Militantes querem debater com Dilma Comissão da Verdade

Audiência marcada para quinta-feira passada foi cancelada, e expectativa é ter nova oportunidade para expor à presidenta argumentos favoráveis a um debate mais aprofundado sobre o tema

São Paulo – Integrantes de grupos que resistiram à ditadura querem audiência com a presidenta Dilma Rousseff para debater a criação da Comissão da Verdade. A Comissão de Familiares de Mortos e Desparecidos e o Coletivo de Mulheres pela Vida e pela Verdade não concordam com a tramitação em caráter de urgência-urgentíssima que o Palácio do Planalto deu ao texto no Congresso.

A primeira tentativa de conversa, marcada para a semana passada em Brasília, foi cancelada pela assessoria de Dilma, que não confirmou nova data. Os militantes esperam ser recebidos em breve no Palácio do Planalto, já que parte da base aliada trabalha com a possibilidade de aprovar o texto antes do recesso, marcado para a segunda quinzena de julho.

“A Comissão da Verdade vem tardiamente para o Brasil. Foi entregue o projeto de lei em maio de 2010. Por que agora tem de colocar urgência-urgentíssima?”, indaga Amelinha Almeida Telles, da Comissão de Familiares. Ela quer saber de Dilma qual a orientação quanto à possibilidade de alteração do texto e de um debate aprofundado. “Queríamos que houvesse alterações principalmente com relação à composição da comissão, que tivesse critérios mais transparentes para garantir que militares não participassem.”

Além disso, os militantes, muitos deles companheiros de luta de Dilma, querem que a comissão tenha mais integrantes que os sete previstos inicialmente. Outro ponto que gostariam de definir é a redução do período a ser investigado. Sob pressão dos militares e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, o então presidente Lula aceitou deixar um prazo mais aberto para apuração, sem que os trabalhos ficassem circunscritos ao período ditatorial. 

Esses grupos pretendem que as reuniões da comissão sejam abertas e televisionadas e que, ao fim dos trabalhos, seja elaborado um relatório que apresente os nomes dos agentes envolvidos na repressão, tarefa que pode ajudar a balizar o trabalho do Judiciário caso se decida julgar esses crimes.

Os militantes devem aproveitar a reunião com Dilma para pedir que não recue quanto ao projeto que visa a dar fim ao sigilo eterno de documentos públicos. Na última semana, os ex-presidentes da República Fernando Collor e José Sarney conseguiram que o governo retirasse o caráter de urgência sobre o texto, já aprovado na Câmara. O Executivo deve orientar sua base a votar a versão apresentada em 2009 pelo Executivo, que deixa aberta a possibilidade de renovação indefinida de arquivos classificados como ultrassecretos.

“Temos de romper isso e abrir os arquivos militares. Nós, familiares, fizemos o possível e o impossível para achar respostas. Precisamos de uma iniciativa do Estado brasileiro, que ninguém substitui nesta ação, para abrir de uma vez os arquivos porque ali está a resposta”, pondera Amelinha.

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