Químicos de S. Paulo celebram 30 anos de redemocratização e retomada de sindicato

Sindicato dos Químicos e Plásticos sofreu intervenção após o golpe de 1964 e teve sua diretoria cassada pela ditadura

Pipoka, do sindicato: a defesa dos trabalhadores se dá também nas lutas sociais e políticas por uma nova hegemonia (Foto: Eduardo Oliveira/Sindicato dos Químicos)

São Paulo – O Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo lançou hoje (26) uma edição da revista Alquimia comemorativa dos 30 anos da retomada do sindicato por uma diretoria autônoma depois de mais de duas décadas sob intervenção da ditadura.

Após o golpe que depôs o presidente João Goulart e instaurou a ditadura, cerca de 400 sindicatos sofreram intervenção e tiveram suas diretorias cassadas. Em muitos casos, como no Sindicato do Químicos, dirigentes foram presos, torturados, assassinados e seus restos mortais continuam desaparecidos. A entidade só foi reconquistada pelos trabalhadores por meio de eleições livres em 1982. 

O papel do sindicato na redemocratização do país, na criação da CUT, na resistência ao período de crise dos anos neoliberais, entre o final da década de 1980 e o início deste século, será celebrado também pelos 30 anos de lançamento do Sindiluta, jornal informativo da categoria editado desde a retomada do sindicato.

AlquimiaHistória
A edição comemorativa destaca momentos distintos da história da luta dos trabalhadores e do país. A entidade, fundada em 1933, completou 80 anos em janeiro. Dois anos depois da retomada do Sindicato dos Químicos viria a reconquista dos Plásticos, em 1985. As duas entidades se uniram em 1994, passando a representar a segunda maior força industrial da capital – reunindo profissionais do ramo químicos farmacêutico, de cosméticos e plásticos.

O diretor Osvaldo Bezerra, o Pipoka, de 56 anos, assinala que a reconquista da entidade veio ao encontro de um momento importante da história do país, em que o movimento sindical se recriava e influenciava diretamente na reconstrução da democracia. “Junto com metalúrgicos, bancários, professores, trabalhadores rurais e outras categorias que se reorganizavam participamos do fim da ditadura e da construção da CUT, fatos que teriam impactos diretos na vida das pessoas”, diz. 

“Com essa evolução, conseguimos ampliar as conquistas sociais, resistir aos ataques do modelo econômico neoliberal durante os anos 1990 e preparar os país para uma nova era a partir deste século”, avalia o dirigente. Ele lembra que sua categoria chegou a reunir 120 mil trabalhadores em 1994 e entrou nos anos 2000 com metade desse contingente. “O início da era Lula, em 2003, coincidiu com uma retomada econômica. Houve uma reação dos empregos e hoje estamos próximos dos 100 trabalhadores na base.”

Pipoka relembra ainda que o sindicato chegou a editar regularmente, a duras penas, a revista Alquimia, durante um curto período em meados dos anos 1990. Alquimia, Ligação (dos metalúrgicos do ABC) e a Revista dos Bancários, comenta o sindicalista, foram exemplos de publicações destinadas a levar informação às famílias dos trabalhadores, muito além das questões trabalhistas, e inspiraram a criação da Revista do Brasil, em 2006, e da Rede Brasil Atual.

“Estivemos entre os 19 sindicatos pioneiros neste projeto de comunicação. Isso faz parte de uma visão de sindicalismo que nos leva a atuar para além do interior das fábricas. Os sindicatos foram importantes na construção desse novo Brasil que conquistamos, mas há ainda um longo caminho a percorrer na disputa pela hegemonia. Essa batalha se dá dentro dos locais de trabalho, mas também nos demais movimentos da sociedade, no campo da comunicação e na luta política”, define Pipoka.