Pastores divulgam carta contra Feliciano; PSC pode rever indicação para CDHM
Mais de 150 líderes evangélicos de todo o país fizeram circular documento em que rebatem acusações de que oposição ao nome do deputado seja 'cristofobia'
Publicado 12/03/2013 - 11h45
São Paulo – Pastores evangélicos divulgaram ontem (11) uma carta aberta contra a posse do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O religioso assumiu a liderança do colegiado na última quinta-feira (7) depois que um acordo entre as maiores bancadas garantiu ao seu partido o direito de dirigi-lo. Deputados do PT, PSOL e PSB historicamente ligados aos direitos humanos reagiram contra a ascensão de Marco Feliciano e deixaram a sessão que o elegeu. Protestos contra o deputado pipocaram na internet e nas ruas no último fim de semana. Ontem à noite, ao participar de um culto em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Feliciano voltou a enfrentar manifestações contra ele.
“O quadro que assistimos no processo de eleição da presidência da comissão foi desolador. Não se trata aqui de pré-julgar o presidente recém-eleito, mas não há como desconsiderar seus vários comentários públicos sobre negros, homossexuais e indígenas, declarações que inviabilizam a sustentação política de seu nome entre os que atuam e são sensíveis às temáticas dos direitos humanos”, argumenta a carta dos religiosos, que conta com mais de 150 assinaturas e está sendo divulgada pela Rede Fale – organização que congrega várias correntes evangélicas e que já na semana passada começara uma campanha contra a indicação de Feliciano.
- Deputados querem reverter domínio conservador na Comissão de Direitos Humanos
- Ex-ministro de Direitos Humanos fica em comissão para evitar ‘desmoralização’
- Secretário de Direitos Humanos de SP critica pastor no comando de comissão
- Para Vannuchi, ‘rolo compressor’ do PSC prejudica política de direitos humanos no país
- Deputados de esquerda querem formar comissão ‘paralela’ de Direitos Humanos
- Feliciano assume Direitos Humanos e esquerda se retira da comissão
- Em vídeo, deputado-pastor pede doações aos fiéis: ‘deram cartão, mas e a senha?’
- Após bate-boca, eleição para Comissão de Direitos Humanos será a portas fechadas
- PSC resiste a pressões e indica pastor para Comissão de Direitos Humanos
- Evangélicos se opõem à indicação de pastor para presidir Comissão de Direitos Humanos
- Líder do PSC insiste em ter o comando da Comissão de Direitos Humanos
- Bancada do PSC define à tarde presidente da Comissão de Direitos Humanos
- PT tentará convencer PSC a não indicar pastor para Direitos Humanos da Câmara
- ‘Mudança de prioridade’ do PT pode levar conservador ao comando dos Direitos Humanos da Câmara
“O ano de 2013 pode trazer avanços nos trabalhos da Comissão de Direitos Humanos e por isso fazemos este apelo aos líderes das igrejas que apoiaram os parlamentares evangélicos. Nosso pedido, aliás, se junta à conclamação de vários setores da sociedade e perpassa não somente movimentos ligados às lutas de minorias, mas também a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e diferentes indivíduos e organizações”, continua a carta. Os pastores também fizeram questão de rebater as críticas de Feliciano a seus opositores. O religioso tem dito que um sentimento anticristão ou antievangélico tem feito com que setores da sociedade se coloquem contra sua indicação para presidir o grupo.
Reavaliação
“Cumpre discernir que não há uma perseguição aos evangélicos; há, sim, uma situação de conflito que precisa ser equacionada, especialmente porque, para nós, o compromisso do Evangelho com os mais pobres e vulneráveis é central”, esclarecem os pastores. “Ainda há tempo para a indicação de um novo parlamentar que, a despeito de suas convicções, traga pacificação e consenso à sociedade brasileira, presidindo a comissão com a isenção esperada. É tempo para nova disposição, numa postura aberta, a fim de que seja viável a indicação pelo PSC de um outro nome, que não possua tamanha rejeição.”
Ontem o líder da bancada do PSC na Câmara, deputado Andre Moura (SE), afirmou em nota que o partido fará uma reunião na tarde de hoje para avaliar as reações favoráveis e contrárias à indicação de Feliciano.
“A discussão saiu totalmente do campo político e se transformou numa batalha de interesses contrariados”, disse o parlamentar. “Sinto que é preciso dialogar. Temos plena confiança que deputado Feliciano desempenhará o cargo com eficiência e respeito a todas as correntes de opinião. Contudo, a Câmara e o PSC precisam estar em sintonia com o sentimento da sociedade brasileira.”
A RBA não conseguiu falar com Andre Moura. Sua assessoria confirmou que, por enquanto, a discussão sobre a permanência ou não de Feliciano na presidência da comissão não está em pauta. O que o PSC vai avaliar durante a reunião seriam as reações da sociedade, não a indicação do parlamentar.
Na semana passada, o líder do partido afirmou que, como o PSC havia conseguido o direito de presidir a comissão, a escolha do parlamentar para o cargo competia apenas à sigla.