CUT pede rapidez na negociação sobre mínimo a R$ 580

Dilma deve deixar assunto para fevereiro e Palocci quer que base aliada do governo se manifeste publicamente por salário a R$ 540

São Paulo – A CUT considera que é preciso rapidez na negociação pela elevação do salário mínimo a R$ 580. A entidade aguarda, em conjunto com outras centrais, resposta ao pedido de audiência apresentado na terça-feira (11) à presidente Dilma Rousseff.

A solicitação, encaminhada também a ministros, visa a que se convença o Palácio do Planalto a rever a decisão de aumentar o mínimo a R$ 540. De acordo com estudo do Dieese, a se manter o patamar atual, terá sido a única vez no governo Lula em que não houve elevação real do salário. Caso Dilma Rousseff decida ao menos compensar as perdas provocadas pela inflação, o mínimo terá de ser de R$ 543, ainda bem abaixo do esperado pelas centrais.

“Esperamos conversar com a presidente nos próximos dias. É importante que haja uma manifestação rápida em torno do tema porque, com o tempo, o assunto vai se desgastando no Congresso e cria expectativas que podem não se converter em uma boa oportunidade para nós”, argumenta Quintino Severo, secretário-geral da CUT.

Ele acredita que há possibilidade de convencer o governo com a demonstração de que o reajuste de salário é, ao mesmo tempo, o grande responsável pelo crescimento do país e pela redução da pobreza e da desigualdade. 

Enquanto isso, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, trabalha com a expectativa de manter o valor previsto em medida provisória assinada na última semana de Lula na Presidência, embora não esteja descartada a possibilidade de uma elevação a R$ 550, garantindo a reposição da inflação. 

Dilma Rousseff, por outro lado, deve se manifestar sobre o assunto apenas em fevereiro, quando o Congresso retomar os trabalhos. A avaliação transmitida pelo líder da bancada do PT na Câmara, Paulo Teixeira, é de que qualquer valor apresentado agora já estaria ‘queimado’ até o próximo mês. O deputado acrescenta que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pretende realizar uma reunião com a coalizão governista para explicar os motivos para o reajuste tímido do mínimo.

Palocci pediu aos integrantes da base aliada que emitam manifestações favoráveis à manutenção do atual patamar. O Partido Progressista (PP) divulgou nota nesta quarta-feira em que indica que seguirá a posição defendida pelo Planalto. “Considero normal essas conversas, porque somos da base aliada e temos que demonstrar claramente o apoio ao governo. É importante que a presidente Dilma tenha o apoio de todos os aliados”, disse o deputado João Pizzolatti à agência Reuters.

Também integrante da coalizão governista, o PDT promete pressão em contrário. O deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, vai apresentar emenda em que pede o reajuste do mínimo a R$ 580. “O governo está se fazendo de morto para pegar o coveiro. Sem negociação, o ônus político do veto fica com a Dilma”, defende o parlamentar, vislumbrando a possibilidade de que a presidente tenha de vetar o texto aprovado pelo Congresso.

As centrais discordam também do argumento do governo anterior de que o aumento a R$ 580 significaria, na prática, a quebra da regra estabelecida entre as partes. A previsão é de que a elevação seja sempre calculada tendo como base o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes mais a inflação do ano anterior – ou seja, o mínimo de 2011 é calculado pelo PIB de 2009 e a inflação de 2010. Ocorre que 2009 foi um ano fortemente marcado pela crise financeira internacional, o que levou a economia brasileira a uma redução de 0,2%. 

A CUT entende que é injusto fazer com que os trabalhadores paguem o preço da crise e lembra que se trata de um momento de exceção. “Em 2009, empresas, bancos e setor econômico tiveram um tratamento excepcional por parte do governo, com corte de impostos e fortes incentivos. Queremos, como trabalhadores, também ter o direito de sermos olhados de maneira especial pelo governo. Não estamos fugindo à regra”, argumenta Severo.

Paulo Pereira da Silva, por sua vez, demonstra insatisfação quanto à dificuldade em falar com a presidente. “Ninguém consegue falar com ela. Ela pode até não querer falar conosco, mas tem que indicar alguém para negociar”, reclama.