Crise na segurança

Policiais civis de São Paulo ameaçam entrar em greve por aumento salarial

Um dia depois de anunciar um pacote para tentar conter o aumento da violência, Alckmin pode enfrentar paralisação de delegados e investigadores

Marcelo Camargo/ABr

Para sindicato, a melhor maneira de combater a violência é melhorar as condições de trabalho dos policiais

São Paulo – Após lançar, mas não detalhar, um plano de incentivos ao aparato policial para conter o aumento da violência no Estado de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) poderá enfrentar uma greve na Polícia Civil. Segundo a presidenta da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp), Marilda Pinheiro, a fase de conversas com representantes do governo e da Secretaria de Segurança Pública já passou.

“Nós estamos conversando há muito tempo. Agora queremos uma contraproposta às nossas reivindicações. Estamos em assembleia permanente e os delegados podem decidir pela greve a qualquer momento”, afirmou ela hoje (22) durante ato no Largo São Francisco, na região central, onde fica a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e também a sede da Secretaria de Segurança Pública.

O presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia Civil do Estado de São Paulo, João Batista Rebouças, também afirma que a disposição para a greve é grande. “O pacote do governador é ridículo. Nós não queremos bônus, queremos que ele cumpra a legislação e pague o nível superior para os investigadores, que equivale a 70% do salário inicial de um delegado, que contrate mais profissionais e equipe as polícias técnicas e científicas já, e não prometa fazer concurso no ano que vem”, disse Rebouças. Segundo ele, os investigadores vão decidir no dia 11, em assembleia no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

De acordo com a presidente da Adpesp, os delegados que atuam em São Paulo reivindicam 100% de aumento no salário inicial da carreira: de R$ 7,2 mil (segundo a Adpesp) para R$ 14 mil, equiparando com o que paga a Polícia Federal. Eles também pedem contratação de novos delegados e criação de cargos administrativos para evitar que investigadores e escrivães assumam funções de almoxarifado, por exemplo.

“O delegado de polícia em São Paulo recebe o 26º salário mais baixo na comparação com os outros estados, só ficamos na frente de Minas Gerais. A cada dez dias, pelo menos um delegado que trabalha em São Paulo deixa o cargo para ir trabalhar em outro estado por causa do salário”, afirma.

Inutilidade

Segundo Marilda, as medidas anunciadas ontem pelo governador não resolvem problemas de falta de infraestrutura e de condições de trabalho para a Polícia Civil.

“É um pacote de inutilidades”, afirma. Para ela, a melhor maneira de combater a violência é melhorar as condições de trabalho dos policiais, contratar mais profissionais e equipar as polícias técnicas e científicas”, disse.

De acordo com a presidente da Adpesp, desde 16 outubro de 1998, quando policiais civis fizeram uma greve que culminou em um confronto na rua com a Polícia Militar, nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, o governo estaria privilegiando a PM.

“Desde aquela época, o governo tem privilegiado a Polícia Militar e deixado de lado a Polícia Civil”, afirma. Os delegados também reivindicam a indicação de um policial para assumir a Secretaria de Segurança Pública. Delegados da Adpesp estão em vigília no Largo de São Francisco desde as 10h.

Investigadores

Os investigadores de polícia do Estado também reivindicam recomposição salarial, pagamento de salário de categoria de nível superior para os investigadores e reestruturação das carreiras. Segundo o presidente do sindicato, o governo não responde os ofícios encaminhados pelo entidade nem recebe representantes dos trabalhadores para discutir as reivindicações.

“O governo parece que está pagando para ver e nós não aguentamos mais o descaso dele, então ele vai ver”, afirma Rebouças. De acordo com ele, no dia 16 haverá uma manifestação próximo ao Palácio dos Bandeirantes para lembrar a data do confronto entre as polícias Civil e Militar. o sindicato, caso não haja negociação com o governo, a categoria pode decretar greve a partir do dia 20.

No plano lançado ontem, o governo prevê a realização de concurso público para contratar 129 delegados, 1.384 investigadores, 1.075 escrivães, 217 agentes policiais, 1.865 cargos administrativos para o Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal(IML). A Secretaria de Segurança Pública foi procurada para comentar sobre as reivindicações dos delegados e dos investigadores e sobre a ameaça de greve, mas não retornou à solicitação.

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