Economia fraca faz OIT prever 200 milhões de desempregados no mundo em 2013

Desde 2007, ano anterior à crise financeira, serão 33 milhões a mais. Número deverá continuar crescendo pelo menos até 2017. Entidade critica 'políticas inadequadas' de combate à crise e manifesta preocupação especial com os jovens

Dos 197 milhões de desempregados no mundo, 58% são homens (Foto: Jorge Araújo/ Arquivo Folhapress)

São Paulo – Com atividade econômica menos intensa, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) avalia que o mercado de trabalho seguirá se deteriorando neste ano, superando a marca de 200 milhões de desempregados. Serão 5 milhões a mais em relação a 2012 e 33 milhões a mais desde 2007, ano anterior ao início da crise financeira mundial. Em relatório divulgado hoje (21), a OIT afirma que a economia mundial perdeu força em 2012 e o desemprego voltou a crescer, após dois anos em queda. O número de trabalhadores pobres continua diminuindo, mas em ritmo menor.

De 2011 a 2012, o número estimado de desempregados cresceu em 4,2 milhões, atingindo 197,3 milhões, com uma taxa média de desemprego de 5,9%. A entidade acredita que essas taxas se manterão em torno de 6% pelo menos até 2017. De 2007 a 2012, houve acréscimo de 28,4 milhões de desempregados. Para este ano, a previsão é de que esse número chegue a 202,5 milhões, atingindo 210,6 milhões em 2017.

Na avaliação da OIT, a recuperação prevista para os próximos anos não será suficiente para recuperar o mercado de trabalho. Depois de crescer 3,8% em 2011 e 3,3% em 2012 (ante 5,1% em 2010), a economia mundial deverá crescer gradualmente nos próximos anos, chegando a 3,6% neste ano até atingir 4,6% em 2017. Nas economias desenvolvidas, a taxa, pelas estimativas, deve passar de 1,4% em 2013 para 2,5% daqui a quatro anos, enquanto na América Latina e no Caribe ficará estável, de 3,9% para 4%.

Dos 197,3 milhões de desempregados em 2012, 58% são homens e 42%, mulheres. Pouco mais de 20% (43,9 milhões) estão concentrados em economias desenvolvidas e países da União Europeia, o que teve consequências negativas nas demais regiões. Em torno de 19 milhões desempregados, quase 10% do total mundial, estão na América Latina e no Caribe. O diretor-geral da OIT, Guy Ryder, criticou o que chamou de “políticas inadequadas” de combate à crise.

“A incerteza em torno das perspectivas econômicas e as políticas inadequadas que foram implementadas para lidar com isso debilitaram a demanda agregada, freando os investimentos e as contratações”, afirmou. “Isso prolongou a crise do mercado de trabalho em vários países, reduzindo a criação de empregos e aumentando a duração do desemprego em alguns países que antes tinham taxas de desemprego baixas e mercados de trabalho dinâmicos.” O relatório da OIT recomenda três ações de combate ao desemprego: investimentos públicos em infra-estrutura, programas de formação e capacitação e atenção especial ao público jovem.

Perspectivas

Quase 74 milhões de desempregados têm de 15 a 24 anos – a taxa de desemprego nesse segmento chega a 12,6%, mais que o dobro da média geral. “Cerca de 35% dos jovens desempregados nas economias avançadas ficaram sem emprego durante seis meses ou mais. Como consequência, um número crescente deles perde a motivação e se retira do mercado de trabalho”, diz a OIT. “Ter a experiência de períodos de desemprego tão longos ou abandonar o mercado de trabalho no começo da carreira profissional prejudica as perspectivas a longo prazo”, acrescenta.

A entidade afirma que as “condições de crise” voltaram rapidamente às economias desenvolvidas “e a perda de interesse dos investidores por causa do risco na Europa está se difundindo de forma mais extensa”. A taxa média de desemprego, que ficou em 8,6% no ano passado, deve subir ligeiramente este ano, para 8,7%, e recuar nos anos seguintes. “O desemprego juvenil é particularmente grave na Europa, superando 50% em alguns países. Um número cada vez maior de jovens abandonou a busca por trabalho”, observa a entidade, citando outro dado preocupante: “Quase 34% dos que buscam trabalho estavam desempregados por 12 meses ou mais, diante de 28,5% antes da crise”.

Na América Latina e no Caribe, a taxa foi de 6,5% em 2011 para 6,6% em 2012, deve subir a 6,7% neste ano e permanecer em 6,8% nos quatro anos seguintes, percentuais considerados baixos em relação a 2009 (7,8%). “A região se recuperou mais rapidamente da crise do que outras e as condições do mercado de trabalho continuam melhorando”, observa a OIT. Mas a entidade acrescenta que “a produtividade melhorou moderadamente e está previsto que diminua ainda mais, o que constitui uma limitação importante para as futuras melhorias nas condições de vida e trabalho”.

Um dado positivo é o da diminuição dos trabalhadores considerados em situação de extrema pobreza (menos de US$ 1,25 por pessoa/dia), mas eles ainda somam 397 milhões, enquanto outros 472 milhões “não podem satisfazer suas necessidades básicas com regularidade”. A OIT detecta ainda “indícios de uma classe emergente de consumidores entre os trabalhadores nos países em desenvolvimento, que potencialmente poderia compensar uma parte da redução do consumo nas economias avançadas”.