Greve na USP: manifestantes pedem saída da PM e da reitora

Maioria de estudantes e funcionários protestou em São Paulo por democratização da universidade e eleição para reitor. Veja fotos e vídeos do ato que saiu da Paulista até o Centro

Estudantes, funcionários e professores da Universidade de São Paulo (USP) foram às ruas da capital paulista nesta quinta-feira (18) protestar contra a presença da Polícia Militar no campus e exigir saída da reitora Suely Vilela. Democratização interna e eleição direta para o cargo de reitor também integraram a pauta de reivindicações. A manifestação foi acompanhada pela Rede Brasil Atual via Twitter.

Segundo alguns dos organizadores, 10 mil pessoas participaram. Outros estimam cinco mil. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) estima em 2.500, enquanto a PM calcula 1.500 manifestantes. Aos gritos de “Não ao Choque, não! Fora reitora” e outras palavras de ordem, o percurso estabelecido foi do Múseu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) até o Largo São Francisco, no centro da cidade.

USP: protesto em São Paulo 4

Além de apitos e tambores, faixas criticavam a mídia e recorriam até ao técnico da seleção brasileira de futebol Dunga (foto). O estudante de Ciências Sociais da USP afirma que dois fatos ruins ocorreram nos últimos meses: Dunga na Seleção Brasileira e Polícia Militar no campus. Para ele, um dos dois precisa sair:

– Mas o Dunga ganhou hoje, e agora? – perguntamos ao manifestante

– Bom, só resta a PM sair.

“Datena, Boris Casoy e Bonner: capachos dos ricos”, lia-se em uma das faixas carregadas pelo estudante Antonio Augusto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília (SP). Para ele, a mídia “trata policiais como bonzinhos e os estudantes como malucos. Desvirtua os conceitos”.

“Universidade pública deve ser democrática. Quando não há confiança entre quem dirige e quem é dirigidos, quem dirige deve sair” – Fábio Konder Comparato, professor da Faculdade de Direito da USP

O Largo São Francisco é onde fica a sede da Faculdade de Direito da USP. O prédio permaneceu fechado desde a manhã por ordem do diretor da unidade, João Grandino Rodas, por conta da manifestação. Atividades como bancas de mestrado e aulas foram suspensas.

 

Comparato

O professor da Faculdade de Direito da USP, Fábio Konder Comparato, questionou a gestão de Suely Vilela que, em sua visão, age como secretária do governo de José Serra. “Universidade pública deve ser democrática. Quando não há confiança entre quem dirige e quem é dirigido, quem dirige deve sair”, avalia.

Para Comparato, o Conselho Universitário deveria ser composto de representantes em igual proporção entre as três categorias. Atualmente, a principal instância de decisão da universidade conta com 85% de representação de professores, enquanto o restante é de estudantes e funcionários não-docentes. As mudanças defendidas pelo jurista incluem a eleição direta do reitor.

Outro acadêmico de destaque, Leonel Itaussu de Almeida, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, acrescentou que “não adianta remover o tirano e deixar intactas as estruturas que sustentam a tirania. Precisamos de uma estatuinte livre e soberana para democratizar a Universidade. As reformas da democracia brasileira ainda não adentraram os portões da USP”.

Ao ver o Largo São Francisco repleto de manifestantes, o docente fez questão de fazer uma conexão com os tempos em que era estudante, no fim da década de 60. Ele lembra que, na ocasião, o local ficou estreito para tantas pessoas, e agora a história se repete com “pessoas preocupadas com a democratização da Universidade. Acho que a questão central é a radicalização e o aprofundamento da democracia. Em 1968, estávamos tentando transitar de um regime autoritário para uma democracia política. Hoje, a luta é por aprofundar essa democracia, transformando-a também em uma democracia econômica e social”. Ao mesmo tempo, ele lamentou que o prédio da Faculdade de Direito tenha permanecido fechado ao longo do dia: “é parte da minha vida e me entristece profundamente porque as velhas arcadas dessa antiga academia fecham-se para os anseios pontuais da sociedade”.

Funcionários

Apesar da decisão do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) de promover o reinício das negociações, fechadas desde o fim de maio, os grevistas mantêm uma exigência. “Enquanto tiver PM (no campus), o Fórum das Seis não entra na reitoria”, garante Magno Carvalho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). O Fórum das Seis reúne representantes dos trabalhadores das três estaduais.

Para Gino Mariano, membro do conselho da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp), de Bauru (SP), a repressão da PM no campus da USP fortaleceu mais o movimento no interior. Ele concorda com a availação de Carvalho: “Quando o Cruesp fecha o diálogo, a democracia cai por terra”.

João Zanetic, presidente eleito da Associação dos Docentes da USP (Adusp) afirmou que os professores querem mais do que eleições para reitoria. “A situação não se esgota na saída de Suely Vilela. Temos que criar um processo democrático de reforma de estrutura de poder. O ‘Fora, Suely’ vem em função da estrutura autoritária que nós temos”, defende.

Manifestação

A saída atrasou quase duas horas, segundo os organizadores, para aguardar a chegada de sete ônibus com representantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A vinda de funcionários e estudantes do interior foi o motivo para o adiamento da marcha de terça para esta quinta-feira.O trânsito das avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antônio foi interrompido enquanto a passeata percorria as vias. Durante todo o percurso, a PM escoltou os manifestantes, mas, apesar das palavras de ordem contra a corporação, não houve tensões sérias.

Antes da partida, o comandante da PM, Major Vanderlei, declarou à imprensa com um sorriso no canto da boca: “se saírem do programado, apenas observem. Verão nossos melhores homens em ação”.

O momento mais tenso da passeata não envolveu policiais. Na esquina das avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antônio, garrafas de vidro foram atiradas do alto de um prédio contra os manifestantes. Pelo menos uma pessoa ficou ferida.

Movimentação no Congresso

Presente no ato, o deputado federal Ivan Valente lamentou que a bancada do PSDB tenha obstruído sessões do Congresso que previam a abertura de uma comissão da Casa para investigar a repressão promovida pela Polícia Militar semana passada na Cidade Universitária. “Colocar a polícia no campus é algo absolutamente reprovável, é para ser repudiado por toda a sociedade. E lamento que o congresso nacional não teve a sensibilidade para criar uma comissão. Não cabe nem à reitora chamar a polícia nem ao governador José Serra autorizar a entrada no campus porque é violência certa. O campus é lugar de saber e de conhecimento”, afirmou à reportagem.

Questionado sobre a política estadual para a educação, o parlamentar do PSOL respondeu que “é como a política econômica do governador, neoliberal. É a política de vigiar e punir, seja para o ensino básico, seja para a Universidade. É a lógica mercantilista, é a lógica de privatizar das fundações”.

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