Morales luta contra si em campanha eleitoral na Bolívia

Sem adversários à vista, presidente vai ao reduto opositor de Santa Cruz na tentativa de ampliar votos na região e chegar aos 70% das preferências em todo o país

O presidente da Bolívia, Evo Morales, lançou a si o desafio de garantir 70% dos votos e maioria qualificada no Legislativo (Foto: Valter Campanato. Agência Brasil)

O presidente da Bolívia, Evo Morales, terá neste domingo (22) um momento tenso de sua campanha à reeleição, no pleito que terá o primeiro turno em 5 de dezembro. Ao longo de todo o dia, Morales visitará a cidade de Santa Cruz de la Sierra, capital do departamento em que a oposição ao presidente é mais forte e mais agressiva, tanto em termos econômicos quanto físicos.

A chegada de Morales à região ocorre uma semana depois de candidatos do oficialismo terem sido atacados por grupos que destruíram escritórios de campanha em Santa Cruz, além de atacarem jornalistas de emissoras estatais. Em desagravo, o presidente convocou a presença de sindicalistas e integrantes de movimentos populares para os atos do fim de semana.

O presidente chega ao reduto opositor com a sensação de que disputa as eleições contra si. De acordo com uma pesquisa divulgada esta semana, Morales conta com 52% das intenções de voto, 34 pontos a mais que o segundo colocado, o ex-governador de Cochabamba Manfred Reyes Villa.

Em que pese o levantamento ter sido divulgado pelo jornal El Deber, de oposição, o fato é que o presidente cresceu cinco pontos em um mês, suficiente para acreditar que a fatura será encerrada em 6 de dezembro. Para vencer, Evo Morales precisa de 50% mais um dos votos ou de 40% caso a vantagem sobre o segundo colocado seja superior a dez pontos – ou seja, no atual momento ele conta com 24 pontos de “gordura”.

Com tamanha sobra, o presidente agora luta para superar-se e afirma que quer chegar a 70% das preferências. O Movimento ao Socialismo (MAS), partido oficialista, aposta para isso nas distorções das pesquisas de intenções de votos. O MAS calcula que está sempre com vinte pontos a menos nos levantamentos na comparação com a realidade, uma diferença que se deve ao problema no cômputo de opiniões em zonas rurais.

Além disso, Morales faz campanha contra o chamado “voto cruzado”, que consiste em votar nele para presidente e em políticos de oposição para a Assembleia Legislativa Plurinacional. Na atual legislatura, o oficialismo contou com maioria simples, suficiente para aprovar alguns projetos, mas sempre teve dificuldades para alcançar a maioria qualificada – dois terços das cadeiras parlamentares. “Quem fala de voto cruzado é um traidor, irmãs e irmãos, deste processo de mudança”, acusou nesta semana o presidente.

Para o analista político Carlos Cordero o único obstáculo – ainda que pequeno – no caminho é o processo contra o segundo colocado, Manfred Reyes Villa. Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele avalia que a ação judicial movida por desvio de recursos na construção de uma ponte (quando Villa era governador de Cochabamba) pode ajudar a campanha oposicionista.

“Gera (a ação) algum tipo de solidariedade, mas não necessariamente algum tipo de apoio eleitoral massivo. Ainda que Villa cresça, não cresce de modo que ameace o êxito eleitoral de Morales”, avalia, acrescentando que já há algum sentimento de vitimização da oposição pelo fato de o vice de Villa, Leopoldo Fernandez, estar preso sob acusação de ordenar massacres no departamento que governava, Pando.

Cordero acredita que o presidente não conseguirá garantir dois terços das cadeiras no Legislativo, o que por si só significa um fracasso parcial de uma campanha em que muito se investiu para atingir essa meta. Por isso, Morales tem reforçado sua presença em Santa Cruz de la Sierra na tentativa de reverter sua situação desfavorável em todo o Oriente boliviano, também conhecido como Meia Lua.

“Essa divisão política, que já conhecíamos de antes, de uma Meia Lua que resiste ao governo, se mantém. Cresceu um pouco sua popularidade, é verdade, mas também cresceu o desencanto nos bastiões eleitorais do MAS, e não é possível que Morales sofra uma decepção, por exemplo, em La Paz”, afirma Cordero.

No próximo mandato, ter maioria qualificada é fundamental para o governo, que terá de promover ajustes na nova constituição boliviana. Além disso, caberá ao Legislativo aprovar as listas de nomes indicados para os altos cargos do Poder Judiciário que depois serão submetidos a plebiscitos.

Atualmente, boa parte das altas cortes bolivianas está paralisada por falta de membros. O Tribunal Constitucional, principal fórum de decisão, tem quase dois anos de trabalhos parados porque os magistrados renunciaram, alegando pressões de Morales.

Leia também

Últimas notícias