Metalúrgicos do ABC e de São Paulo se aproximam em defesa do emprego

Sindicatos fazem manifestação conjunta na rodovia Anchieta após anos de afastamento

São Paulo – O surgimento da Força Sindical, exatos 20 anos atrás, representou a divisão definitiva dos blocos ideológicos no movimento sindical, até então representados por apenas três centrais: a CUT, surgida em 1983, e a CGT, de 1986 – e que em 1989 se dividiria em duas. Logo, CUT e Força se tornaram as principais rivais do universo sindical, e os metalúrgicos eram a representação mais visível desse confronto.

No período histórico mais recente, no entanto, os principais sindicatos da categoria têm se unido em torno de interesses comuns. Nesta sexta-feira (8), por exemplo, os sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e de São Paulo estarão juntos em uma manifestação em defesa do emprego.

Bem diferente de 1991, por exemplo. Era o segundo ano do governo Collor. A Força Sindical foi fundada em março daquele ano, liderada por Luiz Antônio de Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e considerado o principal adversário da CUT. Praticamente no mesmo período, era realizado o 6º Congresso dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, que entre outros itens propôs um dia nacional de paralisação e protesto contra o governo.

No plano internacional, o colapso dos regimes comunistas do Leste Europeu também opunha pontos de vista no sindicalismo brasileiro. A central que surgia era identificada pelos adversários como adepta do mercado e do capitalismo. Já uma das resoluções do congresso no ABC dizia: “Nós, trabalhadores, aprendemos com os erros e traições que vitimaram as experiências socialistas. Mas é a crise do capitalismo que nos inferniza a vida”.

Durante os anos 1990, a CUT fez algumas tentativas para ganhar as eleições no sindicato de São Paulo, que teve o atual deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, como sucessor de Medeiros – ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. Por sua vez, a Força também tentou minar o poderio cutista em São Bernardo, igualmente sem sucesso.

Em 1993, a CUT reunificou os metalúrgicos de São Bernardo e Diadema aos de Santo André (cuja base incluía Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), dominando seis dos sete municípios do ABC – a exceção, como sempre, foi São Caetano. Mas a experiência da unificação durou apenas três anos, dando início a novas escaramuças entre as entidades. Apenas recentemente foi firmado um acordo sobre a representatividade territorial de cada sindicato e selada a paz na região.

Nesta semana, ficou evidente mais um sinal de aproximação entre as centrais, com a visita do presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), Paulo Cayres, à Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), ligada à Força Sindical. “O objetivo do encontro foi retomar as relações entre as confederações, iniciar uma agenda de diálogo estratégico e planejar ações conjuntas nacionais e internacionais em defesa dos interesses econômicos, sociais e políticos da categoria metalúrgica”, diz a CNTM. Durante alguns anos, as duas entidades brigaram inclusive na Justiça pela representação no setor.

Guerra fiscal

Para Cayres, as crises e consequentes ameaças ao emprego impulsionaram essa união. Ele cita também uma período mais aguda da guerra fiscal entre os estados, no final dos anos 1990. “Nós percebemos que, independentemente da cor da central, tínhamos uma fragilidade (realidades salariais distintas entre as regiões). Isso nos aproximou. Foi a grande marca da aproximação das centrais, respeitando a lógica de atuação de cada uma”, observa.

Além disso, avalia o dirigente, o governo Lula também colaborou com essa unidade, à medida que o então presidente dizia que encaminharia as propostas resultantes de um consenso entre as centrais. “Ele dizia que iria levar à frente as propostas, não da central A ou B.”

Cayres afirma que o fato de no período recente a CUT ter feito manifestações separadas das demais centrais não impede que os metalúrgicos se unam. “Estamos falando agora da morte dos empregos. O desemprego corta muito mais do que o frio. Neste momento, a unidade é em defesa do emprego, e eu não vou ver a cor da central. A CUT anão tem por princípio impor aos ramos (profissionais) o que eles têm de fazer. Se um país tem a indústria enfraquecida, a tendência é enfraquecer a economia como um todo.”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, reforça essa visão, ao lembrar que os dois sindicatos, o da capital e do ABC, são particularmente atingidos pela ameaça de desindustrialização, provocada pela questão cambial (dólar baixo em relação ao real). “A crise afeta muito mais os sindicatos ligados à produção.” E defende as ações unitárias entre as centrais.

“De sete anos para cá, só conseguimos avançar porque houve consenso”, diz Miguel, citando campanhas comuns como as de valorização do salário mínimo, contra a terceirização e pela redução da jornada de trabalho. “O que era polêmico cada um trabalhou de seu jeito. Os sindicatos da indústria têm de lidar com o dia a dia, todo dia têm de brigar contra demissão”, compara.

Quanto ao relacionamento entre as centrais, o dirigente avalia que houve um período de transição e o contato melhorou bastante principalmente a partir da gestão de Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo, ainda no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – ele assumiu a presidência da entidade em 1996. Em 2003, foi para a CUT.

Um tema que realmente divide as centrais é o do imposto (ou contribuição) sindical. A CUT defende o fim imediato da taxação, mas a proposta encontra resistência. Em 2010, a arrecadação do imposto somou R$ 1,93 bilhão, incluindo todas as categorias (trabalhadores, autônomos, profissionais liberais e empregadores).

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