CIA prevê vingança, mas analistas apontam Bin Laden menos influente dentro da Al Qaeda

Rede já operava de modo descentralizado antes. Outros ideólogos fundamentalistas devem assumir posto de liderança anti-Estados Unidos

Policial em Karachi, capital do Paquistão, integra reforço de vigilância por risco de reação de extremistas (Foto: © Athar Hussain/Reuters)

São Paulo – Após o anúncio da morte de Osama Bin Laden, apontado como principal comandante da rede fundamentalista Al Qaeda, analistas divergem sobre reais riscos de atentados terroristas como reação. É consenso entre pesquisadores que a rede é muito mais fragmentada atualmente do que há 10 anos, à época dos ataques de 11 de setembro.

O diretor da agência de inteligência americana (CIA, na sigla em inglês), Leon Panetta, disse nesta segunda-feira (2) que é “quase certo” que a Al Qaeda tentará vingar-se pela morte de Bin Laden. “Bin Laden está morto, mas a Al-Qaeda não. Os terroristas quase certamente tentarão vingá-lo. E nós devemos – e iremos – continuar atentos e determinados”, afirmou Panetta.

Mais cedo, militantes do Talebã e da Al Qaeda no Paquistão anunciaram que a morte de Osama Bin Laden “não vai ficar sem resposta”.  O porta-voz da principal facção paquistanesa do Talebã, Ehsanullah Ehsan, avisou que a morte de Bin Laden será vingada.

Especialistas em combate ao terrorismo descrevem um movimento em constante mutação que é mais difícil de caçar agora por ser cada vez mais difuso – uma mistura multi-étnica, regionalmente dispersa e influenciada pela internet. Parte deles atribui a bombardeios no Afeganistão o motivo por que a liderança internacional foi enfraquecida. O fato é que, desde os ataques no metrô de Londres, que mataram 52 pessoas em 2005, o grupo não executou ataques em países europeus nem nos Estados Unidos.

Alguns analistas chegam a comparar a Al Qaeda a uma “franquia”, especialmente em áreas de conflito, como o Iraque ainda ocupado militarmente por aliados dos EUA, e no Iêmem, que vive uma crise política. Grupos extremistas religiosos podem se autointitular como pertencentes à rede mesmo sem conexões reais sequer em fases de treinamento e planejamento. “As coisas se transformam, mas as pessoas que conhecem a Al Qeda sabem que eles têm aquele sistema do polvo, têm ramificações no mundo inteiro”, alerta Maria Aparecida Aquino, professora de História da Universidade de São Paulo, à Rede Brasil Atual.

Segundo o Asia Times, os levantes populares no Oriente Médio e Norte da África contrários aos governos locais propiciaram uma investida do grupo de Bin Laden. Extremistas islâmicos no Paquistão e Afeganistão teriam se unido contra as forças de ocupação da Organização das Nações Unidas (ONU) em solo afegão. Ele teria tido encontros com líderes de grupos jihadistas paramilitares (milícias de soldados fundamentalistas, que acreditam lutar em uma guerra santa).

“Ao longo dos últimos anos, Bin Laden já se convertera mais em figura popular icônica e deixara a função de comandante de guerra”, escreveu Syed Saleem Shahzad, no Asia Times. Segundo o jornalista, diversas ações vinham sendo organizadas pelo egípcio Ayman al-Zawahiri além de outras lideranças. “Por tudo isso, nada autoriza a pensar que haja alguma modificação importante nos processos e mecanismos operacionais”, avalia.

“Com relação à liderança de operações terroristas, Bin Laden de fato não era o principal há algum tempo”, disse Paul Pillar, ex-funcionário sênior da inteligência norte-americana, à Reuters. “A incitação da maioria das operações ocorria na periferia e não no centro – e pela periferia, incluo grupos como o AQPA (Al Qaeda na Península Arábica, instalada no Iêmem), mas também entidades menores.”