Deputados e sindicato querem que curtume da Marfrig fique fechado
Partes solicitaram ao MPT que atividades na unidade, em Bataguassu (MS), onde quatro empregados morreram, não sejam retomadas até apuração do caso
Publicado 07/03/2012 - 13h12
O deputado Kemp afirmou que parlamentares pediram a interdição da unidade ao Ministério Público do Trabalho (Foto Giuliano Lopes/ALMGS)
São Paulo – Após acidente que matou quatro funcionários e deixou 25 intoxicados na unidade de curtume da empresa Marfrig, em Bataguassu (MS), em 31 de janeiro, parlamentares e sindicato da categoria no estado se esforçam para manter o local fechado até que as medidas de segurança no local sejam tomadas. Por enquanto, as atividades no curtume estão suspensas, mas o frigorífico ao lado continua em funcionamento. Os sindicalistas temem que os trabalhadores retornem à rotina do curtume sem o devido preparo e que voltem a ocorrer acidentes.
Deputados da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul também se apropriaram do tema. De acordo com o deputado Pedro Kemp (PT), um grupo de parlamentares pediu no início de fevereiro a interdição da unidade ao Ministério Público do Trabalho e à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. “Nós estamos sabendo que o MPT está atuando no sentido de apurar a responsabilidade do acidente para que a empresa possa tomar as providências”, disse.
A vistoria feita pelo Corpo de Bombeiros concluiu à época que o acidente ocorreu após reação química resultante do descarregamento em um tanque de ácido dicloro-propiônico, utilizado para o curtume. Os funcionários que morreram estavam acima da estrutura do reservatório, e desmaiaram ao inalar os gases resultantes da reação. Entrevistas dos trabalhadores da Marfrig à perícia da Polícia Civil apontaram que eles não estavam utilizando equipamentos de proteção no momento do acidente.
O parlamentar afirmou que teve acesso ao laudo preliminar da perícia, onde é apontada falha humana. “Depois, soube de uma informação que a empresa estaria atribuindo a responsabilidade do acidente a uma empresa que entregou o produto químico causador da reação”, relatou. O levantamento feito apontou também que a empresa não tinha profissionais especializados para a orientação e capacitação dos trabalhadores. A empresa foi multada em R$ 1 milhão, em fevereiro, pela Polícia Militar Ambiental multou por conta da liberação de gás tóxico que resultou na morte nos funcionários e em sequelas como problemas respiratórios nas demais vítimas.
A Polícia Civil ainda aguarda o laudo final da perícia para a conclusão do inquérito. O delegado José Carlos Almussa Júnior, da Delegacia de Polícia de Bataguassu, ressaltou que o caso se agrava por conta de uma possível negligência na segurança de trabalho. “Houve a questão do Ministério Público do Trabalho, que fez vistoria para verificar as condições de trabalho do local. Várias pessoas foram ouvidas, mas ainda estamos dependendo dos laudos”, afirmou o delegado. Após o recebimento dos resultados, haverá análise da responsabilidade criminal pela prática de homicídio culposo, e em seguida, o caso será enviado ao judiciário. A investivação deve apurar também se estavão sendo realizadas reuniões da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) regularmente.
Com o objetivo de fazer com que a empresa se explique sobre o assunto, o Sindicato dos Trabalhadores em Curtumes e Artefatos de Couros do Mato Grosso do Sul entrou com ação coletiva no mês passado. A entidade acompanha o trabalho de vistoria do local e tem colhido desde o início depoimentos dos empregados da Marfrig. “Estamos pedindo para o juíz uma estabilidade provisória no emprego. Eu creio que será uma ação boa, que os trabalhadores vão ficar felizes em compensar de uma certa forma o sofrimento que tiveram”, disse o advogado da entidade, Wender Rodrigues dos Santos. Segundo ele, no próximo dia 15 será realizada na Vara de Trabalho local a primeira audiência do caso.
“Na audiência já teremos acesso à defesa deles, saber o que irão argumentar”, afirmou Wender. Apesar de o advogado afirmar que existe um “burburinho” de que o Judiciário pode tender a preservar a empresa, ele garante que o sindicato não compartilha do mesmo pensamento. “A empresa tem de arcar com estes danos, e que sirva de exemplo para que ninguém mais deixe de obedecer às regras do trabalho. Acima do lucro existe o direito à vida, que não pode ser rebaixado.”
Por meio da assessoria, a Marfrig informou que só comentará o assunto quando surgirem novidades sobre as investigações. Em comunicado após o acidente, a empresa se comprometeu a dar apoio psicológico e financeiro às vítimas e familiares.