Ciberativismo foi responsável pela suspensão do Sopa, diz diretor do Wikimedia

Enciclopédia online Wikipedia saiu do ar durante 24 horas em janeiro em protesto contra projeto, que foi retirado de votação no Congresso americano para 'rever abordagem no combate à pirataria'

Kul Wadhwa: há uma revolução acontecendo (Foto: Cristiano Sant´Anna/indicefoto.com)

São Paulo – Arquivados ao final de janeiro pelo Congresso americano, as propostas de lei Stop Online Piracy Act (Sopa) e Protect Intelectual Property Act (Pipa) – que tratam sobre o fechamento de sites que violariam a propriedade intelectual – só foram suspensas por conta do maciço protesto dos ciberativistas, avalia Kul Wadhwa, diretor gerente da Wikimedia Foundation, que dá suporte à enciclopedia online Wikipedia. Em 18 de janeiro, o site saiu do ar durante 24 horas em protesto contra a lei antipirataria, que abriria, segundo eles, portas à censura.

“Esta é a primeira vez que a tecnologia tem o papel principal na mudança da opinião dos que legislam”, afimou Wadhwa, durante palestra no evento de tecnologia Campus Party, que ocorre desde segunda-feira (6) em São Paulo. Antes da onda de protestos na rede, que mobilizou também outras centenas de sites (como o Google e Facebook, que seriam diretamente afetados) e blogs, cerca de 80 congressistas apoiavam o Sopa/Pipa, ante 31 que se opunham. Após esses eventos, os que se colocaram contra somaram 101 – com os indecisos, não incluídos anteriormente –, ante 65 de apoio.

Outro tipo de projeto, o Anti-Counterfeiting Trade Agreement – Acta (ou Acordo Comercial Anti-Falsificação), também pode ameaçar o espaço livre da internet, segundo  Wadhwa. Suas diretrizes criminalizam a troca não comercial de arquivos pela internet, permitem intervenção na comunicação pessoal para se vigiar o que está sendo trocado e estabelecem penas para os supostos infratores. O Brasil declarou no ano passado, por meio do Itamaraty, que não irá aderir, ao contrário de países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Marrocos, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia, que já assinaram o Acta.

O espaço que se dá para projetos como o Sopa e Pipa só existe por conta do apoio que os países demonstram a esse tipo de repressão, segundo Wadhwa. “Temos de estar ativos na
discussão e trazer à tona isso, achar um jeito de mostrar a eles que não é dessa forma que irá funcionar.”

De acordo com  Wadhwa, o governo americano está tentando controlar a privacidade dos usuários, além de querer impor a censura da produção e compartilhamento na rede. “Existe uma revolução acontecendo aqui, que envolve pessoas, tecnologia e motivação para protestar. Todos deveriam escolher como compartilham ou fazem as coisas na internet, sem cerceamento”, disse. O sentimento de alguns usuários de internet, depois de o Sopa ser divulgado na mídia, é de receio de compartilhar, segundo Wadhwa.

A proposta, que seria votada em 24 de janeiro, foi postergada pelo líder democrata do Senado norte-americano, Harry Reid, com a observação de que ela deveria rever sua abordagem de combate à pirataria. Lamar Smith, deputado republicano, disse ter abandonado o projeto até que haja acordo. No entanto, na mesma semana dos protestos, o site de compartilhamento de arquivos Megaupload foi fechado, e seus fundadores, presos. A operação foi feita pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), por considerar que o site fazia parte de uma “organização delitiva”, responsável por uma rede de pirataria mundial.

O grupo de hacker Anonymous fez a retaliação, atacando sites governamentais.

Apoio à causa

O diretor do Wikimedia Fondation revelou que a próxima aposta será incluir crianças para o espaço colaborativo, com uma nova ferramenta chamada “Collabkit“. Para ele, quanto mais cedo o individuo se incorporar às causas do que produz mais a rede terá chances de continuar livre no futuro. “Se você quiser começar a fazer o ciberativismo, faça. Também temos de ensinar as crianças sobre a importância disso desde cedo, porque elas também têm influência”, disse.

Wadhwa contou ter iniciado seu interesse pelo compartilhamento na rede logo enquanto ainda era calouro na universidade. Ele e seu colega de quarto filmavam suas rotinas e colocavam na web. “Algumas pessoas descobriram isso e fecharam o site. Hoje, comigo, não é muito diferente”, afirmou o diretor, referindo-se às críticas sobre a manutenção de uma enciclopédia aberta e colaborativa. “Antes, o acesso à biblioteca era restrito, e o controle, na mão de poucos. O Wikipedia quebrou esse paradigma.”

O site conta atualmente com cerca de 700 mil artigos sobre diversos assuntos. Os brasileiros ainda são considerados passivos quanto à inserção de novos dados, com 2%. A média global é de 6%.