Ocupação traz o cidadão, jornalista e quase cineasta Vladimir Herzog
Mostra revela aspectos menos conhecidos da trajetória de Vlado, morto pela ditadura em 1975. Exposição em São Paulo vai até 20 de outubro
Publicado 14/08/2019 - 14h34
São Paulo – Vlado Herzog nasceu em 27 de junho de 1937 em Osijek, na então Iugoslávia, hoje uma cidade da Croácia. Adotou o “Vladimir” no Brasil, para facilitar o entendimento dos interlocutores. Sua família veio para cá no pós-guerra, desembarcando no porto do Rio de Janeiro no final de 1946. A exposição que será aberta na noite desta quarta-feira (14), em São Paulo, busca mostrar a trajetória de Vlado, ou Vladimir, ou Herzog – não apenas o jornalista de carreira brutalmente interrompida em 25 de outubro de 1975, nas dependências do DOI-Codi paulista. No ano passado, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pela morte de Vladimir Herzog.
“Uma curadoria inédita que buscou a essência sobre quem foi o cidadão Vladimir Herzog”, diz Ivo, responsável pelo instituto que leva o nome do pai, uma organização dedicada a promover iniciativas ligadas aos direitos humanos. A chamada Ocupação Vladimir Herzog começa hoje e vai até 20 de outubro, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149), com entrada gratuita e aberta de terça a domingo.
Depois de trabalhar em veículos como o jornal O Estado de S.Paulo, a BBC de Londres e a revista Visão, Herzog era diretor de Jornalismo da TV Cultura quando foi assassinado, depois de se apresentar para interrogatório, na manhã de um sábado. Sua morte tornou-se símbolo de resistência e de mobilização pela democracia. Apenas três meses depois, o metalúrgico Manoel Fiel Filho morreu no mesmo local. A Ocupação busca mostrar outros aspectos, menos conhecidos, da vida de Vlado, como uma incipiente carreira cinematográfica.
Em 1963, ele dirigiu um curta-metragem, Marimbás, e produziu outro curta, Subterrâneos do Futebol, de Maurice Capovilla, em 1965. Herzog também começou a escrever o roteiro do filme Doramundo, dirigido por João Batista de Andrade e vencedor do Festival de Gramado (RS) em 1978 – Andrade faria, em 2005, um documentário sobre Herzog. Marimbás será exibido na mostra, que terá também visitas educativas, em três idiomas.
Em entrevista na manhã de hoje para a Rádio Brasil Atual, o produtor cultural Luis Ludmer, cocurador da mostra, lembra que os pesquisadores passaram vários meses se debruçando sobre o acervo. “A gente queria entender quem foi Vladimir Herzog, e descobrimos muta coisa”, diz, citando o curso que ele fez com o sueco Arne Sucksdorff na Cinemateca do Rio de Janeiro, além de fotografias e correspondências. “O Vlado era um jornalista primoroso, não só redator, mas um editor que marcou a geração dele”, diz Ludmer aos jornalistas Glauco Faria e Marilu Cabañas. “Essa ocupação é uma aula sobre o jornalismo brasileiro dos anos 60 e 70 e também do documentário social.”
Na pesquisa para a mostra, foi descoberto um princípio de roteiro para um filme que Herzog planejava fazer sobre Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no sertão da Bahia. A exposição traz páginas com esboços de argumento e fotos da viagem que o jornalista fez até o local.