Marfrig é multada em R$ 1 milhão por acidente que deixou quatro mortos. Sindicato diz que vai apurar

Vazamento de gás em curtume em Mato Grosso do Sul também deixou mais de 20 pessoas intoxicadas

São Paulo –  A Marfrig, uma das maiores produtoras de alimentos do mundo, foi multada pela polícia ambiental de Mato Grosso do Sul em R$ 1 milhão, pela liberação do gás tóxico que resultou na morte de quatro funcionários de um curtume da empresa na cidade de Bataguassu. As instalações serão visitadas entre esta quarta e quinta-feiras (1º e 2) por dirigentes e advogados do Sindicato dos Trabalhadores em Curtumes e Artefatos de Couros do Mato Grosso do Sul. O objetivo é apurar as condições de trabalho a que os funcionários são submetidos naquela unidade.

No acidente, que aconteceu na última terça (31), quatro pessoas morreram no local: Marcos Vinicius da Silva Melo, Waldir Henrique Raimundo, Elimar Felipe da Silva e Karl Mateus.

A versão do ocorrido até o momento, segundo o Corpo de Bombeiros, é que houve reação química ao se descarregar o ácido dicloro-propiônico – usado no curtume – em um tanque submerso. Os trabalhadores que morreram no local estavam acima da estrutura e desmaiaram ao inalar os gases que se desprenderam da mistura. Duas vítimas, em estado gravíssimo, estão em hospital de Presidente Prudente, interior de São Paulo, e as demais estão em observação em um hospital local.

Israel Alegre, diretor do sindicato, afirma ter conversado nesta manhã com um rapaz que lhe relatou ter desconfiado de que o produto utilizado pode ter sido trocado. “Ele notou uma diferença (no aspecto geral da carga), e isso terá de ser apurado. Estamos fazendo todo o levantamento possível. Tudo o que temos de fazer, iremos fazer”, garantiu o dirigente. Pela manhã, Alegre teve reunião com o departamento de Recursos Humanos da empresa. Os advogados do sindicato acompanharão os relatos dos atingidos e acenam com a possibilidade de entrar com uma medida cautelar contra a Marfrig.

Em nota divulgada ainda na terça, o diretor-executivo de estratégia corporativa da empresa, Ricardo Florence dos Santos, informou “aos acionistas e ao mercado em geral” que o acidente já havia sido controlado e que não havia riscos de intoxicação, além de garantir que o curtume é coberto por uma apólice de seguro contra esse tipo de ocorrência. A empresa também lamentou os óbitos e disse que se coloca à disposição para ajudar as famílias dos trabalhadores vitimados.

Riscos

Um caso semelhante aconteceu na empresa Millón, fabricante de semijoias na cidade de Limeira (SP), 150 quilômetros da capital, em agosto do ano passado. No acidente, morreu um trabalhador, que caiu dentro do tanque enquanto realizava a limpeza dos resíduos. Além dele, outros quatro trabalhadores se envolveram no acidente quando tentavam prestar o socorro e tiveram de ser atendidos em hospital local.

A atividade acumula casos de acidentes de trabalho. Na empresa do ramo alimentício JBS Friboi, em Campo Grande (MS), três casos aconteceram só no ano passado. Um dos funcionários teve uma das pernas amputada em acidente, e os demais sofrem com edemas e lesões adquiridas na rotina manual que a função exige. A empresa se recusou a pagar indenizações. “É sempre assim, neste ramo. Primeiro esperam acontecer para depois fazer alguma coisa”, criticou o diretor.