Triagem de materiais eletrônicos aumenta renda de catadores

Curso ensina catadores a separar materiais, garante proteção à saúde e melhora na renda

Catadores passam duas semanas aprendendo a desmontar e separar sucata eletrônica (Foto: Jaílton Garcia)

São Paulo – Ferro, alumínio, cádmio, fósforo, chumbo, mercúrio, cobre, ouro, platina, cobalto. Pouca gente sabe que o interior do computador e de periféricos como impressora, teclado e mouse contêm metais comuns, preciosos e até perigosos. A separação de componentes e de materiais presentes em equipamentos sem uso, conhecidos como lixo ou sucata eletrônica, pode se transformar em renda para catadores e cooperativas ou máquinas reformuladas para quem não pode comprar um microcomputador novo.

Vendidos como sucata, os eletrônicos valem pelo quilo de equipamento, que custa por volta de R$ 0,25 a R$ 0,30. Quando são comercializados separadamente, de acordo com o tipo de material – plástico, metais, placas mães, circuitos – eles podem valer de R$ 8 a R$ 180, detalha Carlos Alberto Conde Regina, do Instituto GEA – Ética e Cidadania.

Em conjunto com o Laboratório de Sustentabilidade da USP (Lassu), o instituto mantém o Projeto Eco-Eletro, cujos cursos ajudam os catadores a conhecerem o funcionamento dos computadores, os componentes e o que pode ser reaproveitado ou nem sequer tocado, como é o caso dos monitores. Por terem grande quantidade de chumbo em seu interior, esse tipo de equipamento não deve ser desmontado nem quebrado porque representa risco à saúde de pessoas e ao meio ambiente.

“Como sucata comum, eletrônicos de dez quilos resultavam em R$ 2 e pouquinho. Com o curso, aprendendo a desmontar, saber o que é placa leve, placa pesada, quanto vale uma placa mãe, um computador que saía por R$ 2 passa para R$ 12 ou bem mais”, aborda Carlos. “O lixo eletrônico é caro e é bem procurado porque tem grande quantidade de materiais nobres, como ouro.” Itens mais valorizados como processadores podem chegar a R$ 180 o quilo.

Segundo ele, grandes empresas especializadas em lixo eletrônico compram materiais em todo o Brasil, armazenam até terem grandes quantidades e exportam para países que fazem a reciclagem, como os da Comunidade Europeia, os Estados Unidos e a Dinamarca. Pilhas, baterias de celulares, lâmpadas e monitores já são reciclados no Brasil. Mas outros componentes, como as placas mãe, ainda são enviados para empresas de outros países para reaproveitamento das partes ou reciclagem para originar novos produtos.

Reúso

Outra investida do curso voltado a catadores e cooperativas é ensinar os participantes a testar os equipamentos, antes de desmontá-los. O diagnóstico da situação dos eletrônicos evita o descarte prematuro das máquinas. Uma fonte de computador, por exemplo, é habitualmente vendida por R$ 0,50 mas se estiver funcionando, além de não ser enviada à reciclagem, pode ser comercializada por R$ 10, contabiliza Carlos. “O conhecimento de informática muda muito os valores da sucata”, destaca.

separação de componentes

A falta de conhecimento sobre o funcionamento das máquinas também leva usuários a encaminhar computadores em bom estado, às vezes até novos, ao Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP. “Falta formação e informação”, diz a professora Tereza Cristina Carvalho, coordenadora geral do Lassu.“Entra vírus no computador e as pessoas não sabem o que é e levam para o Cedir. Aí não tem mais o que fazer, porque já compraram outro. Bom para o projeto social que vai receber, mas…”, detecta a especialista.

Paulo Garcia, comerciante de materiais eletrônicos, chama atenção para o lado social da reutilização de equipamentos considerados antigos. “O reúso permite a inclusão digital”, conceitua. “Centenas de milhares de computadores são revisados e vendidos para pessoas que não podem pagar R$ 1 mil por um micro novo, mas têm R$ 300 para comprar um equipamento em boas condições”, avalia.

Informática para catadores

De iniciativa do Instituto GEA e do Lassu, o projeto de reciclagem de eletrônicos “Eco-Eletro” preparou em julho a quarta turma de catadores. Durante duas semanas, eles aprendem a manipular equipamentos com segurança e a fazer a triagem de detritos eletrônicos. As aulas são ministradas por professores do GEA, do Cedir e ex-alunos da USP.

Nas duas semanas seguintes, os monitores do GEA vão às cooperativas participantes para auxiliar na implantação da separação dos componentes eletrônicos. “Estamos tentando fazer com que estoquem os materiais para vender em rede num dia só, todos juntos, para um comprador. Isso valoriza muito mais o preço”, anuncia Carlos. Para Mariana, a principal preocupação do curso é a segurança dos catadores. “Eles estão expostos a um grande perigo”, detecta.

O projeto tem duração prevista de um ano e meio, com uma turma nova a cada mês e é gratuito.

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