No primeiro dia de reunião do Copom, CUT reivindica redução de juros

Para sindicalista, quem estipula a taxa de juros no Brasil são os bancos. Central critica política econômica de ajuste fiscal mantida pelo governo federal

O protesto ocorreu na avenida Paulista, na região central de São Paulo (Foto: Dino Santos/ CUT)

São Paulo – No primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) realizou, nesta terça-feira (30), um protesto na avenida Paulista, na região central da capital paulista contra a alta taxa básica de juros da economia. O novo patamar da Selic será anunciado nesta quarta-feira (31).

O presidente da CUT, Artur Henrique, criticou a taxa de juros, que atualmente está em 12,5% ao ano, após cinco altas concecutivas promovidas desde o início do ano. “Não é possível que a gente continue com uma crise internacional acontecendo e o maior juro do mundo sendo praticado. Isso vai contra todas as expectativas: é preciso reduzir os juros no Brasil”, criticou.

Ele reclamou da decisão do governo federal de elevar a meta do superávit primário – economia para pagamento de juros da dívida pública – anunciada na segunda-feira (29). “Não concordamos com a ideia de que é preciso aumentar o superávit primário. Consideramos isso uma incoerência por parte de quem quer manter as políticas sociais”, acrescentou.

A decisão confirmada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, significa que o governo federal deve evitar contrair novas despesas até o fim do ano, o que inclui restrições a aumentos salariais para servidores, por exemplo, além de novos investimentos em infraestrutura. O ajuste fiscal segue uma cartilha de “austeridade” defendida por economistas ligados ao mercado financeiro e por parte da mídia. Em fevereiro, já havia sido anunciado corte de R$ 50 bilhões no Orçamento Geral da União.

O secretário de finanças da CUT, Vagner Freitas, também rechaçou a política econômica praticada pelo governo federal, qualificando como “excrescência” a taxa de juros atual. “Este governo tem transformado o Brasil, primeiro com o ex-presidente Lula, agora com a Dilma, mas algumas questões, como a elevação do superávit primário e o ajuste fiscal, precisam ser alteradas urgentemente”, explicou Freitas.

A presidenta Dilma Rousseff disse, nesta terça-feira (30), em visita ao estado de Pernambuco, que foi para permitir a diminuição da taxa de juros que o Executivo decidiu intensificar o ajuste fiscal. Ela prometeu ainda manter como diretriz de enfrentamento à crise internacional a valorização do mercado interno.

Artur ressalta que o alvo principal da crítica é o Banco Central e criticou a forma como o Copom estabelece a taxa Selic. Para ele, quem estipula a taxa de juros são os bancos. “O Banco Central faz uma série de pesquisas com o chamado mercado financeiro para avaliar as expectativas do mercado. Eu sou presidente de uma central sindical que tem sete milhões de trabalhadores (filiados a sinditados associados) e nunca me perguntaram, nem por telefone, qual era a expectativa da CUT e dos nossos sindicatos”, ironizou.

Tanto para Artur quanto para Vagner a taxa de juros ideal para o ano seria a mesma praticada pelos países desenvolvidos, rondando os 2% em termos reais (descontada a inflação). Algumas nações mantém taxas negativas em termos reais. Segundo cálculos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), o equivalente a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é gasto com o pagamento de juros da dívida interna.

Campanhas salariais

Prevendo que uma possível diminuição na taxa de juros possa servir de álibi para os bancos recusarem aumento real para o funcionários, a presidenta do Sindicato dos Bancário de São Paulo, Juvândia Moreira Leite, ressaltou que essa explicação é descabida, pois os banqueiros têm lucros exorbitantes independentemente da taxa de juros. “Não temos condições de fechar uma negociação sem aumento real para o setor que mais lucra no Brasil”, explicou.

Na mesma linha, o presidente da CUT falou da necessidade de reajuste salarial maior do que a inflação também para trabalhadores da indústria. “Para fortalecer o mercado interno é preciso ter renda, salário, políticas públicas e sociais. Não podemos ter parte do governo dizendo que esse não é o momento para pedir aumento salarial”, afirmou Artur.

Sardinhada

Em Brasília, um churrasco de sardinhas marcou o protesto em frente ao Banco Central. O ato foi realizado pela Força Sindical. “A sardinha representa a comida do trabalhor pobre, mas queremos mostrar que não queremos só isso, queremos também a boa comida que os poderosos comem”, disse o presidente da Força Sindical em Brasília, Epaminondas Lino de Jesus.

Com informações da Agência Brasil

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