Após 30 anos da Conclat, ex-sindicalista diz que ‘rufar de tambores tem de continuar’

Na conferência de 1981, deliberação era criar central sindical unificada. Atualmente, são seis as entidades reconhecidas, mas convivência é melhor

São Paulo – O país hoje tem seis, mas foi difícil criar uma central sindical. A primeira Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) de 1981, realizada em Praia Grande, no litoral paulista, aprovou a formação de uma comissão pró-CUT que deveria organizar um congresso no ano seguinte, a fim de aprovar a criação de uma central única dos trabalhadores. Por razões diversas, esse congresso ficou para 1983, e mesmo assim dividido.

“A gente entendeu que não era o momento (1982), por causa das eleições (para governos estaduais e municipais). Foi difícil manter a coesão, mas mantivemos, até 1983. Aí dividiu mesmo”, diz Hugo Perez. Parte da tensão envolvia a ascendente figura de Luiz Inácio Lula da Silva.

Série reconta 30 anos de sindicalismo

A partir desta sexta-feira (19) até a próxima terça-feira (23), a Rede Brasil Atual publica uma série de reportagens sobre a Conclat e seus efeitos sobre o sindicalismo brasileiro. A história do movimento de trabalhadores ficou marcada pelo momento, seguido da criação de centrais sindicais, seu reconhecimento recente, durante o governo Lula.

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“No meio do caminho, diziam, o Lula ia ser candidato a governador em São Paulo. Também falavam que poderia ser visto como uma afronta aos militares. Acabamos aceitando o adiamento do congresso, mesmo não concordando. Em 1983, fomos formando a maioria. Aí tentaram outra vez impedir, não aguentamos e fomos fazer o congresso, com ou sem eles”, afirma Jair Meneguelli, que seria o primeiro presidente da CUT e hoje está à frente do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi). A CUT foi fundada em agosto de 1983. Em 1986, viria a CGT, que se dividiria três anos depois. Em 1991, foi a vez da Força Sindical.

Para o senador Paulo Paim (PT-RS), a multiplicação era inevitável. “Surgiram uma, duas, três, seis centrais. Com o tempo, vai diminuir de novo. A tendência é termos três ou quatro centrais, no máximo”, calcula o ex-dirigente metalúrgico, que vê pouca “rebeldia” neste momento. O senador era, à época da conclat, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas.

“Acho que foi um pouco nosso erro. Aquela safra (de sindicalistas) está hoje no Parlamento, e não houve a multiplicação de quadros que precisávamos fazer”, avalia. “Como o peão mudou, assim como o mundo do trabalho, nós deveríamos ter nos preparado mais para este momento. O rufar dos tambores tem de continuar. Tem de fazer barulho.”

“O movimento sindical passou a ter atuação mais política, por causa das centrais. É preciso manter a unidade na luta. Cada um tem seu próprio espaço e sua forma de atuação”, diz Hugo Perez, para quem “a democracia consolidada é uma grande mestra”.

Meneguelli destaca que atualmente as centrais conseguem ao menos conviver, bem diferente de quando ele comandava a CUT. “Quando eu ia para a Europa, para um congresso da Cisl (central italiana), por exemplo, a CGIL e a UIL (outras centrais) tinham uma hora para falar e todo mundo ouvia respeitosamente. Aqui era quase inimigo. Agora há pelo menos uma convivência.”

Olívio Dutra, então dirigente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre lembra que a própria formação da CUT representou uma ruptura, surgindo contra dirigentes que temiam uma renovação caracteriza por um movimento mais forte nas bases sindicais. “Queríamos uma central única, mantendo internamente sua diversidade. Em 1980, havia uma semente disseminada nas oposições sindicais: democratização no sindicato, organização de baixo para cima. Vejo que ainda existe esse debate sendo travado na CUT, e às vezes travado.”

Para Avelino Ganzer, alguns valores não podem se perder, como solidariedade, ética e indignação. “No fundo, havia alguma coisa como se fosse cimento, que era a confiança.”