Polícia de SP quer chegar a empresas que compram de escravizadores de bolivianos

Delegada acredita que empregadores detidos esta semana são parte de esquema maior e defende mudança na legislação para enquadrar compradores

A Polícia Civil de São Paulo acredita que os bolivianos responsáveis pela escravidão de compatriotas sejam parte de um esquema maior de agenciamento de pessoas para trabalhos em condição subumana. Presos esta semana, quatro bolivianos mantinham trabalhadores em situação de escravidão em uma oficina de costura na região central.

O esquema, conhecido em São Paulo, volta à cena cada vez com mais frequência e remete a tempos dos colonos europeus e japoneses trazidos para trabalhar na cafeicultura do interior paulista. Ao chegarem a São Paulo, os bolivianos já acumulavam dívidas junto aos empregadores referentes ao dinheiro da passagem. A partir daí, passavam a pagar também por moradia e alimentação.

Mantidos em acomodações precárias, de metal, os trabalhadores eram obrigados a uma jornada de até 18 horas diárias em um local abafado em que eram mantidas crianças e cachorros, sem qualquer cuidado com a higiene.

A Delegacia de Acidentes do Trabalho vai usar os materiais apreendidos esta semana para chegar aos compradores das roupas. “Ainda que não exista o crime de associação ao trabalho escravo, é importante divulgar quais são as empresas que contratavam os serviços desses boliviano para que as pessoas deixem de comprar esses produtos”, afirma Maria Helena Tomita à Rede Brasil Atual.

A policial defende que o Congresso Nacional pense em projetos que mudem a legislação atual, passando a punir as empresas que compram produtos de empregadores que pratiquem a escravidão.

Os quatro bolivianos, além de responderem pela questão do trabalho escravo, foram enquadrados em artigos sobre formação de quadrilha e exposição de pessoas à insegurança e ao perigo.

Maria Helena Tomita acredita que haja empresários chineses e coreanos por trás do esquema de confecções ilegais, lucrando duas vezes pelo serviço, já que não pagam aos trabalhadores nem recolhem impostos.

Denúncia

O caso teve início com a denúncia de um trabalhador que conseguiu fugir da oficina. Ele procurou a polícia apontando que há mais duas oficinas mantidas pelo mesmo grupo. De acordo com as apurações iniciais, os quatro detidos são amigos de um outro boliviano preso em setembro pelo mesmo crime.

Os 15 trabalhadores libertados têm medo de dar muitas informações a respeito do caso. Colocados sob o programa de proteção à testemunha, eles informaram que os documentos eram mantidos em posse dos empregadores e não sabiam da anistia concedida pelo governo federal para a regularização da situação de imigrantes.

“Eram sempre ameaçados de que seriam deportados se falassem alguma coisa. São pessoas humildes, muita gente veio do interior da Bolívia, são pouco escolarizados. São pessoas facilmente manipuláveis”, aponta a delegada.

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