Privatização causa conflito no trabalho e entre funcionários, segundo especialista francês

São Paulo – Para o psicanalista e estudioso da psicopatologia do trabalho, Christophe Dejours, a privatização das empresas públicas causa um conflito entre os funcionários antigos e os contratados pela […]

São Paulo – Para o psicanalista e estudioso da psicopatologia do trabalho, Christophe Dejours, a privatização das empresas públicas causa um conflito entre os funcionários antigos e os contratados pela nova gestão e consequentemente leva o sofrimento a essas pessoas.

O professor e diretor do Laboratório de Psicologia do Trabalho da Conservatoire Nationale Dês Arts et Métiers (CNAM), ligado ao Ministério da Educação francês, ressalta também que ao privatizar essas companhias há o rompimento da igualidade que os serviços públicos têm como princípio, e essa situação de conflito sobre as regras do trabalho afeta a saúde mental dos envolvidos, além de poder criar sistemas de perseguição e assédio. “A empresa não quer mais igualdade no fornecimento do serviço, e sim mais clientes, que tragam mais dinheiro”, explicou Dejours.

Na França, depois de a empresa de telecomunicações France Telecom ser privatizada, em 2004, a reestruturação da companhia, incluindo demissões, causou uma onda de suicídios entre os trabalhadores. Entre 2008 e 2009 cerca de 32 funcionários atentaram contra a própria vida.

O professor Laerte Idal Sznelwar, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, chama atenção para a pressão sofrida pelos trabalhadores. Segundo ele, esse trabalhador sofre no exercício de sua profissão e, assim que atinge os objetivos, acaba tendo um momento de prazer. Esse momento vira um problema quando não há reconhecimento de seu trabalho, surgindo um impasse.”O problema não é o sofrimento em si, é sofrimento patogênico (quando o indivíduo produz soluções desfavoráveis para sua vida), que leva sempre a um impasse”.

Laerte foi responsável pela organização do livro “Saúde dos Bancários”, que foi lançado na quarta-feira (24) durante seminário sobre o assunto promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Também foi apresentada uma pesquisa que apontou que a pressão por cumprimento de metas e o estresse é a principal causa de doenças entre os bancários.

Um outro problema apontado por Dejours é a utilização da avaliação individual na gestão de empresas. Para ele, esse tipo de avaliação, que visa ao resultado final, não leva em conta o esforço empregado pelo trabalhador para completar sua tarefa. A saída para isso seria, segundo Dejours, deixar de lado essa visão individualizada para uma mais coletiva, onde seja possível reconstruir a cooperação e a solidariedade entre os trabalhadores.

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