Número de trabalhadores mortos na Copa do Catar pode superar quantidade de jogadores no torneio

País do Oriente Médio ganhou o direito de sediar o torneio em 2022, mas sindicalismo internacional o acusa de descumprir legislações trabalhistas e explorar mão de obra estrangeira

São Paulo – O técnico da seleção norueguesa de futebol, Egil Olsen, conhecido no país como Drillo, se uniu a uma campanha internacional que se opõe à realização da Copa do Mundo de 2022 no Catar. O país do Oriente Médio foi escolhido pela FIFA para sediar o principal torneio de futebol do planeta depois de Brasil, em 2014, e Rússia, em 2018, mas é criticado pela Confederação Sindical Internacional (CSI) e pela Federação Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (ICM) por descumprir leis trabalhistas, cercear a liberdade sindical e explorar abusivamente mão de obra estrangeira, sobretudo de operários vindos da Índia, Sri Lanka, Nepal, Paquistão e Bangladesh.

“Eu ficaria muito surpreso se a FIFA não fizesse nada a respeito”, disse Drillo ao canal de tevê norueguês NRK. “Não podemos permitir que essa situação continue.” A situação a que se refere o técnico de futebol da Noruega é a de um país que, de acordo com a CSI, impede a sindicalização de aproximadamente 1,2 milhão de trabalhadores. “É uma violação dos direitos internacionais de liberdade sindical e negociação coletiva”, explica Ramon Szermeta, coordenador da campanha Play Fair no Brasil, iniciativa que monitora o cumprimento dos direitos trabalhistas nos países que sediam a Copa do Mundo. “No Catar, cerca de 94% desses trabalhadores são imigrantes.”

A embaixada do Nepal na capital catari, Doha, afirmou ao jornal The Himalayan Times que 162 trabalhadores nepaleses perderam a vida no país em 2010. “O governo se recusa a tornar público o número de acidentes ou fatalidades ocorridas no ambiente trabalho”, pontua Szermeta. “Cálculos preliminares indicam que o número de trabalhadores que vão morrer no país será maior que a soma de todos os jogadores participantes da Copa.” Por isso, a CSI e a ICM estão levando a cabo uma campanha com o lema “Não haverá Copa do Mundo no Catar sem direitos trabalhistas”. Foi essa campanha que acaba de conseguir a adesão do técnico da seleção norueguesa.

Em toda sua história, a Noruega participou de apenas três Copas do Mundo: França (1938), Estados Unidos (1994) e França (1998) – em todas foi eliminada na primeira fase. Drillo era o técnico do time nas duas últimas ocasiões e liderava a equipe quando os herdeiros dos vikings bateram por duas vezes a seleção brasileira, por 4 x 2 e 2 x 1. Atualmente, os noruegueses ocupam a segunda posição no Grupo E das eliminatórias europeias para o torneio de 2014. Ainda não é possível saber se irá se classificar para a competição.