Operários da usina de Belo Monte decidem continuar parados

Sindicato afirmou que não havia ônibus hoje para levar os trabalhadores para os canteiros; informação foi desmentida pelo consórcio. Decisão dos operários sairá em assembleia na segunda-feira

São Paulo – Os trabalhadores da usina hidrelétrica de Belo Monte, em construção na bacia do rio Xingu, no município de Vitória do Xingu, no Pará, mantiveram hoje (2) a paralisação iniciada há dez dias. Com data-base em 1º de novembro, eles pedem aumento do vale-alimentação de R$ 95 para R$ 300 e a redução do período para visitar a família (chamado de baixada) de seis para três meses. O sindicato da categoria (Sintrapav-PA) disse que, apesar de haver um acordo em vigência, nada impede reivindicações de melhorias a qualquer momento. O Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pela obra, afirmou hoje que não vai rever essas cláusulas, mas que já negociou outros pontos da pauta atual.

Um impasse ficou instalado. Até o final da tarde, ainda não se conhecia qualquer decisão da Justiça a respeito da continuidade da paralisação. No dia 25, o consórcio obteve duas decisões favoráveis no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 8ª Região: a declaração de abusividade da greve e uma liminar que proíbia o Sintrapav de fazer barricada na estrada de acesso aos canteiros das obras, conhecida por Travessão 27, na rodovia Transamazônica. O tribunal arbitrou multa de R$ 200 mil por dia ao sindicato caso não ocorresse a volta imediata ao trabalho e mais R$ 5 mil se houvesse barricada. No dia 27, a liminar foi suspensa até ontem (1). O Sintrapav disse que pediu embargo declaratório da decisão, mas até o final desta tarde não havia uma resposta. 

O CCBB afirmou que aguardou em vão a volta dos trabalhadores hoje. Segundo o vice-presidente do Sintrapav, Roginei Gobbo, os operários não puderam seguir da cidade para os canteiros porque não havia ônibus para transportá-los. A informação foi negada pelo consórcio, por meio de sua assessoria de imprensa. Os canteiros estavam preparados para o retorno dos trabalhadores, segundo garantiu o CCBM. Que afirmou também ter havido barricada no Travessão 27 pela manhã. 

Nesse desencontro de informações, a expectativa do sindicato é realizar assembleia apenas na próxima segunda-feira (7) para decidir o fim da paralisação, já que amanhã e depois (3 e 4), os trabalhadores estariam de folga para receber os salários. O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores na Construção Pesada (Fenatracop), Wilmar Santos, disse que está na hora de o governo se envolver na solução desses conflitos e fazer valer o acordo setorial firmado no final de 2011 em defesa dos interesses dos trabalhadores da construção. “Se o acordo não sai do papel, não tem validade”, afirmou.

Santos disse que as reinvindicações em Belo Monte são embasadas em acordos melhores fechados para os trabalhadores das usinas hidrelétricas em construção no rio Madeira, Santo Antonio e Jirau, no mês passado, cujos consórcios são compostos pelas mesmas empresas. O consórcio disse que é impossível fazer essa associação de ideias porque as obras no rio Madeira estão em fase final, diferentemente das de Belo Monte, onde ainda estão sendo instalados os canteiros. O auge da obra de Belo Monte será em 2013, quando haverá 21 mil operários na obra, que deve terminar em 2019.