Necropolítica

Queiroga banaliza morte ao postegar vacina em crianças, diz especialista

Postura do ministro da Saúde, que nega urgência da imunização infantil contra covid-19, causou pedido de sua expulsão da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Reprodução Youtube/DW News
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A vacina contra a covid-19 já é aplicada em crianças de 39 países

São Paulo – O ministro da Saúde Marcelo Queiroga continua alvo de críticas de especialistas por negar a urgência da aplicação da vacina em crianças. Em entrevista ao Seu Jornal, da TVT, o sanitarista Túlio Franco disse que o ministro “banaliza o sofrimento e a morte”, quando diz que não há urgência em vacinar crianças (assista). “A morte de uma só criança já justificaria a vacina. Mas quando temos 1.148 crianças mortas a urgência se justifica. Não podemos banalizar a morte de crianças por covid”, afirmou o especialista. Franco dirige o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integra a Rede Unida e a Frente pela Vida.

O sanitarista pondera ainda que os números, apesar de fornecidos pelo sistema de registro de mortalidade do Ministério da Saúde, estão defasados. Portanto, é preciso proteger as crianças, diz, destacando que a imunização é uma ferramenta para reduzir a mobilidade do novo coronavírus e suas variantes. Desse modo, reduzindo a possibilidade de infecção. “Para isso é preciso que 95% da população esteja vacinada. Mas enquanto as crianças não estiverem vacinadas, os vírus vão continuar circulando e produzindo variantes, o que é um risco para toda a população”.

Na mesma reportagem, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Raphael Guimarães criticou a demora de um calendário de vacinação, a exemplo do que o governo fez em 2020. “Tivemos demora no início da vacina, demora para expandir para as outras faixas etárias e agora demora para começar entre as crianças. A imunização infantil já começou em vários países”, afirmou.

Atrapalhar e atrasar a imunização

O pesquisador criticou a atitude do governo de atrapalhar e atrasar a imunização, usando argumentos sem sustentação científica sobre possíveis efeitos colaterais causados pelos componentes da vacina em crianças. Tanto que o governo quer que a aplicação seja feita somente mediante à apresentação de prescrição médica e de termo de autorização assinado pelos pais. E abriu uma consulta pública, que se encerra no próximo dia 5, para supostamente conhecer a opinião da população sobre o tema.

vacina em crianças

“Infelizmente, essa atitude nova do governo não é inesperada. Vem ao encontro de todo atraso e negação da ciência que esse governo adota deste o início da pandemia. A fiocruz acredita que a vacinação infantil deve contribuir com o aumento da cobertura vacinal da covid no Brasil. O problema é que o governo, com suas ações e discursos, atrapalha o processo de imunização”, disse Guimarães.

O professor Dirceu Greco, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é crítico ferrenho da conduta de Queiroga. Em entrevista nesta terça-feira (28) à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual (confia aqui), ele chamou atenção para o fato de o governo se manter negacionista mesmo em um ano difícil. O Brasil registrou 425 mil mortes devido a complicações da covid-19 somente em 2021. “Vivemos tudo isso enquanto milhares de pessoas sofrem a perda de pais, mães, filhos, avós.”

Pressão pela vacina em crianças

Greco integra a Rede pela Vida, um dos grupos mais fortes na defesa da imunização. Ele destaca que agências sanitárias da Europa e Estados Unidos emitiram parecer positivo para o uso dessa vacina para crianças de 5 a 11 anos. Isso com base em ensaio clínico randomizado controlado por placebo em que mais de 3 mil crianças nesta faixa etária receberam a dose. O resultado atestou que a vacina é segura para crianças e adolescentes.

O professor lembrou ainda que, no Brasil, várias entidades especializadas são favoráveis à vacina para crianças entre 5 e 11 anos e contrários à consulta pública. Entre elas as sociedades brasileiras de Imunologia (SBI), de Pediatria (SBP) e de Imunização (SBIm). “Todas entendem que os benefícios da vacinação na população de crianças de 5 a 11 anos no contexto atual da pandemia. superam os eventuais riscos associados à vacinação.”

Ontem (27), o ministro Marcelo Queiroga até tentou dar uma amenizada na situação. E informou, por meio de nota, que o Ministério da Saúde é favorável à vacinação, que pode inclusive ter início em janeiro. Mas não funcionou. O médico cardiologista Bruno Caramelli formalizou pedido de expulsão de Queiroga dos quadros da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Caramelli, que é presidente do Departamento de Cardiologia Clínica da SBC e diretor no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Incor), todos na entidade ficaram horrorizados com o fato de o ministro sugerir uma consulta pública para iniciar a vacinação contra a covid em crianças.


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