Greve de servidores da saúde começa com críticas à privatização em São Paulo

Trabalhadores participaram de assembleia e ato na praça da Sé por melhores salários

São Paulo – No primeiro dia de paralisação dos servidores estaduais da saúde de São Paulo, os trabalhadores protestaram contra a privatização dos serviços públicos e o sucateamento do setor, com a transferência das atividades a Organizações Sociais da Saúde (OSS), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Publico (Oscips) e fundações de direito privado. “No estado de São Paulo, os interesses privatistas representam um roubo aos hospitais e à saúde pública em geral”, criticou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP), Benedito Augusto de Oliveira, o Benão. “Privatizar a saúde é uma tragédia, porque se trata de um setor que precisa da presença do Estado. Não dá para utilizar a lógica do lucro.”

Os trabalhadores participaram de assembleia hoje (13) pela manhã, na quadra do Sindicato dos Bancários, e no início da tarde caminharam pelas ruas centrais da capital paulista até a Praça da Sé, onde realizaram um ato em defesa da saúde pública. Para o presidente do SindSaúde, a greve “começa forte”, com cerca de 2 mil pessoas que representaram unidades públicas de todo o estado. “A adesão é boa. Várias hospitais estão fazendo assembleias hoje por isso. O pico mesmo será na semana que vem”, avaliou.

Assembleia dos trabalhadores realizada em 23 de março, após paralisações nos dois dias anteriores determinou o início da greve nesta sexta-feira. A data-base da categoria é 1º de março. “A pauta de reivindicações foi entregue em fevereiro, mas nenhuma proposta financeira foi apresentada. Então, diante da morosidade do governo, a categoria indicou a paralisação”, disse Benão. 

Reivindicações

  • Aumento salarial de 26%;
  • reajuste do auxílio alimentação de R$ 4 para R$ 25;
  • regulamentação da jornada de 30 horas para todos;
  • aumento no valor do prêmio de incentivo;
  • pagamento do 13º salário e férias;
  • correção das distorções nos valores pagos e transparência na verba da saúde repassada pelo Ministério da Saúde para o Estado;
  • aposentadoria especial;
  • concurso público para suprir falta de pessoal nas unidades de saúde; e
  • correção de erros na criação dos cargos e rebaixamento na letra da Lei Complementar 1.080/08.

Precarização

Durante a reunião, os trabalhadores criticaram os baixos salários, falta de funcionários, sobrecarga de trabalho, adoecimento da categoria, falta de segurança, valor irrisório do vale-refeição em R$ 4 há 12 anos. “O sistema não está mais agonizante, agora está em coma profundo”, analisou a auxiliar de serviços Janete. Os nomes foram trocados a pedido dos trabalhadores.

O usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) José Marcionilio dos Santos acompanhou a passeata dos trabalhadores em apoio à greve. “Estive internado em março para uma cirurgia de hérnia no hospital Emílio Ribas. Vi leitos deteriorados e elevadores sempre quebrados”, descreveu. “Sou contra a sucateamento e a privatização, porque é minha saúde que está em risco.”

Segundo Silvana, trabalhadora do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, com sede em São Paulo, a precarização é mais grave. “É comum encontrar os cinco elevadores do hospital quebrados. Quando apenas um funciona, o mesmo equipamento é utilizado para transportar pessoas em óbito, roupa contaminada e limpa e pacientes doentes.” A trabalhadora também denuncia a falta de medicamentos antirretrovirais (utilizados no tratamento de pacientes soropositivos) e a perda do acervo da biblioteca do hospital. “Era um acervo conhecido internacionalmente, mas a empresa terceirizada perdeu os dados”, disse.

Gilberto, do Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista, criticou a utilização política do prêmio de incentivo, com verba do governo federal. “O governo do estado usa o valor para premiar assessores do alto escalão, enquanto os trabalhadores de salário mais baixo recebem bem pouco”, apontou. De acordo com o servidor, diversas funções foram reclassificadas sem consulta aos trabalhadores e levaram ao rebaixamento dos salários. Ele passou de oficial de manutenção para auxiliar de manutenção. “Rebaixaram meu cargo e meu salário”, disse o trabalhador.

Aparecida, da mesma unidade, ainda guarda os documentos do concurso realizado em 1992 para auxiliar de necrópsia. Em 1996, ao assumir a função, foi registrada como auxiliar técnica. Em 2012, uma nova mudança a classificou como agente de saúde, embora ainda trabalhe como auxiliar de necrópsia. “A alteração levou quase metade do meu salário e nessa nova função podem me transferir para onde quiserem.” 

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