Nova direção

Centrais convocam manifestações e marcha para ‘organizar’ pauta que vem das ruas

Sindicalistas marcam atividades para 11 de julho, e voltarão a Brasília em agosto. Pauta inclui fator previdenciário, redução das jornadas, reajuste para aposentadorias e reforma agrária

UGT/Flickr

“O descontentamento tem de resultar numa pauta organizativa”,disse o presidente da CUT (centro)

São Paulo – As centrais sindicais, que se reunirão amanhã (26) com a presidenta Dilma Rousseff, decidiram realizar no próximo dia 11 uma série de manifestações pelo país, tentando unificar reivindicações e na sequência dos atos de protesto realizados nas últimas semanas. Reunidos hoje, em São Paulo, os sindicalistas avaliaram que a pauta “das ruas” é basicamente a mesma do movimento sindical, mas precisa ser “organizada” para que dê resultados. Os dirigentes programam também uma nova marcha a ser realizada em Brasília, a exemplo do que foi feito em 6 de março, quando foram recebidos por Dilma – mas sem que as propostas fossem encaminhadas pelo governo, avaliam.

Às cinco centrais reconhecidas formalmente, agregaram-se mais três, que também irão à reunião de amanhã, às 9h30, no Palácio do Planalto, além de representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para acomodar todos os grupos na pauta, foram evitados temas que não têm consenso entre as entidades, como a inflação. A pauta do dia 11 inclui temas já conhecidos, como fim do fator previdenciário, redução da jornada para 40 horas semanais, reajuste para as aposentadorias, reforma agrária e contra o Projeto de Lei 4.330, sobre terceirização. A essa pauta “clássica”, já discutida pelas centrais desde 2010, foram incluídos temas como melhoria do transporte público, assunto recorrente das manifestações, e também contra os leilões de petróleo. Foi acrescido um item em defesa das “liberdades democráticas”, justificado pela análise de que os movimentos, sem comando, correm o risco de ser controlados por setores conservadores.

“Ao mesmo tempo em que louvamos a participação da juventude, se percebe que parte da pauta é desconectada. O sentimento de descontentamento tem de resultar numa pauta organizativa”, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas. “Nosso debate agora não é burocrático. As pessoas querem ser ouvidas, a democracia tem de ser participativa”, acrescenta, justificando o cuidado com o encaminhamento da pauta daqui em diante: olhar progressista ou mais conservador? “O importante é que as pessoas tomem gosto por ir às ruas. Cabe a nós organizar a pauta para que ela tenha um viés progressista.”

O presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), não concorda com quem diz que as centrais foram “atropeladas” com as manifestações das últimas semanas. Cita a assembleia conjunta de 2010 no estádio do Pacaembu, em São Paulo, a marcha do último 6 de março e as atividades do Dia do Trabalho. Mas também vê a necessidade de se posicionar para que os protestos não caiam no vazio. “Se a gente não tomar cuidado com essa desorganização, não leva a nada.”

Ou leva a caminhos perigosos, analisa o presidente do PSTU, José Maria da Silva, líder da CSP-Conlutas. “É um movimento que não tem direção e a direita tende a se aproveitar. A classe trabalhadora deve assumir a cabeça desse movimento”, defende, citando o fato inusitado de uma greve geral ter sido convocada pelas redes sociais. “Facebook não convoca greve geral. O trabalhador se reúne e decide.”

Mas o ineditismo do uso da internet como convocador de atos chama a atenção dos dirigentes, acostumados a outras modalidades de mobilização. Alguns chegaram a relatar experiências pessoais, com seus filhos, para dar ideia da nova experiência.

“Toda a estrutura formal do Brasil foi abalada”, afirma o presidente da UGT, anfitriã do encontro de hoje, Ricardo Patah. “O Movimento Passe Livre já fez manifestações no governo passado, mas não teve essa capacidade de encantar a sociedade”, comenta. Para ele, a realização da Copa das Confederações no mesmo período, com a presença da imprensa internacional, ajudou a potencializar o movimento.

A exemplo dos dirigentes de outras centrais, Patah ressalta que todas as “bandeiras” das manifestações são as mesmas do movimento sindical. “Nunca deixamos de pleitear concomitantemente recursos para educação, saúde e questões sociais”, diz. “Nós estamos na rua há muito tempo, só que as nossas manifestações não têm a mesma cobertura”, acrescenta Paulinho.

“Se o governo tivesse levado a sério a plataforma dos trabalhadores (apresentada em 2010), provavelmente a história do Brasil seria outra”, afirma o secretário-geral da CTB, Pascoal Carneiro. Ele também chama a atenção para os interesses envolvidos na sequência das manifestações. “Tem canal (de televisão) querendo conduzir o povo de helicóptero.”

Logo no início, a reunião das centrais exibiu divergências entre as duas maiores. O presidente da Força disse, por exemplo, que “o grande problema” neste momento é a inflação, “que está descontrolado, principalmente para os mais pobres”. Também considerou a proposta de plebiscito, feita pela presidente Dilma Rousseff, de tentativa “de dividir a culpa” com todos os setores. “Se quiser fazer reforma política, manda para o Congresso. Plebiscito é bonito, mas é jogar para a plateia.” Mais tarde, falando com a imprensa, Paulinho chamou a proposta de “ovni (objeto voador não identificado)”.

Na intervenção seguinte, o presidente da CUT disse que o importante era “auxiliar nas propostas de quem estava na rua”, sem “disputar agendinha ou pautinha”. E acrescentou: “Nas ruas não apareceu a inflação. O discurso do descontrole inflacionário é rentista, interessa aos grandes bancos”. Freitas também considerou importante a proposta de plebiscito, por  fazer com que a sociedade seja ouvida. “A possibilidade de reforma política com esse Congresso é quase zero.” Para o dirigente, o que está se discutindo agora “é que o Estado não cumpre o seu papel”.

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