Para Protógenes, pedido de CPI da Privataria evita risco a autor de livro sobre tucanos

Autor de pedido de investigação das privatizações dos anos 1990 na Câmara aposta em articulação de informações

São Paulo – O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) afirmou que levar ao Congresso Nacional as denúncias contidas no livro “A Privataria Tucana” foi importante para evitar riscos ao autor do livro, Amaury Ribeiro Júnior. Durante lançamento da obra no início desta quinta-feira (21), na região central de São Paulo, o autor do pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Federal insinuou que o jornalista correria risco de sofrer um atentado se não ocorresse uma resposta da sociedade.

“O livro do Amaury é como ‘cafezinho carioca’, é gostoso de tomar e até vicia”, brincou Protógenes. “Quando comecei a ler o livro e a acompanhar as pressões que este importante jornalista estava sofrendo, decidi dar minha contribuição. para dizer que esse jornalista não está sozinho.”

“Não poderíamos demorar muito para não perder o ‘timing’ e perder o Amaury”, lembrou. “Você viraria estatística, sofreria um ‘assalto’, diriam que reagiu e perderíamos um jornalista”, insinuou.

O livro traz documentos e informações contra o ex-caixa de campanha do PSDB e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil na década de 1990 Ricardo Sérgio, apontado como “artesão” dos consórcios de privatização em troca de propinas. Outro citado é o ex-governador paulista José Serra (PSDB), que tem familiares apontados como agentes de lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos na venda de estatais.

Para o delegado, ainda que Amaury Ribeiro Júnior detenha muita informação, mas outras pessoas investigaram casos relativos à privatização. “São informações complementares que muitas pessoas sabem. Já começamos a preparar uma rede para exercitar na CPI da Privataria.

“(O pedido de CPI) é um pedido dos trabalhadores, estudantes, é a resposta. O fantasma da privatização ronda o país”, declarou o deputado. Embora a velha mídia tente taxar as denúncias como “requentadas” e já investigadas em outros momentos, como a CPI do Banestado (de 2004), o Protógenes afirma que os desvios das privatizações não passaram por escrutínio.

O requerimento foi protocolado nesta quinta na Câmara, com 206 assinaturas. “Só não teve mais assinaturas porque é o final do período (pré-recesso parlamentar)”, comemorou Protógenes. Segundo ele, os parlamentares que assinaram o requerimento já não podem mais retirar o apoio. Os trabalhos devem começar a partir dos bastidores da privatização, com indícios de fraudes e movimentações suspeitas.

A expectativa é de que o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), abra a comissão em fevereiro de 2012, depois do recesso. O lançamento desta quinta foi o primeiro ato político concreto para demandar a CPI, segundo Protógenes. 

Além de Protógenes, o autor do livro, Amaury Ribeiro Júnior, e o jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim também participaram do evento, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. 

Riocentro

Paulo Henrique Amorim afirmou que o livro é “o coquetel, o antepasto do que vamos ver na CPI”. Para ele, o alvo do livro e da comissão é “a maior roubalheira das privatizações na América Latina”.

A seguir, lembrou que líderes como Alberto Fujimori, no Peru, Carlos Menem, na Argentina, Carlos Salinas, no México enfrentaram problemas com a Justiça. “Enquanto isso Fernando Henrique Cardoso cobra R$ 50 mil por palestra. Aqui o levam a sério”, protestou.

O jornalista lembrou ainda que a privatização no Brasil “não é geneticamente diferente” da feita no México, na Argentina e no Peru. Para ele, todos esses casos foram marcados pelo que o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz chama de “briberization” (distribuição de propina, em tradução livre).

Lembrou que Amaury afirma ter que a compra da Telemar na privatização das telecomunicações em 1998, houve pagamento de propina pelo empresário Carlos Jereissati a Ricardo Sérgio de Oliveira – ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e ex-caixa de campanha do PSDB. E acredita que a CPI pode mostrar ação do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e investigado pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008.

“A ‘Privataria tucana’ é a mãe de todos os malfeitos. A consultoria do (Antonio) Palocci, as ONGs do Orlando (Silva) e o duplo emprego do (Carlos) Lupi é coisa de criança ante a roubalheira da privatização”, afirmou. A alusão é três dos seis ministros do governo Dilma Rousseff que pediram demissão depois de serem acusados de envolvimento com tráfico de interesses e suspeitas de irregularidades.

Paulo Henrique Amorim vê o livro como a “bomba do Riocentro no colo do governo”. O episódio de 1980 durante show em um momento em que o governo autoritário ensaiava abertura política e negava manter tortura e repressão. O episódio mostrou mentiras do então governo de João Figueiredo.

Para ele, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) é o governo Lula e o governo Dilma. “Sem CPI do FHC, Dantas e Serra, todos os malfeitos prosperarão, mesmo o dos pés de chinelo”, profetizou.

O jornalista cobrou um comportamento do governo Dilma análogo à chamada faxina implantada pela administração em ministérios alvo de acusações de corrupção. “Não adianta falou grosso com o Lupi e falar fininho com o Dantas.” 

 

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