Movimentos de mulheres protestam em seis estados contra o uso excessivo de agrotóxicos

Manifestações reclamam da falta de políticas para o setor agrícola, violência contra mulher e criminalização dos movimentos sociais; lançamento da Marcha das Margaridas ocorre nesta quarta-feira

São Paulo – O uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras brasileiras e a ocupação do Brasil em primeiro lugar na lista dos países consumidores de agrotóxicos motivaram protestos de movimentos femininos por todo o país. A Jornada de Lutas das Mulheres, promovida pela Via Campesina, mobilizou até agora seis estados para criticar o modelo de produção utilizado pelo agronegócio. O lema da jornada é “Mulheres contra a violência do agronegócio e dos agrotóxicos: por reforma agrária e soberania alimentar”.

“Nossa luta é para defender a reforma agrária, a agroecologia, a produção de alimentos saudáveis. Estamos mobilizadas para dar visibilidade aos problemas causados pelo agronegócio. Um dos principais é o uso indiscriminado dos agrotóxicos. O mercado de venenos é um problema para a nossa soberania, para nossa saúde e para o meio ambiente”, disse Ana Hanauer, integrante da coordenação nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Segundo ela, as ações iniciais já movimentam cerca de 5 mil mulheres de todo o Brasil.

Na Bahia, cerca de 1.500 mulheres ocuparam a fazenda Cedro, pertencente à multinacional Veracel, no município de Eunápolis, em 28 de fevereiro. As trabalhadoras denunciam a ação do agronegócio no extremo sul da Bahia, com a produção da monocultura de eucaliptos praticada pela Veracel na região de maneira irregular, pois ocupa terras devolutas.

Em Pernambuco, 800 trabalhadoras rurais ligadas ao MST, ao Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), ao Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e à Comissão Pastoral da Terra (CPT) marcharam na manhã da terça-feira (1º) de Petrolina a Juazeiro, denunciando a inoperância do Incra da região. Também na terça-feira, mais 500 mulheres ocuparam o Incra da cidade de Recife como forma de chamar a atenção para a reforma agrária.

No Rio Grande do Sul, cerca de mil mulheres da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), Levante da Juventude e Intersindical protestaram nesta quarta-feira (2) em frente ao Palácio da Justiça, em Porto Alegre. Integrantes vestidas de preto estiveram paradas em frente ao prédio, em silêncio, para lembrar que as mulheres têm sido silenciadas por várias formas de violência.

Na mesma cidade, cerca de mil mulheres ocupam o pátio da empresa Braskem, do grupo Odebrecht, no Pólo Petroquímico de Triunfo, região metropolitana de Porto Alegre. A manifestação tem o objetivo de denunciar que o plástico verde, produzido à base de cana-de-açúcar, é tão nocivo e poluidor quanto o plástico fabricado à base de petróleo.

Em Sergipe, cerca de mil trabalhadoras rurais estão acampadas na Praça da Bandeira de Aracaju. Até sexta-feira, elas participarão de atividades que denunciam os agrotóxicos, o agronegócio, a criminalização dos movimentos sociais e a violência da mulher.

Em Minas Gerais, o Fórum Regional por Reforma Agrária do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ocupou a sede da Fazenda Inhumas, em Uberaba, no sábado (26), em ação que envolveu 200 famílias.

Em São Paulo, desde 25 de fevereiro, várias mulheres do MST realizam ato de denúncia e reivindicação diante da prefeitura de Limeira, no interior. No último dia 24, cerca de 70 mulheres do MST e da Via Campesina realizaram a ocupação da prefeitura do município de Apiaí, localizado na região sudoeste do estado, para reivindicar o acesso aos direitos básicos, como saúde, educação, moradia, transporte e saneamento básico, que vêm sendo negados pelo município às famílias acampadas.

Marcha das Margaridas

Considerada uma das principais mobilizações do sindicalismo rural brasileiro e do movimento de mulheres, a Marcha das Margaridas será realizada nos dias 16 e 17 de agosto, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A atividade pretende reunir 100 mil mulheres trabalhadoras rurais de diferentes regiões do Brasil.

Com o lema “2011 razões para marchar por desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade”, a Marcha Mundial das Mulheres e a CUT lançam, nesta quarta-feira, em São Paulo, a quarta edição da Marcha das Margaridas.

Lançada em 2000, a marcha é realizada a cada três anos. Na sua última edição, em 2007, a mobilização reuniu em Brasília cerca de 50 mil trabalhadoras rurais de todo o país. A pauta de reivindicação girou em torno de temas como combate à violência, soberania e segurança alimentar e nutricional, terra, água e agroecologia, trabalho, renda e economia solidária, entre outros. O lançamento foi realizado no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. No próximo dia 12, a partir das 9h30, haverá ato unificado em São Paulo, com concentração na praça Roosevelt e passeata até a praça da Sé, na região central.

Com informações do MST e da Contag