas depende de decisão da Justiça do Trabalho

Prefeitura, trabalhadores, sindicato e Ministério do Trabalho decidem manter trégua até que o Tribunal Regional do Trabalho se posicione sobre a exigência mínima de ônibus nas ruas

Marcelo D’sants/Frame/Folhapress

Motoristas têm se articulado por telefone, conseguindo estender a paralisação para toda a cidade em minutos

São Paulo – Está nas mãos do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região a definição sobre o futuro da greve de motoristas e cobradores de ônibus iniciada na terça-feira (20). O tribunal julga, às 13h45 de hoje (22),o pedido do sindicato patronal para que a greve seja declarada ilegal. Tanto trabalhadores como a prefeitura de São Paulo, o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotoristas), além do superintendente Regional do Trabalho e Emprego, Luiz Antônio de Medeiros, aguardam a decisão para se posicionar.

A tentativa de audiência com o prefeito Fernando Haddad (PT), anunciada por Medeiros na noite de ontem (21), fracassou antes mesmo de começar. Tanto que o superintendente sequer compareceu à frente da sede do executivo municipal, no viaduto do Chá, centro da capital, para encontrar um grupo de 30 trabalhadores que foi ao local. O prefeito tinha agenda pela manhã em hotel na região do Brooklin, zona sul da cidade, em um fórum sobre desenvolvimento urbano.

O não comparecimento ocorreu porque Medeiros já havia sido informado de que Haddad não se apresentaria antes da decisão judicial desta tarde. Por isso, permaneceu na sede da superintendência com outro grupo de trabalhadores e representantes do Sindmotoristas, o que irritou os trabalhadores que estavam na sede do governo. “Estamos sozinhos como estávamos desde o começo das mobilizações. Nós cumprimos a nossa parte, tem ônibus na rua, mas o Medeiros nos deixou na mão”, criticou Paulo Martins Souza, o Maloca.

Dois diretores do sindicato tentaram dialogar com os trabalhadores para fazer uma mobilização conjunta, mas foram rechaçados pelos trabalhadores. “Tenho quase 20 anos de filiação e me orgulho muito. Mas o que vocês fizeram foi errado e agora somos nós, os trabalhadores, que vamos nos organizar e decidir o que fazer”, disse Maloca. Os trabalhadores continuam questionando o acordo firmado entre o sindicato dos motoristas e o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), que definiu o reajuste salarial de 10%, participação nos lucros (PL) de R$ 850,00 e Vale Refeição (VR) de R$ 16,50. Os trabalhadores querem 13% de reajuste, PL de R$ 1.500,00 e VR de R$ 19,00.

“Não foram os trabalhadores que aceitaram isso. Foi uma manobra acordada entre empresários e sindicatos”, disse um operador identificado como Alemão, complementando que a categoria tem aproximadamente 54 mil profissionais e 4 mil é um número irrisório. Segundo Alemão, embora só houvessem três empresas representadas no local, “alguns telefonemas são suficientes para garantir uma paralisação total da cidade”.

Para os trabalhadores, já é hora de o prefeito se posicionar sobre o caso. “Essa bomba vai estourar no colo do Haddad. Os trabalhadores cansaram de descaso, cansaram de ser pressionados pelo empresários de um lado e pelo governo do outro”, disse Maloca. A prfeitura, porém, não pode interferir em negociações salariais. “A prefeitura somente gere o sistema. A questão da negociação é uma relação privada, entre sindicato patronal e de empregados. É uma concessão, não compete à prefeitura. Estamos fazendo a nossa parte”, afirmou o secretário de Transportes, Jilmar Tatto.

Entre os trabalhadores, já é visível o cansaço e a falta de consenso sobre os rumos da mobilização. Com a tentativa de audiência marcada para as 10h, motoristas e cobradores das viações Santa Brígida, Gato Preto e Sambaíba não conseguiam definir a atitude a tomar frente a negativa da prefeitura em recebê-los. Uma parte quer reiniciar a greve imediatamente. Outro grupo preferia ir para a Superintendência Regional do Trabalho. Outros queriam aguardar em frente à prefeitura, até a decisão do TRT. Foram 30 minutos de idas e vindas até que os trabalhadores resolvessem se dirigir ao TRT, na Rua Martins Fontes, no bairro da Consolação.

Na manhã de hoje, somente os trabalhadores da viação Santa Brígida mantiveram a paralisação, contrariando a decisão judicial de ontem, que ordenou a manutenção de 70% da frota em operação.. Com isso, o terminal Pirituba permaneceu fechado pela manhã. No entanto, por volta das 10h, o número mínimo do efetivo deixou as garagens da empresa, mesma situação da viação Gato Preto. No fim da tarde, Haddad recebe a desembargadora Maria Doralice Novaes, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. O mesmo tribunal promulgou decisão liminar em favor das empresas, garantindo o funcionamento de 75% das linhas de ônibus da cidade. A determinação veio da desembargadora Rilma Hemetério.