Artigo do presidente da Fenaban ignora greve nacional dos bancários

Bancários de Brasília (DF) em manifestação. Campanha ignorada por Fábio Barbosa (Foto: Renato Araújo/Agência Brasil) Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo de domingo (27), o presidente do […]

Bancários de Brasília (DF) em manifestação. Campanha ignorada por Fábio Barbosa (Foto: Renato Araújo/Agência Brasil)

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo de domingo (27), o presidente do grupo Santander Brasil e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, não fez qualquer referência à greve nacional dos bancários, deflagrada na quinta-feira (24) em todos os estados e no Distrito Federal. Sob o título “Sistema financeiro: um ativo do Brasil”, ele defendeu o sistema bancário nacional e ignorou a postura adotada pelas instituições no início da crise financeira.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), ele perdeu uma oportunidade para dizer por que os bancos não atendem às reivindicações dos trabalhadores. “O presidente da Fenaban evitou uma abordagem da paralisação porque seria impossível explicar à opinião pública por que os bancos, mesmo obtendo a maior lucratividade da economia brasileira no primeiro semestre, com lucros de R$ 19,3 bilhões, e pagando bônus milionários a seus executivos, ofereceram um reajuste rebaixado de 4,5%, sem nada de aumento real, e ainda querem reduzir a PLR dos bancários para aumentar os seus ganhos”, afirma o presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, Carlos Cordeiro. “É mais um exemplo da irresponsabilidade social dos bancos contra os trabalhadores”, aponta o dirigente sindical.

No artigo, o presidente da Fenaban alinhavou uma série de dados e informações para defender a posição dos bancos no cenário atual, após a superação da fase mais aguda da crise financeira mundial. Os bancários criticam o fato de Barbosa não mencionar a postura dos bancos privados durante o período mais crítico em que foram feitas sucessivas e elevadas provisões para inadimplência que não se confirmaram, mas impactaram profundamente os balanços das instituições.

Pilar da economia

Barbosa afirmou que “a solidez do sistema financeiro” é um dos três pilares que sustentaram a economia brasileira na crise. Segundo ele, aqui “os bancos não receberam dinheiro público” porque o setor “é fortemente capitalizado, com níveis prudentes de alavancagem e baixa concentração de risco de crédito”.

Para a Contraf-CUT, há prudência de alavancagem e baixa concentração de risco porque o sistema financeiro brasileiro é o que tem as menores carteiras de crédito, cenário decorrente da opção das últimas décadas de priorizar operações de tesouraria, em que a instituição lucra com juros de títulos públicos, spreads e tarifas elevados.

A entidade contesta ainda a visão de que o sistema financeiro nacional tenha dispensado recursos públicos. Isso porque o Banco Central liberou R$ 100 bilhões de depósitos compulsórios para que os bancos irrigassem a economia com crédito, mas as instituições privadas, em vez disso, reduziram o volume dos empréstimos e “empoçaram” recursos para comprar títulos públicos. “Ou seja, os bancos privados se aproveitaram de um momento de crise para aumentar seus lucros, jogando contra a economia brasileira”, critica Carlos Cordeiro.

Bancos públicos

A ampliação da oferta de crédito no período ocorreu pela ação dos bancos públicos. Mesmo nesse setor, a mudança esteve vinculada à troca de comando do Banco do Brasil. Os bancos privados, ao contrário, contiveram as operações de crédito e aumentaram o spread.

O próprio presidente da representação dos bancos admite esse fato, ao afirmar no artigo que “mesmo os spreads médios já retornaram aos níveis de setembro de 2008”. Se os bancos privados reduziram a oferta de crédito e aumentaram os spreads no auge da crise, “significa que eles não atuaram como agentes anticíclicos como dizem, mas agiram irresponsavelmente, o que levaria a um aprofundamento da crise se não fosse a intervenção do governo e dos bancos públicos”, ressalta o secretário-geral da Contraf-CUT, Marcel Barros.

Emprego e direitos

Barbosa repetiu argumentos de campanhas publicitárias da Fenaban sobre responsabilidade social para, na visão dos sindicalistas, mascarar essa falta de compromisso com o país. “Temos um programa de valorização da diversidade entre nossos filiados”, salientou o presidente da Fenaban, omitindo o fato de que a bandeira da igualdade de oportunidades e do combate a todo tipo de discriminação e preconceito nos locais de trabalho são lutas de mais de uma década e meia dos bancários. Por um longo período, os bancos se recusaram a discutir esse tema, só se rendendo diante das pressões da categoria, dos dados contundentes da pesquisa do Mapa da Diversidade e do Ministério Público do Trabalho.

Barbosa frisou ainda que “os indicadores mais recentes mostram recuperação da produção e do emprego”, mas escondeu os dados referentes ao sistema financeiro que apontam em sentido contrário. Pesquisa realizada pela Contraf-CUT e pelo Dieese mostrou que os bancos desligaram 15.459 bancários e contrataram 13.235 no primeiro semestre deste ano, o que significou o fechamento de 2.224 postos de trabalho. É uma inversão do que ocorrera no ano passado, quando houve um aumento de 8.754 novas vagas no mesmo período. “Além disso, os bancos estão usando a rotatividade para reduzir a média salarial dos bancários, o que é inaceitável”, denuncia Carlos Cordeiro.

Passivo com a sociedade

“O artigo do presidente da Fenaban comprova que, mais do que um ativo do Brasil, o sistema financeiro possui um enorme passivo com os trabalhadores e a sociedade brasileira. Os bancos abusam por não atender as justas reivindicações da categoria e por não ouvir os clamores dos clientes e usuários. O Brasil precisa de mais crédito com redução de juros, tarifas e spread. Está na hora de os bancos fazer a lição de casa e contratar mais trabalhadores para melhorar as condições de trabalho e diminuir as filas intermináveis nas agências. Sem essas medidas, a responsabilidade social continuará sendo uma peça de marketing”, conclui o presidente da Contraf-CUT.

Fonte: Contraf-CUT

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