Congresso de mulheres metalúrgicas lança campanha por aumento da licença-maternidade

Debate lembrou diferença de tratamento dado a homens e mulheres em questões econômicas, culturais e sociais

(Foto: Raquel Camargo/SMABC)

São Paulo – O 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas lançou a campanha “Da licença, eu quero 180”, pela ampliação da licença-maternidade de quatro para seis meses. Organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de 25 a 27 de março, o evento discutiu questões relacionadas ao gênero no mundo do trabalho, na sociedade e na política.

A campanha busca mobilizar a categoria para assegurar o direito à ampliação da licença- maternidade. A direção do sindicato garante que o tema será incluído entre as reivindicações na campanha salarial 2010.

A abertura, na quinta-feira (25) contou com a presença do presidente Lula e das ministras Dilma Rousseff e Nilcéia Freire. Na sexta-feira (26), o tema debatido foi “As mulheres e os espaços de poder”.

Jandira Uehara, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Diadema, destacou três dimensões em que há diferentes tratamentos entre homens e mulheres. Do ponto de vista econômico, as mulheres recebem salários menores e são discriminadas nas promoções. O aspecto cultural atribui a elas a função de cuidar da roupa, alimentação, crianças e pessoas doentes, para que o lucro da produção possa ser maior. A dimensão política impõe uma dupla jornada as trabalhadoras, levando a uma sub-representação em organizações sociais e outras instituições.

“Com nossas conquistas dos últimos anos uma nova sociedade já começou, não só com distribuição de renda, mas com distribuição de direitos e deveres que farão todos mais felizes”, completa Jandira.

A situação da mulher no imaginário das pessoas – o espaço do sonho, da fantasia, da televisão e da literatura – foi o destaque de Walnice Nogueira Galvão, professora de literatura na Universidade de São Paulo (USP). “Por isso, prestem atenção às novelas, livros e filmes que vocês assistem, e fiquem indignadas se as mulheres não forem tratadas com dignidade nessas obras”, recomendou a professora.

A diretora do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo, lembrou o papel do 1º Congresso das Metalúrgicas do ABC, em 1978. Para ela, foi um importante movimento de resgate do trabalhador e que foi realizado sob grande tensão por causa da ditadura. “Na mesma época, eclodiram as primeiras greves da categoria na região e o movimento logo se espalhou pelo Brasil, fazendo renascer o sindicalismo no país e dando impulso fundamental para a derrubada da ditadura”, afirmou Laís.

A coordenadora da OIT no Brasil aproveitou e citou números do mais recente estudo sobre jornada de trabalho no país, que mostra os homens fazendo 48 horas por semana, enquanto as mulheres cumprem 57,4 horas.

Na plenária de encerramento, no sábado (27), a ex-ministra do Turismo e ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy disse que muita coisa mudou na trajetória histórica das mulheres dentro da representação política, mas que faltam muitos avanços.

Marta ainda afirmou que a mulher precisa aprender a votar em outras mulheres. “De cada 10 brasileiras, apenas uma vota em mulher. E nós não sabemos o porquê. A gente precisa ver de onde vem esse preconceito”, enfatizou a ex-prefeita.

“Quando uma mulher entra na política, a política muda a vida desta mulher. E quando várias mulheres entram na política, isso muda toda a política. E a gente ter uma candidata mulher abre portas pra sempre, pra nossas filhas e nossas netas”, concluiu Marta.

O 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas terminou com a aprovação de diretrizes que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vai incorporar em sua agenda. Intitulada Carta do 2º Congresso, o documento destaca reivindicações que valorizem o trabalho e o salário das mulheres, a maior participação delas nas instâncias de representação sindical e na categoria, e cria encontros anuais às trabalhadoras (confira a íntegra no site do sindicato).