Do algodão à venda de roupas, Justa Trama é referência de rede de empreendimentos
No total, mais de mil trabalhadores estão envolvidos no processo. Previsão é de 12 toneladas de produção em 2009
Publicado 30/10/2009 - 17h56
Estande montado no Conexão Solidária para expor camisetas, camisas, vestidos, chinelos e brinquedos de algodão ecológico (Foto: Roberto Parizotti)
Fortalecer os empreendimentos por meio de redes e cadeias produtivas tem sido a alternativa de várias cooperativas para escoar a produção e obter créditos. É o caso de apicultores, de cajucultores e também da Justa Trama, rede da qual participam trabalhadores organizados em empreendimentos de agricultura familiar, fiadores, tecedores, costureiras, coletores e beneficiadores de sementes.
Com estande montado no Conexão Solidária – 1º Mostra Nacional de Comercialização de Produtos e Serviços da Economia Solidária, realizada desde quarta-feira (28) até este sábado (31), em São Paulo, os representantes da Justa Trama mostram algumas peças de sua produção.
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São camisetas, camisas, vestidos, chinelos e brinquedos de algodão ecológico, comercializados em todo o país e que também começam a ganhar o mercado externo. Quando se uniram, em 2006, a produção era de duas toneladas ao ano. Para 2009, a previsão é de que se alcance a marca de 12 toneladas.
No total, mais de mil trabalhadores estão envolvidos no processo. No início da cadeia, estão os agricultores familiares reunidos na Associação de Desenvolvimento Educacional e Cultural de Tauá. Eles cultivam o algodão, sem agrotóxicos, em nove cidades do Ceará.
De lá, a matéria-prima segue para a Coopertêxtil – empresa autogestionária em Pará de Minas (MG) – responsável pela fiação e tecelagem. As roupas são confeccionadas na Coopstilus, em Santo André (SP), com roupas infantis, na Cooperativa Fio Nobre, em Itajaí (SC), com roupas artesanais, e na Cooperativa Univens, em Porto Alegre (RS), com roupas em série.
Para completar o processo, botões e acessórios são confeccionados pela Cooperativa Açaí, em Porto Velho (RO), com sementes da Amazônia que agregam valor às roupas.
O nascimento da Justa Trama aconteceu no Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre. Mas a formalização veio apenas no ano seguinte. O presidente da Fio Nobre, Ismael Eurico Souza, disse que a união na Justa Trama foi fundamental para a abertura de mercados. Hoje, além de vendas pela internet, há lojas em cada estado onde há uma das cooperativas.
“Fazemos negócios também em feiras e exposições. A Justa Trama foi a porta de entrada para o mercado nacional e também internacional. Nossos produtos são vendidos na Itália e na Espanha, através de parceiros de economia solidária. E agora temos também estilistas para desenhar as peças”, contou Ismael.
Ela destaca o que considera fundamental neste processo: “Houve um crescimento dos cooperados enquanto seres humanos, que agora não temem em se desafiar diariamente para mostrar a sua capacidade”.
Conexão
O Conexão Solidária, encerra-se neste sábado (31), no Centro de Exposições Imigrantes. Ao todo, a feira apresenta a produção de 170 empreendimentos solidários de todo o país. A Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), durante todos os dias do evento, promoveu debates, seminários e oficinas, além de rodadas de negócio entre empresários e empreendedores.
“Estamos contribuindo para que os empreendimentos possam comercializar seus produtos em maior escala, atingindo os mercados de maior consumo, como o do Sudeste”, ressaltou Ari Arolaldo do Nascimento, coordenador geral da Agência, que deverá inaugurar, em breve, uma central permanente de comercialização, em São Paulo.