Na OIT, Brizola Neto diz que Brasil corre riscos com a crise internacional

País conseguiu 'desvencilhar-se do redemoinho' em 2008, mas não está imune, afirma ministro

São Paulo – Em discurso feito hoje (12) na 101ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, disse que o país corre risco com a expansão da crise internacional. “O governo do meu país tem dado prioridade ao emprego e à capacitação da juventude para os desafios de uma economia moderna. Mesmo sendo iniciativas de larga escala, porém, tudo isso pouco poderá frente a um contexto de crise que se irradia dos centros mundiais e atinge, com seus efeitos financeiros e cambiais, os países em desenvolvimento, que haviam se tornado, pelos seus esforços e sacrifícios, as principais forças motrizes”, disse o ministro.

“Meu país, ao recusar o receituário de retração econômica e arrocho sobre os trabalhadores, conseguiu desvencilhar-se do redemoinho da crise e gerar de 2008 para cá nada menos que 9 milhões de postos de trabalho. Mas não estamos imunes aos efeitos deletérios deste quadro mundial: perde-se nossa competitividade, atingida pela valorização cambial, que também coloca em risco nossa indústria. Fecham-se os mercados e o consumo externo, sem que possamos reagir”, prosseguiu Brizola Neto.

Ele também falou a respeito da Rio+20, evento que começa na semana que vem, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que serão disputadas no Brasil. Segundo o ministro, o Brasil será medido “pelos avanços que lograr atingir em desenvolvimento urbano, pela geração de renda, pela criação de oportunidades”.

Para Brizola Neto, em relação ao trabalho falta aos países a mesma veemência que se vê nas discussões sobre o sistema financeiro. “Vivemos tempos de mundialização: globalização dos fluxos de capital e de mercadorias, que todos querem que sejam livres e dentro de padrões seguros e éticos. Não faltam, sobre isso, as mais veementes afirmações e até mesmo duras regras internacionais, como as que expressa, por exemplo, a Organização Mundial do Comércio. Lamentavelmente, porém, não tem tido a mesma importância para a comunidade internacional a discussão sobre algo que é parte integrante do capital que se acumulou e passa a transitar pelo globo e é, da mesma forma, parte das mercadorias que transitam pela face de toda a Terra”, afirmou, referindo-se ao trabalho humano, “fonte e origem de toda a riqueza”.

Quando se fala em trabalho, acrescentou, “não se ouvem as expressões severas de condenação ao ‘dumping’, ou à exploração predatória, ou mesmo a de liberdade de trânsito que se quer plena ao dinheiro, mas não ao seres humanos”.

Proteção social

O ministro disse ainda que o Brasil é um dos principais defensores da criação de pisos de proteção social, “que sustentamos ser um primeiro grande passo rumo à plena universalização da seguridade social”. Um relatório de 2011 da OIT, com colaboração da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que 5,1 bilhões de pessoas, 75% da população mundial, não estão cobertas por um sistema adequado de seguridade. Os pisos de proteção são um conceito que inclui transferência de renda, pensão para idosos e portadores de defciência, apoio a desempregados e trabalhadores de baixa renda e acesso universal a serviços essenciais, como saúde, água, educação, habitação e segurança alimentar.

“Seja como embrião da seguridade social onde ela ainda não está implantada, seja como elemento de sua ampliação onde já existe, o piso deve ser visto como elemento de dignificação e de respeito ao ser humano”, sustentou Brizola Neto. Ele lembrou também que daqui a dois meses o Brasil realizará sua primeira conferência nacional sobre emprego e trabalho decente.

A conferência termina quinta-feira (14). O ministro do Trabalho brasileiro reuniu-se hoje com o diretor-geral da OIT, Juan Somavía. A sua agenda previa encontro também com o futuro diretor, Guy Ryder, que tomará posse em outubro.