Para Haddad, São Paulo perdeu capacidade de propor soluções

Pré-candidato do PT à prefeitura afirma que Gilberto Kassab perdeu a oportunidade de resolver problemas estruturais e que, diferente do Brasil, a São Paulo não é referência para o mundo

Fernando Haddad aponta que São Paulo não cumpre seu dever de colaborar para o desenvolvimento nacional (Fotos: Maurício Morais/Rede Brasil Atual)

São Paulo – O pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou hoje (8) que São Paulo perdeu a oportunidade de resolver seus problemas estruturais em um contexto de crescimento econômico e criação de empregos. Em entrevista coletiva organizada pela Rede Brasil Atual para veículos das mídias não comercial e sindical, com a participação de blogueiros, o ex-ministro da Educação afirmou que é preciso retomar o pensamento de longo prazo para a cidade. 

“Hoje há uma consciência de que o desenvolvimento nacional depende do desenvolvimento das cidades”, disse. E chegou a comparar a relação inversa entre a cidade e o país no cenário internacional – no qual o Brasil tem sido referência no que diz respeito a gestão pública. “Incomum é o fato de que embora o Brasil desperte hoje o interesse da literatura, a cidade de São Paulo não figure como geradora de soluções inovadoras.”

Durante a entrevista, o petista voltou a lembrar que a vida dos cidadãos melhorou em termos de acesso a bens duráveis e de salário durante os nove anos dos governos Lula e Dilma. Porém, no caso de São Paulo não houve política pública para valer-se do bom momento econômico em prol da construção de políticas públicas de longo prazo. 

Haddad adiantou que vai trabalhar seu plano de governo sobre quatro eixos: transporte público, moradia, saúde e educação. “São temas interligados entre si e que dialogam com todas as dimensões da vida numa cidade.” Para o pré-candidato, a atual administração agravou os problemas antes existentes e interrompeu os planos criados durante a gestão de Marta Suplicy (2001-2004). 

Haddad aponta que os trabalhadores estão sendo expulsos da cidade pela falta de uma política de ocupação do solo

Ele acredita que falta garantir a conexão entre criação de oportunidades e transporte público. “A zona residencial parece só ter capacidade de se expandir para a zonal leste, enquanto as principais  propostas de trabalho se concentram nas regiões do centro e de parte das zonas sul e oeste.” O petista lembrou que esse fenômeno torna os deslocamentos dentro da cidade cada vez mais demorados devido ao aumento do trânsito. “É como se a cidade pudesse ser vista por círculos em que os mais distantes são reservados para a população pobre. Não há orçamento de mobilidade urbana que dê conta desses desequilíbrios.”

Com isso, o caminho seria a criação de novos polos de desenvolvimento aliada a uma melhor organização da ocupação do solo. Haddad lamentou que a gestão de Gilberto Kassab (PSD) abdique de seu papel regulador, incentivando o setor privado a tomar conta dos terrenos disponíveis. Na visão dele, estão em curso um aumento da construção de prédios e uma diminuição dos moradores de determinadas regiões, com os trabalhadores sendo expulsos da cidade. 

Ao lado do diretor da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador, e do deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino, Haddad pede do governo estadual mais investimento em transportes

“Estamos com um problema crônico e não temos uma agenda de desenvolvimento urbano para a cidade”, critica. Ele vê o projeto Nova Luz, que concede um bairro da região central à iniciativa privada, como um empreendimento de “desvitalização” da cidade, em contraposição ao sentido de revitalização. “A prefeitura não tem solução para esses problemas. É quase uma gestão provinciana. É uma visão tacanha de uma cidade que tem o direito e o dever de contribuir para o desenvolvimento nacional. São Paulo deve fazer parte do plano nacional de desenvolvimento.” 

Sobre a parceria com o governo estadual, comandado há quase duas décadas pelo PSDB, Haddad enfatizou a questão do transporte público. Ele propõe que a prefeitura passe a ter um papel de contratante das obras do metrô e dos trens metropolitanos, impondo prazos e prioridades para o desenvolvimento da cidade. 

Em torno da área de saúde, o petista lembrou que Kassab e o governador Geraldo Alckmin se somaram em uma visão de administração que tira do Sistema Único de Saúde (SUS) o papel de gestor, atribuindo à iniciativa privada não apenas a gestão como a entrega de leitos antes destinados a toda a população.