Ressurreição

Leonardo Boff, pandemia e Páscoa: ‘Temos que tirar lições. Não pode ser como antes’

Teólogo falou sobre a simbologia da Páscoa em tempos de pandemia e criticou a condução do combate à covid-19 por Bolsonaro. “Temos um presidente que faz uma necropolítica, uma política que produz morte”

Reprodução/TVT
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São Paulo – O teólogo e escritor Leonardo Boff usou a simbologia da Semana Santa, que termina no dia da Páscoa, mais importante celebração litúrgica do calendário cristão, para fazer uma analogia com a atual situação do Brasil e da maior parte do mundo com a pandemia do coronavírus.

“Não estamos na Páscoa, e sim na Sexta-Feira Santa, porque a Terra está crucificada. A humanidade está sendo flagelada. Tudo isso nos faz pensar muito”, afirma, em entrevista a Glauco Faria e Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual. “Pela primeira vez na nossa história recente estamos em uma espécie de guerra global. As guerras são sempre regionais, agora não, atacou o planeta Terra”, compara, em referência ao coronavírus.

Segundo Boff, a partir da superação da pandemia, as pessoas precisarão mudar a forma de interagir com a natureza, alterando seu próprio modo de vida. “Nossa esperança é que nós ressuscitemos, que esse vírus possa ser contido, expulso, destruído, e daí poderemos voltar à vida. Mas uma vida nova. Porque não basta simplesmente, como em Lázaro, uma reanimação da nossa vida, que volte a como era antes”, pontua.

“Ressurreição é uma mudança, o nosso corpo fica transfigurado. As Escrituras falam que nascem um homem e uma mulher novos pela ressurreição. Essa Semana Santa é de reflexão sobre a nossa vida, nosso futuro, nossa relação com a natureza, porque esse vírus é parte da natureza e veio dela. E se elaborarmos uma outra relação, mais amigável, mais amorosa, mais em sintonia com a natureza, e não uma relação de utilização e agressão dela, se fizermos isso, aí sim vamos ressuscitar”, defende. “Temos que tirar lições da pandemia. Não pode ser como antes.”

Bolsonaro e a cultura da morte

O teólogo também critica a forma como o presidente Jair Bolsonaro tem conduzido o combate ao coronavírus no Brasil, em especial quando minimiza os riscos da covid-19.

“A morte faz parte da vida. Mas a morte produzida, um assassinato, a consequência de uma agressão, isso é o que devemos evitar. E temos um presidente que faz uma necropolítica, uma política que produz morte, porque os cortes que ele fez nas políticas sociais – sua vontade, e de uma grande parte de políticos e grandes empresários, de privatizar o SUS –, tudo isso é tirar aquilo que poderia salvar o povo”, diz.

De acordo com Boff, é preciso ter como principal preocupação o bem estar das pessoas. “A primeira função do Estado é cuidar da vida do seu povo, não cuidar das finanças, do mercado. Primeiro, a vida; depois, os instrumentos da vida. Um cadáver não colhe, não planta. Precisamos chamar a vida”, afirma. “Ele preferia as fábricas abertas, e o povo que se lasque. É uma pessoa irresponsável, um paranoico no sentido de ter uma ideia fixa, de ver conspiração em todos os lados, e de não saber priorizar as coisas.”

” (Bolsonaro) É um homem a quem falta coração. Precisa ter coração, sentir a dor do outro. Colocar-se no lugar do outro”, finaliza.


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