Reabertura do inquérito sobre Riocentro é imprescindível, diz OAB-RJ

Há provas suficientes para recomeçar a investigação. Detalhes da agenda de um dos envolvidos na explosão, descobertos neste ano, são apenas a leva mais recente das evidências reveladas

Cartaz de divulgação do show musical em comemoração ao 1º de Maio de 1981, no Riocentro (Foto: ©Raphael Garcez/Wikipedia)

São Paulo – Há evidências suficientes sobre o envolvimento de militares no atentado do Riocentro, no Rio de janeiro, em 1981, para a reabertura do processo. Para Wadih Damous, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), a investigação é imprescindível e deveria ser reiniciada imediatamente. O episódio completa 30 anos neste sábado (30) – uma bomba seria lançada naquele centro de exposições durante um show musical que marcava as comemorações pelo 1º de Maio.

As provas as quais Wadih Damous refere-se foram divulgadas pelo jornal O Globo, no domingo (24), em reportagens que revelaram o conteúdo da agenda telefônica de um dos militares envolvidos no atentado: o sargento Guilherme Pereira do Rosário. Com base nas anotações, a reportagem revela nomes que, cruzados com dados da época, formaram uma rede de pessoas que fariam parte de grupos de tortura e espionagem clandestinos. São militares que, atualmente, mantêm vínculos com empresas de segurança.

“Defendemos a reabertura do processo do Riocentro e estamos estudando para que a própria OAB entre com pedido de reabertura do inquérito. Os novos fatos trazem relações muito importantes”, defende Damous. O presidente da OAB-RJ lembra que entidade que também sofreu atentado com explosão de carta-bomba, em 1980, em condições semelhantes

O atentado no Riocentro era pra ser mais um dos crimes cometidos contra civis, mas acabou se tornando símbolo dos atentados durante a ditadura militar por ganhar repercussão internacional. O episódio completa três décadas com muitas interrogações sobre a conclusão do inquérito.

A possível farsa do atentado, o embaraço nos fatos noticiados pela imprensa, o arquivamento e as frustradas tentativas de reabertura e punição marcaram o período posterior ao acontecimento. O Exército nunca admitiu qualquer envolvimento.

Cecília Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, pondera que é fundamental investigar este e outros casos como forma de assegurar que o Brasil conclua a transição para a democracia. Ela lamenta que o país se encontre atrasado em termos da chamada justiça de transição, já levada a cabo por Argentina, Chile e Uruguai, países que viveram sob regimes autoritários em diferentes momentos entre as décadas de 1960 e 1980.

“A questão do Riocentro e de outros atentados de autoria da extrema direita já no fim da linha da ditadura tem muito a ver com o que está acontecendo ainda hoje, uma parcela de militares, saudosistas da ditadura e conservadores, que foram retirados um pouco do centro do poder até hoje reclamam”, avalia Cecília.

Indefinições

Na noite de 30 de abril de 1981, enquanto um evento comemorativo ao 1º de maio, Dia do Trabalhador, era realizado no pavilhão de exposição do Riocentro, na zona oeste carioca, uma bomba explodia em um carro estacionado nas proximidades do local. Assim foi o episódio, um dos mais emblemáticos do regime militar, que ocasionou uma infinidade de dúvidas e questionamentos sobre os responsáveis pela explosão. E, também, os motivos que levaram a tal ato.

Segundo artigo da historiadora Priscila Antunes, intitulado “Bomba no Riocentro: os militares e outras memórias”, parte da decisão de desistir da apuração do processo deve ser atribuída à oposição, à época do atentado, como forma de garantir o  processo de transição, que seria concluído quatro anos mais tarde.

A investigação foi feita na alçada da Justiça Militar, com denúncias de manipulação de provas, foi arquivada em setembro de 1981. A reabertura do caso foi feita em 1999 e, passados três meses, resultou no indiciamento de alguns dos acusados, como o coronel Wilson Machado, que estava carro junto ao sargento Guilherme do Rosário, mas nunca cumpriu pena.

Colaborou João Peres

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