Ministério Público vê descaso de bancos e pede ação da PF em política de segurança

Procurador acusa instituições financeiras de zelarem mais pelo patrimônio que pela vida e pede que Polícia Federal regulamente atividade de segurança privada em instituições financeiras

O MPF lamenta que crimes contra o patrimônio, como explosões de caixas, preocupem mais os bancos que a preservação da vida (Foto: Alex de Jesus. O Tempo. Folhapress)

São Paulo – O Ministério Público Federal em São Paulo moveu ação civil pública pedindo que a Polícia Federal regulamente e fiscalize as atividades de segurança privada nos bancos. O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, cobra das instituições financeiras responsabilidade com a vida dos clientes. Ele considera que o modelo atual de monitoramento feito pela PF tem falhas e precisa sofrer uma mudança de foco.

“Se o cliente saca seu dinheiro e for brutalmente assassinado em frente à agência, como frequentemente tem ocorrido, o banco alega que não tem responsabilidade por essa pessoa, apesar de ser evidente que os atos preparatórios para a prática criminosa provavelmente tenham ocorrido ainda dentro da agência, com a participação de ‘olheiros’ que acompanharam o saque sem serem importunados” afirma Dias, segundo nota emitida pelo Ministério Público Federal. 

A ação é acompanhada de pedido de liminar para que a Justiça Federal obrigue a Delegacia de Controle de Segurança Privada da Polícia Federal a adotar medidas rápidas de garantia da integridade física de trabalhadores e clientes. Também é pedido que de imediato sejam aplicados instrumentos que aumentem a segurança dentro das agências, como a colocação de divisórias entre os caixas e a área de espera de atendimento para dificultar o trabalho dos “olheiros”. “Apesar de terem lucrado muito, [os bancos] pouco investiram em segurança. E, é evidente que o pouco que investiram em segurança foi para a proteção de seu próprio patrimônio e não para a proteção de seus clientes”, afirma o procurador regional. Dias acrescenta que esta falta de preocupação com o tema resulta na compra de equipamentos falhos, como câmeras de vigilância de baixo nível que não registram com precisão imagens que poderiam ajudar a encontrar os culpados pelos crimes. 

Na ação, ele cita dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que mostram que os cinco maiores bancos apresentaram um lucro líquido total superior a R$ 50,7 bilhões, mas o montante direcionado a segurança e a vigilância soma pouco mais de R$ 2,7 bilhões.

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Entre os cinco maiores bancos do país (Bradesco, Itaú, Santander, Caixa e BB), as despesas com segurança representam em média apenas 6% do lucro líquido, de acordo com os balanços do primeiro semestre de 2012. O número é ainda menor nos maiores privados. 

O Bradesco, por exemplo, registrou lucro de R$ 5,7 bilhões e investiu apenas R$ 205 milhões em segurança (3,6% do lucro liquido). Já em publicidade os gastos de Bradesco foram de R$ 315 milhões (5,5% do lucro). O Itaú, que teve lucro liquido de R$ 7,1 bilhões de janeiro a junho deste ano, investiu no mesmo período em segurança R$ 263 milhões (3,7% do lucro), contra R$ 447 milhões gastos em publicidade (6,3%).

De acordo com um levantamento divulgado ontem (20) pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) em parceria com a Confederação Nacional dos Vigilantes, os ataques a bancos cresceram 50,48% no primeiro semestre deste ano frente ao mesmo período de 2011. Foram 1.261 ocorrências registradas em todo o país – 377 assaltos e 884 arrombamentos de agências. 

Para o procurador dos Direitos do Cidadão, chamam especial atenção os crimes de “saidinha de banco”. Segundo outra pesquisa da Contraf, divulgada em janeiro, 32 pessoas morreram por conta deste tipo de crime, cometido logo que a pessoa deixa o banco. Só em São Paulo foram 16 vítimas, com outras nove no Rio de Janeiro. 

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