Questão de gênero permeia o problema do trabalho infantil

Pesquisadora aponta que meninas estão mais sujeitas à exploração sexual, ao passo que meninos realizam atividades que exigem força física

Lixão do Distrito Federal em que havia denúncias de exploração de mão de obra infantil (Foto: Marcello Casal Jr. Agência Brasil)

A desigualdade entre mulheres e homens é um problema que persiste em todo o planeta em pleno século XXI. Reiteradas pesquisas mostram que a questão de gênero reflete-se no acesso a oportunidades em termos de educação e no mercado de trabalho.

Segundo relatório divulgado esta semana pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres representam quase dois terços da população analfabeta em idade adulta. Pensando nisso, o documento propõe a educação infantil para meninas como uma das principais formas de combater à pobreza. As análises feitas pela instituição demonstram um fato de conhecimento antigo: mães que estudaram na infância tendem a se esforçar mais para manter os filhos na escola. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, o trabalho infantil é a principal causa de abandono dos estudos – esta sexta-feira (12) é o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.

A professora Maria de Fátima Pereira Alberto, do Grupo de Estudos sobre o Trabalho Precoce da Universidade Federal da Paraíba, aponta que trabalhar na infância tem várias implicações físicas (deformação de estruturas ósseas e musculares) e psíquicas: “há fatores de ordem cognitiva relacionados à escolaridade. Haverá atraso no desenvolvimento escolar, problema de analfabetismo, baixo nível de escolaridade. Tudo isso tem repercussão significativa na vida adulta, é o que a gente chama de capital cultural”.

A questão de gênero é determinante na constituição das atividades desenvolvidas pelas crianças. Segundo pesquisas conduzidas pela Federal da Paraíba, as meninas são 75% das crianças exploradas sexualmente no estado e, no caso do trabalho doméstico, o número é de 70%. “Há um processo de estigmatização a ponto de que muitas meninas não querem ser identificadas na escola como trabalhadoras domésticas porque se tem a visão do trabalho doméstico como algo de menos valor. Isso acaba repercutindo no processo de constituição dessas meninas e desses meninos do ponto de vista da autoestima, da cidadania, do relacionamento afetivo. Os danos são irreversíveis”, afirma a professora.

Maria de Fátima Pereira Alberto destaca que, entre os meninos, é maior o percentual de moradores de rua e um número significativo deles trabalha em feiras livres. “Por que há menos meninas em condição de rua? Porque neste caso há uma construção masculina, considera-se que são atividades creditadas ao campo masculino e que a rua é um lugar a ser habitado pelo masculino, enquanto o espaço doméstico é construído como sendo feminino. Mesmo no caso da exploração sexual, há uma construção cultural dizendo que compete à mulher esse serviço, ela continua sendo o objeto nas relações”, afirma a pesquisadora.

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