Com apoio do movimento sindical, inglês vai assumir direção geral da OIT

Para dirigente da CUT, vitória contra candidato conservador fortalece a organização e suas convenções

Guy Ryder será o décimo diretor-geral da entidade (Foto: Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas/CSA)

São Paulo – Com apoio do movimento sindical, o inglês Guy Ryder foi eleito hoje (28) diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e substituirá o chileno Juan Somavía. A posse está marcada para outubro. Na disputa final – originalmente, havia nove candidatos –, Ryder, sindicalista de origem, recebeu 30 votos, ante 26 dados ao francês Gilles de Robien. A bancada dos trabalhadores votou unitariamente (14 votos) em Ryder, enquanto a dos empresários (também 14) apoiou Robien. O desempate coube aos governos integrantes do Conselho de Administração da OIT: 16 escolheram o inglês e 12, o francês.

“Foi uma vitória dos setores progressistas, daqueles que querem fortalecer a OIT e as convenções da OIT”, avaliou o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício. Ele lembrou que havia acordo entre alguns países para votar em Angelino Garzón, atual vice-presidente da Colômbia e um dos fundadores da CUT daquele país – foi o primeiro secretário-geral da entidade, de 1986 a 1990. Na penúltima fase, Ryder teve 25 votos, Robien recebeu 24 e Garzón, sete. Desses sete, cinco foram para Ryder e dois para Robien, na votação final. Entre os países que votaram no candidato vencedor, estão Brasil, Argentina, Colômbia, El Salvador, Trinidad e Tobago e potências como Estados Unidos, China e Rússia, além da Inglaterra, país natal de Ryder.

Para Felício, a vitória de Robien, de perfil conservador, seria uma derrota dos trabalhadores e poderia enfraquecer a OIT. Ele acredita que a eleição de Guy Ryder não influencia a posição do Brasil em relação à adoção de convenções como a 87 (liberdade de organização sindical), mas ajuda à medida que se trata de uma pessoa “com profundo compromisso” com essa norma. Mesmo internamente não há, no país, consenso em relação à Convenção 87, que é apoiada pela CUT.

Atual diretor-executivo do Departamento de Normas, Princípios e Direitos Fundamentais da OIT, Guy Ryder será o décimo diretor-geral da entidade. “Esta eleição representa uma grande oportunidade, em tempos de crise mundial, para marcar uma diferença na vida de milhões de pessoas, para melhorar suas vidas, inclusive daquelas que jamais ouviram falar da OIT”, declarou Ryder. “Creio que o significado do ocorrido hoje será julgado pelo que fizermos daqui em diante, por saber colocar as necessidades dos jovens, mulhares e homens de todo o mundo no centro do nosso trabalho.”

Nascido em 1956 em Liverpool, Ryder foi um dos articuladores, em 2006, da fusão entre a Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (Ciosl) e a Confederação Mundial do Trabalho (CMT). Essas duas entidades deram origem à Confederação Sindical Internacional (CSI), que pelos dados mais recentes tem 309 filiados em 153 países. Na lista, incluem-se três centrais brasileiras: CUT, Força Sindical e UGT. Em visita ao Brasil, Ryder esteve na sede da CUT em fevereiro.

O vice-presidente pelos trabalhadores no Conselho de Administração da OIT, o belga Luc Cortebeeck, disse que “Ryder é alguém que conhece o mundo do trabalho, mas que trabalhará também com os governadores e com os empregadores e sempre defenderá o tripartismo e diálogo social”. Pelos empregadores, o argentino Daniel Funes de Rioja declarou: “Nós o respeitamos. Conhece a casa, e esperamos trabalhar juntos. A situação mundial exige grandes reformas”. 

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