CUT, Força e Fiesp unem-se para pressionar governo na reforma tributária

Trabalhadores e empresários identificam riscos de 'desindustrialização' e defendem medidas imediatas. Pauta será entregue nesta quinta-feira a Michel Temer

Nobre, Skaf, Paulinho e Miguel: interesses comuns superam divergências (Foto: Fiesp/divulgação)

São Paulo – A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) recebeu, nesta segunda-feira (23), os “companheiros parceiros” – expressão do presidente da casa, Paulo Skaf – metalúrgicos da CUT e da Força Sindical para anunciar uma união entre capital e trabalho em defesa da indústria. Juntas, as entidades pretendem cobrar do governo questões relacionadas à reforma tributária, como desoneração da folha do pagamento e fim da guerra fiscal, para evitar o que identificam como risco de “desindustrialização” do país. A pauta será discutida em seminário nesta quinta-feira (26) e entregue ao vice-presidente, Michel Temer.

Para Skaf, esta não é uma ação pontual, mas faz parte de “novo estilo” de relações entre as organizações. “Não é pauta momentânea. Junto ao novo momento político brasileiro estamos visando aos interesses maiores do país. As eventuais divergências são muito poucas se comparadas ao que temos de convergências”, declarou. A postura dos empresários e sindicalistas, segundo ele, precisa ser firme. “Não é protecionismo. Os instrumentos de defesa comercial já existem. Temos de ter vontade política para impor as medidas.”

A reivindicação é de que seja criada uma agenda permanente com o governo para tratar do assunto. Skaf lembrou que o Brasil deverá fechar o ano com superávit comercial entre U$ 15 bilhões e US$ 20 milhões, mas o setor de manufaturados terá déficit de US$ 100 bilhões.

Ele cita como questões emergentes a redução dos juros, medidas contra a desvalorização cambial – como a inibição do capital especulativo –, a desoneração da folha – principalmente em relação à contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – e a aprovação do Projeto de Resolução 72, do Senado, sobre circulação de mercadorias entre estados com bens importados. “Boa parte da reforma tributária estaria resolvida com a aprovação dessa resolução”, afirmou.

O crescimento do país precisa visar também às relações trabalhistas e condições dentro das indústrias, que devem ser “modernas, baseadas na negociação e com organização no local de trabalho”, lembrou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT), Sérgio Nobre. “Estamos convencidos que o Brasil vai crescer. Mas queremos que esse crescimento seja perene e sustentável”, afirmou.

O sindicalista defendeu um maior estímulo à pesquisa em tecnologia e um plano de nacionalização de componentes. “Um dos objetivos deste encontro é pensar o conteúdo da indústria.” A pauta trabalhista inclui ainda correção da tabela do Imposto de Renda (IR) e isenção de IR em pagamentos de participação nos lucros ou resultados (PLR).

“Apertadores de parafuso”

A relação com o governo também foi abordada pelos sindicalistas. O presidente da Força, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), criticou o modo em que o governo vem lidando com as questões ligadas à indústria. “Se você olha de cima o Brasil, está tudo bem, principalmente na área de serviços, nas commodities e no comércio. Quando vai para a indústria, a situação é muito grave. Nós estamos virando o país dos apertadores de parafuso”, disse.

Citando a greve na Honda em Sumaré (SP) – que na semana passada anunciou a demissão de cerca de 400 funcionários por causa de problemas na produção de peças no Japão após o terremoto seguido de tsunami de março deste ano –, ele rechaçou  a dependência das fábricas no Brasil da importação de peças do exterior. “Se um tsunami no Japão para a produção aqui, é porque a situação está muito grave. Não é que estamos contra o governo, mas temos que discutir isso”, reforçou. Para Paulinho, é urgente defender medidas relacionadas à qualificação profissional e contra a rotatividade no mercado de trabalho.

Consenso entre a mesa, a articulação teria objetivo de ajudar o governo Dilma Rousseff a consertar possíveis deficiências no setor. “É para ajudar a Dilma, senão ela passa para a história como a presidenta que ajudou a desindustrializar o Brasil”, provocou Paulinho. “Ter um bom relacionamento não impede que tenhamos divergências (com o governo)”, acrescentou Skaf, recentemente filiado ao PMDB, partido do vice-presidente. “Defendemos que todos os setores tenham desoneração, mas a indústria vive uma situação de emergência. O governo tem de absover alguma coisa.”

Entre os argumentos pró-indústria, Skaf afirmou que o setor responde por 17% do Produto Interno Bruto (PIB), mas é responsável por 37% da arrecadação de impostos. Paulinho lembrou que o segmento de autopeças deve fechar 2011 com déficit comercial de US$ 5 bilhões e Nobre ainda afirmou que os importados tiram aproximadamente 100 mil empregos no setor automobilístico.

Depois de se reunir com os dirigentes – também estava lá o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres –, Skaf teria almoço com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele disse que reforçaria as queixas contra a taxa básica de juros. “Não vou fazer com que o almoço não lhe caia bem, mas nossa posição é radical.” As centrais, por sua vez, vão se reunir nesta quarta-feira (25) com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, justamente para discutir a desoneração da folha.

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