SP: demolições na Luz já preocuparam até o compositor Adoniran Barbosa

Cantor deu voz à dor de quem perde o teto na capital paulista

O sambista e compositor Adoniran Barbosa, em cena do filme “A Carrocinha” (Foto: ©Acervo Adoniran Barbosa)

São Paulo – “Nem nóis nem pode se alembrá /  Veio os homi cas ferramentas /

O dono mandô derrubá / Peguemo todas nossas coisas / E fumos pro meio da rua “

Na década de 1950, as demolições na Luz e a situação dos moradores já eram motivo de  preocupação. O cantor e compositor Adoniran Barbosa morou na rua Aurora e teria ficado muito triste ao ver o casarão em que amigos moravam ser demolido. O sentimento o levou a compor Saudosa Maloca.

“O Adoniran cria Saudosa Maloca, de acordo com o que ficou para a história, numa caminhada dele com seu cachorrinho Peteleco. Aí ele viu que o casarão abandonado em que moravam alguns amigos estava em demolição para a construção de um novo prédio. Os amigos não estavam mais lá. Aí ele criou Saudosa Maloca”, descreveu Celso de Campos Junior, biógrafo do cantor, em entrevista à Rede Brasil Atual.

“… No dia em que começou a demolição do casarão cheguei lá e nunca mais vi nenhum dos meus amigos. Sumiram, fiquei triste e tive a ideia de fazer um samba pra eles”, contou o próprio Adoniram, como retratou Campos Junior no livro Adoniran – Uma biografia. O casarão a que o cantor se refere ficava na rua Aurora, 522.

Desde 2010, as demolições voltaram a preocupar moradores e trabalhadores da região, com o projeto Nova Luz, que pretende revitalizar a área, mas enfrenta a oposição de lojistas e moradores.

A falta de diálogo e de transparência no projeto são as principais críticas à proposta de revitalização da prefeitura de São Paulo. “O secretário (Municipal de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem)  não responde nossas perguntas. Se ele sabe o que vai ser feito, está escondendo e a gente vai lamentar muito se for isso”, diz Joseph Hanna Fares Riachi, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas. 

Duarte Maurício Fernandes, proprietário da cinquentenária Casa Aurora, critica a característica de especulação da Nova Luz. “A prefeitura enxerga a região da Luz com cifrão nos olhos”, dispara. “Isto é mais do que um negócio, é a vida da minha família e mais de 60 pessoas”, diz Fernandes.

Os funcionários da Casa Aurora, ainda lembram da presença de Adoniran no bairro. “O que se sabe da época é que ele ficou inconformado com a derrubada de casas antigas para construção de prédios novos”, recorda Paulo Bezerra da Silva.

“O que o Adoniran conta naquela época retrata uma realidade que está aí há 60 anos. Saudosa Maloca é da década de 1950 e nada mudou”, analisa Campos.

A preocupação de Adoniran com moradia também foi expressa em Despejo na favela.

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