Lideranças do PV atacam direção, mas prometem buscar unidade

Gabeira e Marina em coletiva após reunião em São Paulo: críticas à organização interna (Foto: Danilo Verpa/Folhapress) São Paulo – Lideranças do Partido Verde de todo o país reuniram-se na […]

Gabeira e Marina em coletiva após reunião em São Paulo: críticas à organização interna (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

São Paulo – Lideranças do Partido Verde de todo o país reuniram-se na noite desta quinta-feira (24) para criticar a atual direção da legenda e pedir democracia interna. Com ânimos mais ou menos acirrados, os expoentes alfinetaram e até atacaram veladamente figuras como o deputado federal José Luiz de França Pena (SP), presidente nacional do PV, a quem se atribuem entraves para levar adiante a reformulação programática da sigla. O evento na zona oeste paulistana marcou o lançamento do movimento Transição Democrática, um misto de tendência partidária com mobilização por mudanças.

Entre as figuras presentes, os mais celebrados foram a ex-senadora e candidata terceira colocada à Presidência da República, Marina Silva (AC) e o ex-deputado federal e segundo na disputa estadual fluminense, Fernando Gabeira. O presidente PV no Rio de Janeiro, deputado federal Alfredo Sirkis, foi o primeiro a falar e o que mais longamente ocupou a palavra. Diversos deputados federais e estaduais, além de prefeitos, compareceram com posições pouco coesas.

“O partido de 2011 não pode ser o partido de 2009”, resumiu Sirkis. “Nesse período, tivemos a campanha de 2010, uma campanha sem recurso e desacreditada que teve quase 20 milhões de votos. Isso representa um fato histórico e o PV tem de ser o primeiro a levar isso em conta”, apostou.

Os principais pontos de crítica dizem respeito à organização interna. A maior parte das executivas estaduais e a totalidade das municipais é nomeado provisoriamente pela instância imediatamente superior. Com isso, os diretórios acabam “amarrados” e sem autonomia. Eles defendem uma convenção nacional para discutir programa partidário e definir normas para convocação de eleições para todos os níveis da legenda.

A gota d’água que deu origem ao movimento ocorreu em 17 de março, durante uma reunião da executiva nacional. Penna conseguiu aprovar, por 26 votos a 19, a prorrogação de seu mandato como presidente do PV em até um ano a mais. O mandato duraria até abril e até poderia ser estendido provisoriamente até a realização de seminários e da convenção partidária, mas a decisão de levar a definição para 2012 gerou insatisfação. A avaliação é que, por ser um ano eleitoral, as possibilidades de atrair militantes e expoentes do movimento socioambiental – seja como simples filiados, seja como postulantes a prefeituras – seriam menores. Mais grave, segundo Sirkis, seria inviabilizar a discussão interna, já que as atenções estariam voltadas ao pleito.

O autor da proposta de prorrogação foi o deputado federal José Sarney Filho (MA). Ele e Penna foram alvo de recorrentes ataques durante o evento da noite desta quinta, embora todos velados. A única menção nominal a Penna foi de Marina Silva, que lembrou sua participação no convite de filiação para que ela trocasse o PT pelos Verdes em 2009. Apesar das críticas, o teor das falas foi o de conclamar a união do partido, prestes a completar 25 anos de fundação.

Sirkis defendeu que a fórmula de nomeações provisórias como uma necessidade até dois anos atrás para “proteger” a agremiação de “aventureiros” que não tivessem vínculos programáticos. “Mas hoje, vivemos outra fase”, defendeu. Atualmente, o mecanismo cria instabilidade e serve a lideranças que estariam pressionando e ameaçando de intervenção os diretórios cujos presidentes ameaçam se “rebelar”. Isso teria ocorrido no Paraná e em São Paulo. A necessidade de limitar mandatos de presidência dos diretórios a dois anos sem reeleição é um dos pontos defendidos pelo carioca.

Marina descartou a possibilidade de desistir de lutar pela revisão dos princípios partidários. “Não existe grupo da Marina”, pontuou. Ela lembrou dos compromissos anunciados por expoentes do PV para que ela aderisse à legenda. À época, segundo ela, já havia a perspectiva de rediscutir diretrizes e promover renovação, a partir de uma candidatura própria à Presidência. “Para entrar nesse partido (que será revisto) eu me animo e me mobilizo, Estou no PV dos que estão aqui e dos que não estão”, afirmou Marina.

Ela defendeu que o PV precisa aproveitar o período entre eleições para “ressignificar” sua visão. “Precisamos sair da velha lógica de só discutir eleição e não ideias. O que partido faz fora da eleição? se atualiza, se ressignifica”, defendeu. “Não estamos contra ninguém, estamos a favor. A favor da democracia e da nova política que propusemos na campanha de 2010”, resumiu reiteradas vezes durante seu discurso.

Mediação

Afastado de mandatos e da vida partidária, Fernando Gabeira disse ter comparecido à reunião para tentar acalmar os ânimos e evitar que a divisão do partido se expandisse. “Estou sem mandato, por isso trabalhando como jornalista e escritor, mas também tenho a militância partidária como uma das minhas atividades”, começou. “Mas me parece que a principal divergência diz respeito ao prazo para o processo de democratização, porque todos concordam com a renovação do Partido Verde”, contemporizou.

Ele disse ter conversado com alguns dos diretores que estariam “do outro lado” do PV, deixando no ar uma disposição de servir de intermediário na negociação. Gabeira mostrou-se preocupado com a forma como o PV foi descrito na mídia, apontando divisões e o risco de um racha. “Assim, parecemos como os demais partidos”, alertou.

Justamente por defender que o PV aposte em uma “nova forma de fazer política”, Alfredo Sirkis avisou que as diferenças entre os grupos vão muito além do prazo para a convenção e para a revisão programática. “Havia um consenso oco”, acusou. Segundo ele, mesmo Penna e Sarney Filho não discordavam da pauta voltada à democratização mas, logo em seguida, propuseram a ampliação do mandato.

Programa

Diversas lideranças cobraram ações do PV diante de temas colocados globalmente, como o aquecimento global e os desastres naturais e nucleares. A proposta foi de promover manifestações em Angra dos Reis contra a construção da terceira usina nuclear, especialmente depois da catástrofe em Fukushima.

Fábio Feldman, ex-deputado constituinte e candidato do PV ao governo de São Paulo, defendeu que o PV encabece uma manifestação contra Angra 3, além de apresentar projetos de lei que estabeleçam plebiscitos sobre a possibilidade de cada estado da federação instalar usinas nucleares. 

Feldman, aliás, protagonizou o episódio cômico da noite. Logo no início da solenidade, ele caiu em um espelho d’água no salão onde ocorreu o evento. Enxarcado, teve de ir buscar roupas secas e adiar sua intervenção. Marina Silva aproveitou o contexto para capitalizar politicamente a cena: “Foi o batismo da democracia”.