Kucinski e Dieese levam o prêmio João Ferrador

Mesa com os participantes do prêmio e convidados (Foto: Raquel Camargo/SMABC) São Bernardo – O jornalista Bernardo Kucinski e o Dieese foram os ganhadores do Prêmio João Ferrador de Cidadania […]

Mesa com os participantes do prêmio e convidados (Foto: Raquel Camargo/SMABC)

São Bernardo – O jornalista Bernardo Kucinski e o Dieese foram os ganhadores do Prêmio João Ferrador de Cidadania 2010, entregue na noite da quarta-feira (12) em cerimônia que comemorou os 51 anos do Sindicato. A escolha se deu por voto direto da categoria.

Receberam menção honrosa a Sempreviva Organização Feminista (SOF), o Movimento da Luta Antimanicomial, Ivan Seixas, do Conselho de Defesa da Pessoa Humana, e Lula Ramires, da ong Corsa, que defende os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros. 

“O prêmio João Ferrador provocou intenso debate na categoria. Não foi novidade o Dieese ganhar, pois a categoria convive com ele e reconhece a entidade há muito tempo”, disse Sérgio Nobre, presidente do Sindicato. “Também teve muito debate sobre a SOF e a Luta Antimanicomial, e isso foi fantástico”, prosseguiu.

Para ele, Bernardo Kucinski ganhou na categoria personalidade porque o trabalhador quer a democratização da mídia. “Mostra o quanto o tema é importante para a população”, comentou.

A indicação de Lula Ramires também provocou bastante debate. “Fiquei sabendo que tanto os servidores de Diadema quanto os bancários de São Paulo têm nas suas convenções coletivas o direito ao convênio médico aos companheiros e companheiras dos homossexuais e esta será uma das nossas reivindicações na próxima negociação”, adiantou.

Homenageados comentam a premiação
“O prêmio representa um desafio para que continuemos a fazer nosso trabalho, para que todos no Dieese continuem desenvolvendo o trabalho que trouxe esse prêmio. Significa também um incentivo para que continuemos no movimento sindical, junto com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que é uma referência para os trabalhadores brasileiros, junto também com as centrais. O Prêmio João Ferrador é um incentivo para continuarmos nesse caminho e que todos nós possamos construir, juntos, um País mais justo, fraterno e igualitário”.
Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese

“A indicação e homenagem do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC a um homossexual assumido é histórica. Da mesma forma que as pessoas não imaginavam que Lula seria presidente da República, eu nunca imaginei que um homossexual fosse homenageado por um sindicato. Esse é o papel do movimento social: unir todos em uma luta comum, pois apesar dos avanços obtidos nos últimos oito anos, a luta não acabou e ainda existe muita transformação que precisamos fazer neste País”.
Lula Ramires

“O João Ferrador é o prêmio mais importante que recebo em mais de 40 anos de jornalismo. Estar na Sede do Sindicato para recebê-lo representa um encontro com minhas origens. Comecei minha vida profissional como metalúrgico, fui sócio do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e o primeiro jornal em que escrevi era dirigido para metalúrgicos. O Prêmio João Ferrador me remete também às gigantescas assembleias que cobri como jornalista no final dos anos 1970. Lembro particularmente a assembleia do dia 1º de maio de 1979, quando me avisaram da morte do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Aquela morte representou a morte da tortura política no Brasil. E aquele dia representou a morte da ditadura militar, matada pelos metalúrgicos do ABC. As armas foram as greves e João Ferrador foi uma de suas munições”.
Bernardo Kucinski

“Eu era metalúrgico quando, em 2002, fui afetado por um transtorno mental. Passei a ser chamado de doidão. Estava sem emprego, sem família, doente e abandonado, quando o Movimento pela Luta Antimanicomial perguntou como podia me ajudar e cuidou de mim. O Sindicato também fez isso quando abriu suas portas para um encontro nacional do movimento. É assim que avançamos. Só temos uma frase: me dê uma oportunidade”.
Orlando Felipe Vieira, da ong De Volta para Casa, que representou o Movimento pela Lula Antimanicomial

“A SOF existe desde 1963, participamos do Instituto Cajamar e dos debates sobre cotas no PT e na CUT, pois as mulheres são minoria nos espaços de poder. Desde 2000, levamos às mulheres para as ruas com a Marcha Mundial das Mulheres. Desenvolvemos um feminismo de resistência por um projeto de igualdade no País. Tenho orgulho de ser homenageada por este Sindicato que é a referência para a classe trabalhadora no Brasil”.
Sônia Coelho, Sempreviva Organização Feminista (SOF)

O ativista político Ivan Seixas, outro dos concorrentes, não pode participar por problemas particulares.

Confira a lista dos premiados
Dieese foi criado pelo movimento sindical brasileiro há 55 anos para produzir dados às negociações das campanhas salariais. Na década de 1970, ganhou expressão nacional ao se contrapor aos índices oficiais de inflação. A recuperação dessa diferença no salário foi combustível para as greves na categoria no final dos anos 1970.

Movimento Nacional da Luta Antimanicomial surgiu para se contrapor à forma tradicional de tratar a “loucura”, caracterizada pelo asilamento e pela violência. Pela
terapia tradicional, o portador de transtorno mental internado em uma instituição psiquiátrica é alguém sem direitos, submetido ao poder da instituição e de quem o afastou e o excluiu.

Sempre Viva Organização Feminista é uma ong feminista com atuação nacional que existe desde 1963. Seu objetivo é contribuir na construção de uma política feminista articulada ao projeto democrático-popular de igualdade de relações entre homens e mulheres.

Categoria Personalidades
Bernardo Kucinski, 73 anos, é um dos mais importantes jornalistas, acadêmicos e escritores do campo progressista no Brasil. A indicação foi feita por sua contribuição ao debate sobre a democratização dos meios de comunicação no País. Além de Foi assessor da Presidência da República durante o primeiro mandato do presidente Lula.

Ivan Seixas, 55 anos, foi preso político e torturado durante a ditadura militar.
É membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana São Paulo, entidades que defendem direitos humanos e lutam pela abertura dos arquivos da ditadura.

Lula Ramires, 44 anos, é graduado em Filosofia, Mestre em Educação pela USP e coordenador de Política, Ativismo e Comunidade do Corsa – Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor. Trata-se de uma ong fundada em 1995 para a defesa dos direitos civis e humanos da comunidade LGBT.

Fonte: Tribuna Metalúrgica/Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

 

João Ferrador

Idealizado pelo jornalista Antonio Carlos Félix Nunes, o personagem João Ferrador apareceu em 1972 ilustrando e ”assinando“ uma coluna no jornal Tribuna Metalúrgica. Ganhou forma e personalidade nos traços dos cartunistas Otávio, Laerte, Vargas e Cleiton e tornou-se figura popular entre os militantes de esquerda do ABC, que fizeram moda com a camiseta do jovem operário dizendo ”hoje eu não tô bom“. A expressão simbolizava reação ao clima de arrocho salarial, carestia e repressão. João foi ícone de uma estratégia de comunicação de popularização do sindicato e de resistência à ditadura. ”É o símbolo da nossa consciência e da nossa dignidade“, escreveu o então presidente do sindicato, Luiz Inácio da Silva, no prefácio da coletânea Bilhetes do João Ferrador, lançada em 1980.