Campanha propõe ‘Morreu, parou!’ na indústria da construção

Para marcar o 28 de abril, dia Mundial em Memória das Vítimas de Doenças e Acidentes do Trabalho, confederação internacional propõe protestos em todo o país e paralisação imediata se houver morte de trabalhador

Segundo o sindicato global da categoria, o setor registra o triplo de mortes dos demais (Foto: ICM/Divulgação)

São Paulo – Para marcar este 28 de abril (domingo), quando celebra-se o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Doenças e Acidentes do Trabalho, a Confederação Internacional dos Trabalhadores da Construção e Madeira (ICM), sindicato global da categoria, lançou a campanha “O trabalho sindicalizado é mais seguro: uma morte, uma paralisação”. A iniciativa foi deflagrada no Brasil depois de duas mortes ocorridas nos estádios Arena da Amazônia, em 28 de março, e Arena Palestra (estádio do Palmeiras, antigo Palestra Itália), em São Paulo, no último dia 15.

A campanha, também chamada de “O dia em que a segurança falhou” prevê algumas manifestações nos canteiros de obras, entre elas, o acendimento de velas, exposição de botas e capacetes usados e a realização de minutos de silêncio. A ideia é lembrar das mortes e reafirmar o compromisso de luta da categoria. É “Morreu, parou!”, defende o representante regional do ICM, Nilton Freitas.

Os últimos dados disponíveis no Ministério da Previdência Social mostram que entre 2009 e 2011 aconteceram 172 mil acidentes na indústria da construção, provocando 1.334 mortes. Segundo a ICM, a cada trabalhador que morre em outros setores, morrem três na construção. Os números estão defasados, distantes da nova realidade, retratada pelo aumento dos investimentos em obras de infraestrutura e de moradia, segundo Freitas. “Quanto mais obras mais acidentes”, lamenta o dirigente. “A situação na América Latina é similar”, acrescenta. “Mais desenvolvimento e menor proteção ao trabalhador.” 

Para o dirigente, na ausência de informações mais atuais, o que conta é a percepção dos fatos. Ele destaca que na construção o maior risco está na movimentação de materiais e no transporte de cargas. 

Freitas afirma que as entidades representantes dos trabalhadores, sejam sindicatos, federações ou confederações, devem investir na cultura de resposta sindical. “Capacitar, fazer seminários, palestras, é obrigação das empresas. O sindicato deve mobilizar os trabalhadores”, defende. “Vamos fazer menos seminários e mais protestos”, propõe. 

Negociação

Desde março de 2012, os representantes dos trabalhadores da indústria da construção civil participam de uma mesa permanente de negociação com o governo federal, tendo como interlocutor o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Uma das conquistas resultantes dessas conversas é a participação sindical na discussão da segurança dos trabalhadores na fase de projeto das obras. “Isso é bastante inovador”, admite Freitas.

Ele também julga importante a discussão sobre o fim das “gatas”, empresas que traficam trabalhadores com promessas falsas. No entanto, lamenta que ainda não esteja em discussão a organização no local de trabalho.

ICM

A ICM está presente em 132 países e possui 350 entidades filiadas, entre sindicatos, federações e confederações. Representa 12 milhões de trabalhadores da indústria da construção civil, pesada, de florestas, de madeira, de mobiliário e de pavimentação. No Brasil, tem filiados sindicatos da CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT, totalizando 4,4 milhões de trabalhadores.