Residentes iniciam paralisação de 24 horas em todo Brasil

Médicos querem reajuste de 38,7% no valor da bolsa-auxílio e afirmam que não querem ter de decidir por greve

Os médicos residentes iniciam paralisações nesta terça-feira (13) em vários estados para reivindicar reajuste salarial. Eles querem garantir a reposição das perdas provocadas por inflação desde 2007. Naquele ano, os profissionais deveriam ter recebido um aumento em duas parcelas, mas a segunda delas não veio.

Com isso, o cálculo da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) é de que a defasagem atinja 38,7%. A bolsa-auxílio, hoje de R$ 1.916,45, passaria a R$ 2.658,11. Depois das paralisações, que serão de 24 horas em cada estado e vão de terça a quinta-feira (confira aqui o calendário), a categoria espera retomar as negociações com os ministérios da Saúde e da Educação.

Gerson Salvador, presidente da ANMR, lembra que, nesta década, os reajustes só saíram em anos de eleição. “Agora a gente está tentando fazer movimento que não é para começar greve. É uma paralisação para conquistar a opinião pública, explicar a questão para a sociedade”, afirma.

Além disso, será preciso manter conversas com deputados e senadores, responsáveis por aprovar o projeto de lei a ser enviado pelo Executivo a respeito do reajuste. Os residentes pretendem conseguir pagamento de auxílio moradia e auxílio alimentação, licença-maternidade de seis meses, jornada de 60 horas semanais e 13ª bolsa. “Queremos também estabelecer uma data-base, para todo ano poder negociar sem precisar fazer paralisação”, pontua Nivio Lemos Moreira Júnior, presidente da Associação dos Médicos Residentes do Rio Grande do Sul.

A expectativa é de que o movimento não tenha grande impacto para os pacientes em hospitais. Como a paralisação foi planejada com antecedência, cirurgias puderam ser remarcadas e a ideia é que plantonistas sejam convocados para suprir a ausência dos manifestantes.

Em São Paulo, os profissionais dos principais hospitais aprovaram a adesão ao protesto, mas prometem manter os serviços de emergência. Os médicos param na quarta-feira (14) no Hospital das Clínicas, na Santa Casa e no Hospital São Paulo, entre outros. A categoria se reúne no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, para fazer uma manifestação.

Os residentes paulistas têm uma situação diferente: a maior parte das bolsas é paga pelo governo estadual. Com isso, a defasagem apontada pela Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo é de 45,61%.

A categoria já se reuniu com representantes da secretaria estadual de Saúde e, a exemplo do que ocorreu com o governo federal, a recepção às reivindicações foi positiva. “Eles se colocaram à disposição para conversar quando for necessário, se comprometem a levar reivindicações ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde e colocar o tema na pauta, que é uma grande dificuldade nossa”, destaca João Antonio Jr, diretor-financeiro da associação paulista.

Em Brasília, o MEC mostrou-se sensível à maior parte da pauta apresentada pelos médicos, mas não concorda com o pagamento da 13ª bolsa por opinar que a residência médica é uma modalidade de pós-graduação, e não um trabalho. “A gente atende 60 horas por semana, contribui com INSS, paga imposto de renda, então temos direito de receber esse dinheiro de volta. Tudo bem que é a residência uma fase de aprendizado, mas 85% do tempo é de trabalho”, argumenta Gerson Salvador.