Programas de demissão voluntária são desnecessários, dizem metalúrgicos

Para dirigente da FEM, o cenário atual é diferente de 2008, quando empresas demitiram por receio da crise

 São Paulo – Na avaliação do presidente da Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da CUT (FEM-CUT) em São Paulo, Valmir Marques, o Biro Biro, os programas de demissão voluntária (PDVs) são incompatíveis com o atual momento da indústria automobilística. Segundo ele, a situação era diferente durante a crise mundial de 2008, quando algumas empresas adotaram o recurso preocupadas com a situação do mercado. Agora, segundo ele, faltam justificativas para que a medida seja adotada. Na última terça-feira (18), a General Motors anunciou o plano com o objetivo de adequar o nível de produção na fábrica de São José dos Campos (interior paulista), além de reduzir o custo com a mão de obra. O sindicato da região orientou os funcionários a não aderir ao programa.

“Na época da crise, as empresas usaram mecanismos de férias coletivas e de banco de horas. Chegou uma hora que não teve jeito e abriram o programa. Agora, não”, disse Biro Biro, levando em conta que o contexto da época era de incerteza sobre a economia. Hoje, os trabalhadores das fábricas são chamados para horas extras aos finais de semana tamanha a demanda, fato considerado contraditório. A GM deve lançar, inclusive, novos modelos de automóveis ainda em 2011. “A produção está em alta e no limite de sua capacidade. O problema em São José é estrutural”, avaliou o dirigente da federação.

Em nota, a empresa norte-americana cita os efeitos da guerra cambial e “intensa competitividade do mercado brasileiro” como motivo para abrir o voluntariado na unidade de São José, que tem atualmente 9 mil funcionários. A GM registrou lucro líquido de US$ 2,5 bilhões no segundo trimestre, alta de 92,3% ante o lucro de US$ 1,3 bilhão em igual período de 2010.

Em 2009, a Ford do Brasil – nas fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté, no interior de São Paulo – e Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (na região do ABC paulista), também abriram PDVs. Assim como hoje, a justificativa era de ajuste de número de trabalhadores aos níveis de produção da época, que teriam sido afetados por redução nos volumes de exportação.

O Sindicato dos Metalúrgicos da região deve se reunir com representantes do governo, em Brasília, na próxima quinta-feira (27). O encontro com representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, que já estava marcado desde agosto, iria abordar originalmente a redução da jornada de trabalho e a postura considerada antissindical das empresas da região.

“Vamos questionar as medidas tomadas pela GM e pedir que o ministério intervenha a favor dos trabalhadores. Afinal, a GM, tem recebido milhões em incentivos do governo federal, não tem nenhum motivo para demitir trabalhadores”, disse o presidente do Sindicato, Vivaldo Moreira Araújo.

A produção das montadoras brasileiras caiu em setembro, mas tem se mantido em alta nos últimos anos. Em 2011, segundo a Anfavea (associação nacional dos fabricantes), foram produzidas 2,6 milhões de unidades, crescimento de 3,3% sobre igual período do ano passado. Nos últimos 12 meses, o volume chega a 3,46 milhões, alta de 3,4%.