Começa hoje

Ocupação traz o cidadão, jornalista e quase cineasta Vladimir Herzog

Mostra revela aspectos menos conhecidos da trajetória de Vlado, morto pela ditadura em 1975. Exposição em São Paulo vai até 20 de outubro

Instituto Vladimir Herzog
Instituto Vladimir Herzog

São Paulo – Vlado Herzog nasceu em 27 de junho de 1937 em Osijek, na então Iugoslávia, hoje uma cidade da Croácia. Adotou o “Vladimir” no Brasil, para facilitar o entendimento dos interlocutores. Sua família veio para cá no pós-guerra, desembarcando no porto do Rio de Janeiro no final de 1946. A exposição que será aberta na noite desta quarta-feira (14), em São Paulo, busca mostrar a trajetória de Vlado, ou Vladimir, ou Herzog – não apenas o jornalista de carreira brutalmente interrompida em 25 de outubro de 1975, nas dependências do DOI-Codi paulista. No ano passado, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pela morte de Vladimir Herzog.

“Uma curadoria inédita que buscou a essência sobre quem foi o cidadão Vladimir Herzog”, diz Ivo, responsável pelo instituto que leva o nome do pai, uma organização dedicada a promover iniciativas ligadas aos direitos humanos. A chamada Ocupação Vladimir Herzog começa hoje e vai até 20 de outubro, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149), com entrada gratuita e aberta de terça a domingo.

Depois de trabalhar em veículos como o jornal O Estado de S.Paulo, a BBC de Londres e a revista Visão, Herzog era diretor de Jornalismo da TV Cultura quando foi assassinado, depois de se apresentar para interrogatório, na manhã de um sábado. Sua morte tornou-se símbolo de resistência e de mobilização pela democracia. Apenas três meses depois, o metalúrgico Manoel Fiel Filho morreu no mesmo local. A Ocupação busca mostrar outros aspectos, menos conhecidos, da vida de Vlado, como uma incipiente carreira cinematográfica.

Em 1963, ele dirigiu um curta-metragem, Marimbás, e produziu outro curta, Subterrâneos do Futebol, de Maurice Capovilla, em 1965. Herzog também começou a escrever o roteiro do filme Doramundo, dirigido por João Batista de Andrade e vencedor do Festival de Gramado (RS) em 1978 – Andrade faria, em 2005, um documentário sobre Herzog. Marimbás será exibido na mostra, que terá também visitas educativas, em três idiomas.

Em entrevista na manhã de hoje para a Rádio Brasil Atual, o produtor cultural Luis Ludmer, cocurador da mostra, lembra que os pesquisadores passaram vários meses se debruçando sobre o acervo. “A gente queria entender quem foi Vladimir Herzog, e descobrimos muta coisa”, diz, citando o curso que ele fez com o sueco Arne Sucksdorff na Cinemateca do Rio de Janeiro, além de fotografias e correspondências. “O Vlado era um jornalista primoroso, não só redator, mas um editor que marcou a geração dele”, diz Ludmer aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas. “Essa ocupação é uma aula sobre o jornalismo brasileiro dos anos 60 e 70 e também do documentário social.”

Na pesquisa para a mostra, foi descoberto um princípio de roteiro para um filme que Herzog planejava fazer sobre Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no sertão da Bahia. A exposição traz páginas com esboços de argumento e fotos da viagem que o jornalista fez até o local.