Pnad mostra que empresários exageraram na crise, afirma Dieese
Recuperação do rendimento é atribuída à política de valorização do salário mínimo e aos programas de transferência de renda
Publicado 18/09/2009 - 18h03
A renda média do trabalhador brasileiro vem crescendo mais rapidamente entre os mais pobres, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Os 10% com menores rendimentos viram uma expansão de 4,3% em 2008, contra 0,3% dos que têm os maiores rendimentos. Agora, a renda média do brasileiro é de R$ 1.036, contra R$ 1.019 de 2007.
Para Ademir Figueiredo, coordenador técnico de Estudos e Desenvolvimento do Dieese, os dados já estavam demonstrados nas pesquisas do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho. Além da revelação recente de que agosto passado foi o melhor da série histórica iniciada em 1992 em termos de geração de empregos, os números apontavam que a maior faixa de criação de vagas estava entre um e três salários mínimos.
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“O ajuste feito no mercado de trabalho foi excessivo. Os empresários nesse momento de crise estavam agindo de uma forma extremamente conservadora porque nada indicava que a economia brasileira estivesse em uma situação tão dramática”, afirma em entrevista à Rede Brasil Atual.
Outro ponto para o qual o coordenador do Dieese chama atenção é o Índice Gini, que mede o grau de distribuição de renda e que recuou de 0,528 para 0,521 – em dez anos, a queda é de 9%. As maiores reduções do indicador foram vistas nas regiões Norte e Sudeste.
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, aponta que os dados do Pnad expressam a dinâmica do crescimento econômico brasileiro dos últimos cinco anos. “O dinamismo da economia naquele período até a crise vinha da geração de empregos de remuneração menor. Esses empregos são fortemente influenciados pela política de salário mínimo e não muito pelas negociações coletivas de trabalho dos sindicatos”, afirma, em entrevista à Agência Brasil.
Para garantir a melhoria, Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese, lembra que é necessária a manutenção da política do salário mínimo, e que essa será uma discussão importante da conjuntura política do próximo ano. “Caso tenha um mercado de trabalho com desemprego bastante alto, na negociação de salário o trabalhador fica fragilizado. Então, a questão fundamental é ter o crescimento econômico como elemento que ajude a política de recomposição do salário”, afirma.
O presidente do Ipea acrescenta que, durante tempos de crise, o que costumava ocorrer era a combinação de desemprego e informalidade. Desta vez, no entanto, o mecanismo de ajuste adotado pelos empresários foi a rotatividade, trocando salários maiores por menores. Para a base da pirâmide social, Márcio Pochmann aponta que essa questão não foi tão forte exatamente devido à política para o mínimo.
Além do salário, é apontada como importante a questão dos programas de transferência de renda do governo federal e a proteção do mercado de trabalho. Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, acrescenta: “Além de incentivar o aumento da escolarização das pessoas, o que já tem impacto direto no nível de rendimento, com a elevação da renda do trabalhador, ele pode cobrar mais por sua atividade laboral. Se antes se sujeitava a capinar por um preço baixo, sem a mesma necessidade ele passa a poder cobrar mais caro pelo que faz”.
Com informações da Agência Brasil.